3 anos de Plataforma Setor Moveleiro: o que mudou, o que ficou para trás e o que está por vir na indústria e no varejo de móveis?

03 anos Plataforma Setor Moveleiro

Plataforma Setor Moveleiro

O setor moveleiro foi um dos mais impactados pela pandemia, provocando uma verdadeira montanha-russa na indústria e no varejo nos últimos três anos. Três anos, aliás, que marcam justamente o nascimento da Plataforma Setor Moveleiro, que surgiu em abril de 2020, em meio a primeira onda de Coronavírus no Brasil. Tendo como objetivo, portanto, promover o diálogo, a atualização do conhecimento e o compartilhamento de informações estratégicas em meio a um momento de transformações e surpresas constantes, que mais do que nunca exigiram respostas rápidas e assertivas por parte de nossos empresários e profissionais.

O que mudou, o que ficou para trás e o que está por vir após um dos períodos mais abruptos da história em todos os aspectos da vida e dos negócios? É aproveitando a oportunidade dos três anos da Plataforma Setor Moveleiro, que resolvemos colocar em prática o que entendemos como sendo a melhor ferramenta de disrupção em nossa indústria: reunimos grandes nomes do setor para a troca de ideias, pontos de vista e de experiências. 

2020 a 2023: a tal ‘montanha-russa’ no setor moveleiro

De fato, como bem ressalta o presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (ABIMÓVEL), Irineu Munhoz, muito já se falou sobre essa mencionada “montanha-russa” no setor de móveis durante os últimos três anos. 

Se, por um lado, a paralisação das mais variadas atividades econômicas, com o fechamento de fronteiras, lojas e fábricas, especialmente entre os meses de março e abril de 2020, impactou negativamente a todo o setor; por outro, o isolamento social e o “fica em casa” aqueceram e aceleraram a demanda por mobiliário e itens para o lar no segundo semestre do mesmo ano. Período também em que houve uma maior injeção de benefícios financeiros na economia brasileira, culminando no crescimento das vendas de móveis e colchões.

Tudo isso provocando um crescimento em “V”, tão comentado, mas que não pararia por aí.

“O setor teve ciclos positivos. Tem quem fale que o melhor ano foi 2012, outros 2013. O que está fora da curva é justamente o período da pandemia. Tinha gente muito confiante querendo manter aquele ritmo. Quem vendeu 100 não aceitava vender 80, queria subir para 120. Nem sempre, porém, querer é poder”, é enfático Marcelo Cenacchi, diretor geral da Sayerlack Brasil.

Realmente, o consumo no período da pandemia retratava a carência que grande parte das famílias tinham dentro de casa no que tange ao mobiliário. “Por isso resolveram priorizar o seu próprio conforto. O efeito montanha-russa, no entanto, leva a um novo equilíbrio de mercado, infelizmente num patamar de retração, fruto da instabilidade que vivemos em nosso país”, fala Áureo Barbosa, presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá (Intersind).

Bruno Barbieri, presidente do Sindicato das Indústrias da Madeira e do Mobiliário de Linhares e Região Norte do Espírito Santo (Sindimol), também relembra os momentos inesperados de altos e baixos no primeiro ano da pandemia: “Vivemos um início de 2020 de muita apreensão, com muitas demissões e um ambiente de desânimo. Mas a partir do terceiro trimestre, entramos em uma montanha-russa que exigiu de nós muita resiliência, além de uma análise ainda mais criteriosa dos resultados e do novo cenário. Ora com vendas em alta, inimaginável para o momento; outras vezes com vendas baixas logo após os picos”, compartilha. 

Ele completa: “Movimentos que nos direcionaram para uma verdadeira, mas benéfica, ‘paranoia produtiva’, em que nos perguntávamos a todo o momento: ‘e se, e se, e se’. Digo que esse questionamento foi benéfico, porque nos fez evoluir positivamente como gestores, tal foi o desafio de mantermos os nossos negócios fortes durante esse tempo”.

Questão, que como mais uma vez ressalta o presidente da ABIMÓVEL, está intrinsecamente ligada a fatores externos, “tais como restrições econômicas, conflitos internacionais, descompasso na cadeia de abastecimento global, entraves logísticos e diversas incertezas em relação ao futuro, que, por fim, demonstram muita resiliência de nossa indústria em continuar investindo em tecnologia e inovação”, pontua Munhoz. 

Desempenho do varejo e da indústria moveleira durante a pandemia

No varejo, esse aquecimento do consumo de móveis e colchões no segundo semestre de 2020 culminou num crescimento de 11,9% no volume acumulado de vendas de móveis em relação ao ano anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos anos seguintes, diante de uma alta base comparativa, no entanto, vimos recuos de  -1,9% (2021) e -11,1% (2022).

Na indústria, o cenário foi um pouco diferente. No primeiro ano da pandemia (2020), o volume acumulado de produção de móveis experimentou um leve decréscimo de 1,35% (431,6 milhões de peças produzidas no ano, contra 437,5 milhões em 2019), segundo dados levantados pelo IEMI para a ABIMÓVEL. 

Recuo justificado, sobretudo, pela explosão no consumo de móveis e colchões no início do segundo semestre (junho/julho) ter encontrado as empresas com baixos estoques devido à paralisação pontual das fábricas e a interrupção do comércio físico nos meses anteriores. Dessa maneira, tivemos um colapso na cadeia de suprimento, que não conseguiu dar conta da demanda crescente que se estabelecia. Deixando a indústria sem material suficiente para suprir a procura. Ou seja, poderíamos ter produzido ainda mais. 

A retomada

Em 2021, todavia, com pedidos ainda represados, a indústria moveleira nacional reencontrou seu ritmo, quando produziu mais de 443,2 milhões de peças de móveis e colchões. “Tal dinâmica, porém, foi gradualmente desacelerando. Não apenas pelo atendimento da demanda e o retorno das atividades presenciais, mas também diante de uma crise no custo de vida”, aponta Irineu Munhoz. “Com os consumidores enfrentando queda no poder de compra e dificuldade no acesso ao crédito, frente a uma crise inflacionária e altas taxas de juros, que vem impactando em basicamente todas as áreas do viver. Com uma influência ainda maior sobre o preço médio dos móveis, que só em 2022 subiu 18,38%, segundo o IPCA, bem acima da média geral de 5,79%, que já é alta”. 

O movimento ocorreu de Norte a Sul do País. “Fomos beneficiados com o plano do governo de ajudar as empresas com o empréstimo e com a movimentação de dinheiro com o plano emergencial. Passada a crise da pandemia, percebemos a retração da economia”, compartilha Reginaldo Galvão, presidente da Associação dos Fabricantes de Móveis e Artefatos de Madeira da Paraíba (AMAP).

Como resultado, muitos consumidores reduziram seus gastos, especialmente com bens duráveis, como é o caso dos móveis. Passando a priorizar, assim, outras necessidades básicas, sobretudo nas classes sociais mais baixas. Com as vendas de móveis no varejo encerrando 2022 com queda de 11,1% na comparação com 2021. Já na indústria, a queda de produção foi de 16,2%, somando-se 371,6 milhões de peças de móveis e colchões fabricados pela indústria de móveis ao longo do ano passado. 

Esse comportamento também foi observado nas exportações brasileiras de móveis, que embora tenham movimentado um valor superior a US$ 830,7 milhões em 2022 (faturamento 29% superior ao de 2019, no pré-pandemia, por exemplo), é 11,4% inferior ao exportado pelo setor no acumulado de 2021, quando a indústria moveleira nacional alcançou resultados históricos, ao registrar cerca de US$ 938 milhões em faturamento com as exportações, segundo a ABIMÓVEL.

O desarranjo da cadeia produtiva e consequente desabastecimento levou a uma elevação de preços das matérias-primas, serviços logísticos e de nossos produtos jamais vista na história recente. Gerando até hoje efeitos danosos diretamente na capacidade de compra do consumidor e, para a indústria, consequente redução da demanda. Deixando, assim, ociosos os parques fabris com uma redução drástica das margens das operações (…) Podemos dizer que tivemos uma ‘tempestade perfeita’ com os efeitos que serão sentidos pelo menos pelos próximos dois anos”, adiciona o presidente do Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (SIMA), José Lopes Aquino. 

Importante enfatizar aqui, então, que a alta observada na receita da indústria moveleira em 2022, não necessariamente reflete um crescimento substancial no faturamento das empresas. Sendo justificada especialmente pela evolução dos preços devido ao impacto inflacionário no setor ao longo do ano.

Plataforma Setor Moveleiro

Ou seja, num cenário desafiador para todos os envolvidos na cadeia moveleira, desde o fornecimento de matérias-primas à distribuição dos produtos acabados, os empresários vêm tendo de encontrar muito jogo de cintura para absorver o impacto da inflação, na busca por equilibrar os custos de produção e as vendas. 

“Num ambiente com pouco espaço para negociações, contudo, a união do setor, enquanto uma cadeia codependente, é, sem dúvida, a principal alternativa”, reforça o presidente da ABIMÓVEL. “Isso, ainda apostando em tecnologia, inovação, design, sustentabilidade, na digitalização dos negócios e na diversificação de produtos para se adequar às rápidas mudanças de mercado promovidas pela pandemia e atender às demandas de consumidores mais exigentes.”

E foram justamente estas as mudanças propostas pela Plataforma Setor Moveleiro. Reunindo uma equipe heterogênea e multidisciplinar, composta por profissionais com décadas de experiência no setor moveleiro dentro e fora do Brasil, o objetivo foi sempre o de propor, de maneira colaborativa, reflexões e insights na busca do desenvolvimento saudável e contínuo de um dos setores mais importantes para o viver. 

“Num contexto em que a tecnologia e o colaborativismo são o DNA definidor dos novos modelos de negócios e transmissão do saber, nossa plataforma floresceu em um dos terrenos mais férteis para a conexão entre pessoas: a Internet. Seja do escritório, dos lares, de um café ou do aeroporto, o conteúdo e as soluções do Setor Moveleiro estiveram e estarão sempre ao alcance”, explica Carlos Bessa, CEO e fundador da Plataforma Setor Moveleiro. Ele complementa que essa acessibilidade deve ser objeto de preocupação e aplicação também no comércio de móveis. 

De fato, a digitalização — seja das vendas com o e-commerce ou a automação para o ganho de competitividade — foi e continuará sendo uma das principais e mais impactantes transformações desse período. O que, se de certa forma foi desafiador e até mesmo custoso para as empresas se adaptarem, será crucial para o futuro dos negócios num mercado cada vez mais exigente e conectado. Ou seja, aplica-se a velha máxima: transformar crises em oportunidades. 

“Nesse cenário, o setor moveleiro foi desafiado a entender e diversificar reas vendas em multicanais. Isso trouxe ao mercado uma dinâmica maior em seus portfólios, em conjunto com uma adequação e melhoria de produtos. Apesar de ainda vivermos de picos de vendas, acredito que hoje temos produtos melhores, design mais atualizado e entregamos uma experiência mais aprimorada ao consumidor final”, opina Paulo Freitas, Diretor Comercial de Indústria e Revenda da Eucatex, Paulo Freitas.

E o futuro? 

Quando falamos do futuro, se há outros pontos comuns ressaltados por todos os nossos entrevistados, esses são o otimismo e a resiliência do empreendedor brasileiro. “Nós, brasileiros, por definição, somos otimistas. O empreendedor sempre acha que tudo é possível”, fala novamente o diretor geral da Sayerlack, Marcelo Cenacchi.

Mas ele reforça: “O mercado está mais seletivo: as coisas estão mais difíceis e complexas, a informação chega mais rápido para todo mundo, a tecnologia também. Se todos estão melhor informados, a concorrência aumenta. Mas quem consegue se diferenciar e absorver bem o conhecimento, transformando-o em vantagem para o negócio ou a cadeia para a qual trabalha, se beneficiará disso. Todos os dias o mercado está falando algo para nós. Podemos, porém, não escutar ou não saber interpretar.”

Mas, claro, os empreendedores não remam sozinhos. “Olhando para o futuro, acredito que o setor moveleiro precisa continuar se adaptando às mudanças do mercado, investindo em tecnologia, inovação, sustentabilidade e qualificação profissional. No entanto, é fundamental também manter o diálogo com as entidades do setor, o governo, a imprensa e outras instituições para buscar políticas públicas que incentivem o crescimento da nossa indústria e garantam um ambiente favorável aos negócios”, aponta Carlos Bessa. 

“Políticas públicas e incentivos fiscais, como a manutenção da redução do IPI [Imposto sobre Produto Industrializado] no setor de móveis são extremamente necessários para o reequilíbrio do consumo no País. Isso, sem contar na expectativa pela Reforma Tributária, que precisa ser votada ainda neste primeiro semestre. Questões que têm sido pautas importantes na atuação da ABIMÓVEL”, reforça Munhoz.

Projeções e expectativas para 2023

O ano de 2023 começou num compasso ainda incerto e lento, crescendo 0,3% em janeiro e 0,2% em fevereiro, ambos os resultados nas comparações com os meses anteriores. Para Aquino, presidente do SIMA, contudo, “há esperança: o pensamento positivo move o empresário”.

Esperamos que haja uma reforma fiscal que desonere o setor produtivo, que ocorra o equilíbrio das contas públicas e que a inflação seja rapidamente controlada. Gerando, consequentemente, uma redução drástica das taxas de juros. Dessa forma, poderemos esperançar que teremos aumento na capacidade de compra do consumidor, equilíbrio da oferta e demanda, e assim o resultado para as empresas sejam melhor equacionados, remunerando minimamente os seus riscos e os vultuosos investimentos nas nossas operações”, completa Aquino.

A ABIMÓVEL também acredita no início de um movimento de reorganização das cadeias de suprimentos e de desaceleração da inflação em curso no mercado global. Há, ainda, indícios de uma recuperação gradual do mercado de trabalho interno, após os longos impactos da pandemia.

“Tudo, porém, a depender do cenário econômico interno e externo, o que se relaciona também a questões como a Guerra na Ucrânia, a retomada do consumo na China, entre muitas outras situações que impactam diretamente nos preços das commodities internacionais”, finaliza o presidente da ABIMÓVEL.

No que depender da Plataforma Setor Moveleiro, contudo, estaremos por aqui, munindo-os de informações, contribuindo com o debate e atuando para oferecer conteúdos estratégicos para a tomada de decisões assertivas. Veja depoimentos de lideranças do setor sobre o papel da plataforma nesses últimos três intensos anos:

 

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