Somente no ano passado foram registrados 1.579 acidentes com energia elétrica no setor indutrial brasileiro. Segundo o anuário estatístico de acidentes de origem elétrica, emitido pela Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade), apenas os choques foram responsáveis por 674 óbitos; seguidos pela perda de 46 vidas em incêndios por curto-circuito em 2021. E, claro, isso só falando dos perigos relacionados à eletricidade nas fábricas, que ainda apresentam mais uma série de outros riscos quando não há a correta gestão e aplicação das normas de segurança do trabalho.
Um número assustador e que coloca em destaque a vulnerabilidade da segurança nas indústrias brasileiras. Podendo acarretar em diversos problemas de ordem humana, financeira e jurídica. Pontos importantíssimos também na indústria moveleira. Afinal, desde o projeto dos produtos até o uso seguro do maquinário, a segurança é ponto-chave no processo de fabricação de móveis.
Neste cenário de risco constante, proteger os colaboradores é possibilitar um ambiente mais adequado e produtivo. Garantindo também a segurança jurídica e administrativa dos negócios, especialmente nas fábricas.
Para tal, no entanto, é preciso priorizar-se o cuidado e o capital humano. Respeitando-se e indo ainda além das normas estabelecidas por órgãos regulamentadores, como a NR12 (Norma Regulamentadora nº 12), essencial para o respaldo das indústrias no Brasil. Ou seja, desenvolvendo uma real cultura de segurança nas empresas.
Como desenvolver uma cultura de segurança nas fábricas de móveis?
“A segurança no trabalho é primordial para evitar acidentes e promover a saúde dos colaboradores. Para se proteger, porém, não basta apenas tomar os devidos cuidados ou seguir as normas estabelecidas. Mas, sim, estarmos respaldados por uma cultura de segurança. O grande problema é que tal cultura nem sempre existe ou está fortalecida nas empresas”, fala a especialista de conteúdo da Fluke do Brasil, companhia especializada em ferramentas de teste e medição na indústria, Kimberlin Cardoso.
Sendo assim, para que profissionais do setor estejam de fato seguros em seu dia a dia de trabalho é preciso haver um compromisso das companhias em criar, construir e sustentar uma forte cultura de segurança. Ou seja, um pilar abrangente da cultura como um todo das empresas, difícil de mudar ou influenciar.
Para consolidar tal cultura de segurança no trabalho, portanto, é necessário primeiramente iniciar a criação de um clima positivo na empresa. Que envolva, então, desde o técnico e o responsável pela operação até os gestores e supervisores da área.
“Se o alinhamento entre os times e entre todos os níveis hierárquicos forem centralizados na segurança, aos poucos o desenvolvimento de uma cultura de segurança será conquistado, uma vez que esse trabalho é realizado diariamente”, enfatiza Kimberlin.
Comunicação é a chave para a implementação de uma cultura de segurança do trabalho
Assim como pesquisa e design são fundamentais na criação de produtos seguros, por exemplo. Com os materiais utilizados devendo ser fortes o suficiente para suportar o peso do mobiliário e de qualquer pessoa que o utilize; e os móveis devendo ser projetados de forma que não apresentem riscos de ferimentos, como arestas vivas ou bases instáveis. Quando falamos nas máquinas utilizadas na produção desses móveis, essas também devem ser inspecionadas regularmente para garantir que estejam em boas condições de funcionamento e que todas as proteções de segurança estejam instaladas.
Além disso, os colaboradores das fábricas devem ser treinados para realizarem o manuseio adequado do maquinário. Com todos os operadores, ainda, devendo fazer uso de equipamentos de proteção adequados, os EPIs.
O ambiente de trabalho também deve ser mantido limpo e organizado. Poeira e detritos da produção podem ser um risco à segurança. Por isso é importante manter a área limpa. Os funcionários devem estar cientes de quaisquer perigos potenciais e devem ser encorajados a relatar quaisquer problemas imediatamente.
Afinal, a concretização de uma cultura de segurança sustentável deve, necessariamente, ser implementada por meio da comunicação e do alinhamento de metas e objetivos. Estes, focados em segurança para todos os colaboradores. “A forma como a segurança é comunicada e como é cobrada dentro de uma companhia pode fazer toda a diferença”, reitera a especialista.
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Encoraje e gratifique colaboradores
O rastreamento de lesões, por exemplo, é um parâmetro comum que a maioria das empresas utiliza para avaliar o sucesso de suas campanhas de segurança. Porém, simplesmente rastrear a taxa de lesões ou dias desde o último incidente pode apenas corroer qualquer outra ação no sentido de criar um clima de segurança.
Ao invés de influenciar os trabalhadores a se esforçarem para estar seguros, os rastreadores de lesões por muitas vezes pressionam os mesmos a evitarem relatar incidentes, criando uma cultura de culpa e vergonha.
O ideal é que as companhias foquem em métricas positivas. Como objetivos inteligentes, de curto prazo e realistas. Com metas específicas, motivacionais, alcançáveis, graváveis e rastreáveis, os colaboradores ficam motivados e o clima de segurança é impulsionado.
Em conjunto com as metas de curto prazo, a criação de incentivos em torno delas pode auxiliar a manter os profissionais engajados no processo. Pequenas recompensas por alcançar alguns objetivos positivos ou uma certa quantidade de correção de problemas industriais, por exempo, pode aumentar a satisfação do colaborador e direcionar a empresa para uma cultura de segurança ainda mais aprimorada.
Treinamento e segurança do trabalho
Finalmente, os empregadores devem fornecer treinamento regular sobre procedimentos de segurança adequados. Os funcionários devem estar cientes dos riscos associados ao seu trabalho e ensinados a se proteger. Deve haver, também, diretrizes claras para práticas de trabalho seguras. Com os empregadores estando dispostos a investir em equipamentos de segurança para manter seus funcionários seguros.
Uma das maneiras de reforçar o treinamento — mas aquele adequado, não o que resulta em total e única perda de tempo — é utilizar os erros como oportunidades de aprendizagem. Explicando, assim, qual foi esse erro, a melhor maneira de corrigi-lo e o que fazer para que não ocorra novamente.
Dessa maneira, os profissionais passam a visualizar cada vez mais um clima positivo de segurança na companhia. Removendo o aspecto de policiamento das inspeções e permitindo que tenham liberdade para atuar com segurança, relembrando as aprendizagens dos treinamentos.
Por fim, é importante pontuar que de nada adianta ter todos os conceitos ou o passo a passo do que fazer no papel, pois para implantar uma forte cultura de segurança é preciso praticar diariamente os pontos abordados. “Ao mudar a forma como a comunicação sobre segurança é realizada dentro das indústrias, é viável construir este clima de segurança que, com o tempo, se tornará uma cultura consolidada e confiável aos profissionais do setor industrial”, finaliza a especialista de conteúdo da Fluke do Brasil.