Aluguel de móveis?! Há algumas semanas falamos sobre como as mudanças econômicas, sociais e comportamentais vêm influenciando a escalada de novas formas de morar. Colocando a coabitação como uma grande tendência dos tempos atuais. Em que as moradias compartilhadas tanto aparecem como novas chances de socialização e vida em comunidade quanto possibilitam um viver mais responsável e respondem muito bem ao nomadismo moderno.
Questões que transformam totalmente a relação humana com o mobiliário. Afinal, ao mesmo tempo em que os móveis se tornam elementos essenciais para responder demandas tão diversificadas em um universo tão plural. Fazer reformas e realizar mudanças constantes seria totalmente inviável.
Por isso, além de se pensar no desenvolvimento de móveis funcionais e customizáveis para atender a essa tendência. É essencial, também, que as indústrias e o varejo de móveis se abram a modalidades de negócio que possam oferecer a flexibilidade necessária para atender a dinâmica desses novos grupos. Considerando não só requisitos práticos do dia a dia. Mas também abraçando questões como da sustentabilidade socioambiental, bem como da economia criativa, circular e colaborativa, tão importantes para essas pessoas.
Aluguel de móveis, economia circular e o viver prático
Nesse sentido, soluções como a do aluguel de móveis chegam ao palco do debate e já começam a dar indícios de grandes transformações no varejo de móveis em todo o mundo. De acordo com o relatório “Consumer in Asia 2020”, divulgado pela Tofugear – Soluções para o varejo, dois terços de todos os consumidores locais consideram as credenciais de sustentabilidade de uma marca ao tomar a decisão de compra.
Com o relatório constatando, então, que a aceitação de serviços de aluguel (incluindo de móveis e itens de decoração) está crescendo cada vez maior entre os asiáticos. É importante dizer, ainda, que além do fator ambiental, a expectativa de que as finanças pessoais continuem sob pressão, deverá fazer com que a demanda por modelos de negócios circulares, como esse, aumente ainda mais no próximo ano.
Ressaltando que a modalidade não é só bastante atrativa do ponto de vista econômico e ambiental, como também atende requisitos de privacidade, individualidade, mobilidade e liberdade. Possibilitando que essas pessoas tenham acesso a itens que conversem com a sua personalidade. Afinal, respondendo muito bem ao nomadismo moderno e ao ritmo crescente de intercambistas ao redor do mundo, por exemplo, esses lares são encarados por muitos como espaços temporários. Fazendo do investimento em mobiliário algo pouco prático. Apesar disso, elas querem viver bem e se importam com design e decoração.
Design é importante
Pesquisa realizada pelo projeto One Shared House 2030 – encabeçado pela IKEA e outros grandes nomes – aponta que a maioria das pessoas gostaria de ter as áreas comuns mobiliadas e decoradas de maneira coletiva ou por designers. Enquanto preferem ficar responsáveis por seus próprios espaços privados. Dessa forma, o aluguel de móveis é uma alternativa ideal para esse público. Aliás, a privacidade continua sendo uma preocupação bastante latente, mesmo nesse novo modo de morar. Com os quartos, por exemplo, apresentando-se como áreas intransponíveis.
Não à toa, os móveis para quartos (camas, mesas de cabeceira e roupeiros) são alguns dos mais populares entre os clientes da Furlenco – empresa indiana atuante no aluguel de móveis e acessórios. Promovendo a ideia de uma casa rápida, fácil e acessível, mediante uma assinatura mensal, a curadoria do grupo prevê diversos pacotes de itens para a casa, que podem contemplar tanto peças individuais quanto ambientes completos para áreas internas e externas, privadas e comuns.
Conceito parecido com o da americana Fernish. Que ainda possibilita com que os móveis sejam comprados pelos clientes, caso eles criem conexões com as peças. Para isso, é cobrada a diferença do valor de mercado com o que já foi pago de aluguel até o momento da decisão de compra.
Aluguel de móveis no Brasil e no mundo
Mas essa não é uma realidade apenas centrada nos móveis voltados ao morar. Se o surgimento e popularização dos hubs de negócios e dos espaços de coworking já apontavam um campo bastante propício para o aluguel de móveis de escritório. O home office – e, em muitos casos, a incerteza sobre a duração dessa atividade -, tornam a modalidade ainda mais bem-vinda. Não à toa, a IKEA começou a testar o aluguel de móveis (com foco nos corporativos) pela Europa no ano passado. Segundo explicou a empresa, os produtos devolvidos podem ser tanto postos para aluguel quanto colocados à venda como artigo de segunda mão (economia circular).
No Brasil, apesar de ainda pouco popular, o aluguel de móveis começa a chamar a atenção especialmente das novas gerações. A John Richard é uma das pioneiras nesse tipo de serviço. “Oferecemos mobiliário como serviço para empresas e pessoas que querem resolver suas necessidades utilizando seus recursos de forma mais inteligente. A vantagem de contar com essa flexibilidade é não se preocupar quando precisar expandir, reduzir ou montar ambientes adicionais”, divulga a empresa.
A pergunta é: Como adaptarmos essa modalidade ao varejo de móveis popular no Brasil? De que maneira isso afetaria à precificação dos produtos? Quais outras soluções para atender a demandas cada vez mais plurais e aceleradas? Questões que devem ser debatidas o quanto antes. Afinal, se a relação do consumidor com o mobiliário muda. Cabe aos industriais e aos lojistas pensarem em maneiras adequadas de atender a esses novos anseios e necessidades.