Enquanto a indústria de móveis apresentou o pior desempenho entre todas as atividades industriais tanto no acumulado do primeiro semestre de 2022 (-19,8%) quanto em relação aos últimos 12 meses (-19,9%), a produção da indústria nacional como um todo acumula queda de 2,2% nos primeiros seis meses do ano e -2,8% em 12 meses.
Realidades distantes, mas igualmente preocupantes.
Como falamos na última semana aqui na Plataforma Setor Moveleiro, contudo, é importante se entender o contexto em que essas performances evoluem — se você ainda não leu, clique aqui.
Indústria nacional x Indústria moveleira
Em junho de 2022, a indústria nacional variou -0,4% frente a maio, na série com ajuste sazonal. Em relação a junho de 2021, dessa vez na série sem ajuste, o recuo foi de 0,5%, segundo a última edição da Pesquisa Industrial Mensal (PIM-PF), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No sexto mês do ano, três das quatro grandes categorias econômicas e 15 dos 26 ramos pesquisados mostraram redução na produção. Colocando o setor industrial nacional 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia, em fevereiro de 2020.
O recuo é, de fato, mais intenso na indústria moveleira. Sem dúvida preocupando os empresários do setor.
É necessário observar, no entanto, que a dinâmica na área de móveis, em especial na base comparativa semestral (2022 x 2021) é bastante diferente da de outros setores. Com uma demanda que, apesar de aquecida, vinha ainda reprimida no início do ano passado, diante da dificuldade na oferta de móveis e colchões devido a grande procura por estes produtos durante o isolamento social versus a disrupção na cadeia de abastecimento para a indústria.
Questões que, em parte, justificam as quedas mais acentuadas na produção moveleira.
Menos consumo, menos produção
Voltando aos números gerais, mesmo com os quatro meses de crescimento em sequência, período em que houve alta acumulada de 1,8%, a indústria nacional geral não chegou sequer a recuperar a perda de janeiro deste ano, -1,9%. Com o resultado de junho, portanto, acentuando o saldo negativo no ano, quando comparado com o patamar de dezembro de 2021.
Além dos problemas já conhecidos na indústria e já citados anteriormente, como o descompasso na cadeia de abastecimento, quando falamos da massa de consumo brasileira, outros problemas vêm despontando a cada nova pesquisa.
“Há a taxa de juros elevada, a inflação que segue em patamares altos, a diminuição da renda das famílias e, ainda que a taxa de desocupação venha caindo nos últimos meses, há um contingente de aproximadamente 10 milhões de desempregados no país”, pontua o gerente da pesquisa, André Macedo.
Segundo ele, a característica dos postos que estão sendo criados aponta para uma precarização do mercado de trabalho e isso é refletido na massa de rendimento, que não está crescendo. “Todos esses aspectos são fatos importantes na nossa análise e ajudam a explicar esse saldo negativo do setor industrial”, analisa.
Menos poder de compra, portanto, menos consumo e menos produção.
Produção industrial por região
Com isso, a produção industrial geral no País caiu em 10 dos 15 locais investigados pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM Regional) na passagem de maio para junho, quando o índice nacional recuou 0,4% após quatro meses de taxas positivas.
As maiores quedas ocorreram no Mato Grosso (-2,8%), Rio de Janeiro (-2,4%) e Espírito Santo (-2,3%). Amazonas (-1,6%), Ceará (-1,4%), Região Nordeste (-0,6%) e Rio Grande do Sul (-0,5%) também registraram recuos mais intensos do que a média nacional (-0,4%).
Pará (9,8%) apontou a expansão mais elevada nesse mês e eliminou parte do recuo de 13,3% verificado em maio. Bahia (2,4%), Pernambuco (1,0%), São Paulo (0,8%) e Santa Catarina (0,2%) assinalaram as demais taxas positivas.
Quando o assunto é a produção de móveis por região, o estado do Rio Grande do Sul, uma das maiores referências no setor, também apresentou um recuo considerável na produção moveleira, -18,9% na comparação com junho do ano passado. Demonstrando, assim, declínio duas vezes maior do que a média nacional na comparação, que ficou em -9,3%.
No primeiro semestre, a produção de móveis pela indústria gaúcha decresceu 14,9% no primeiro semestre do ano. Já no acumulado dos últimos 12 meses este recuo é de 9,1%, dessa vez bem abaixo da média nacional de 19,9%. O que ajuda, portanto, a delinear o panorama no setor, cujo qual interpretamos como uma desaceleração gradual da indústria de móveis após um período de grande explosão.