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Análise setorial: um Giro pelos Polos e suas perspectivas no setor moveleiro

Análise setorial: um Giro pelos Polos e suas perspectivas no setor moveleiro

No cenário da indústria moveleira, é fundamental manter um olhar atento às diversas variáveis que influenciam o mercado. Neste contexto, realizamos mais um Giro pelos Polos moveleiros, onde líderes compartilham sua análise setorial sobre recentes eventos, inadimplência, resultados e expectativas. 

Por meio dessas perspectivas, é possível explorar insights e tendências que moldam o panorama atual e o futuro do setor moveleiro no Brasil. A Plataforma Setor Moveleiro agradece a participação de todos que aceitam o convite de participação para contribuir com essa análise setorial abrangente e valiosa.

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Eventos são termômetro setorial

  1. Acaba de ser realizada a Fimma e a Movelsul, grandes eventos que servem como termômetro setorial para a indústria. Que conclusões podemos tirar? O que pode ser feito para aquecer o mercado?

Aureo Barbosa (Intersind):  Todos estamos ávidos pelo reaquecimento do mercado, pudemos constatar o grande esforço das Indústrias em inovações e criatividade, para atrair os olhos dos clientes. Foi um evento marcante, tanto do lado das Indústrias moveleiras quanto das ofertas de maquinário e tecnologia para  o setor. Aquecer o mercado só tem uma fórmula mágica “empregabilidade e taxas de juros decentes”.

Ilseo Rafaeli (SIMOVALE): referente a Fimma/Movelsul, apesar de grande visitação não creio que tenha trazido alguma alteração ao cenário estagnado e deterioração de preços. O que a feira nos mostrou é que o mercado existe, menor do que antes da pandemia, mas existe e que as empresas precisam trazer novidades para o consumidor, com novos produtos que atendam as expectativas de novos hábitos e preferência.

Mais do mesmo e volume de produção não são mais requisitos que se traduzem em sustentação do negócio.

Mauro Schwartsburd (SIMOV): Na Fimma foi perceptível a necessidade de as indústrias se manterem atualizadas com a tecnologia existente. Isso para se manterem competitivas no mercado global, almejando uma participação maior, já que representamos uma fatia muito pequena no comércio mundial de móveis. Temos aí uma oportunidade de forte crescimento.

Na Movelsul, o forte trabalho de design próprio procurado pelas indústrias, abandonando o velho costume de copiar. O Prêmio Salão Design, simultaneamente com a Movelsul, é uma amostra do investimento das indústrias em novos designers.

O investimento em tecnologia e design está ao alcance das indústrias, mas para nos tornarmos um grande fornecedor no mercado mundial, é necessário reduzir o elevado custo Brasil. O sucesso só será alcançado por meio da colaboração das indústrias com entidades representativas, como a Abimóvel, que tem trabalhado incansavelmente nesse sentido.

Gisele Dalla Costa (Sindmóveis): Percebemos grande satisfação dos expositores da Movelsul. As empresas apostaram na feira e até o momento recebemos excelentes feedbacks tanto de marcas que estão conosco há várias edições, quanto daquelas que participaram pela primeira vez. Muitas indústrias de móveis, estofados, colchões e decoração destacaram que não apenas fizeram negócios durante a feira, como também alinharam boas prospecções para o futuro próximo com compradores nacionais e estrangeiros.

A presença de importadores vindos de países-alvo para o segmento foi um dos pontos fortes da edição. Isso mostra que a Movelsul Brasil mantém sua credibilidade como importante feira de negócios para aquecer o setor moveleiro.

Euclides Longhi (Movergs): É extremamente gratificante saber que as feiras que realizamos foram um sucesso e tiveram ótimos negócios para as indústrias e fornecedores da cadeia produtiva moveleira. Foram quatro dias intensos, com grande fluxo de visitantes qualificados. Na Fimma, nossos visitantes buscavam as inovações e tecnologias que precisam para suas indústrias de móveis ou marcenarias se desenvolverem e crescerem. As empresas estão investindo em melhorias dos mais diversos tipos, como máquinas, matérias-primas, tecnologia, entre outros. Tudo para tornar seus processos produtivos mais eficientes e sustentáveis. Todo o setor é beneficiado com a Fimma: os fornecedores, que garantem boas vendas, as indústrias moveleiras, que qualificam seus processos e se tornam mais competitivas, assim como os consumidores, que poderão adquirir móveis de melhor qualidade, acabamento e design.

Irineu Munhoz (ABIMÓVEL): Esses eventos, agora realizados simultaneamente, são importantes indicadores para a indústria moveleira nacional. Proporcionam com que tanto fornecedores quanto fabricantes do setor apresentem suas inovações e avaliem o panorama geral do mercado, especialmente no Sul do país. Enquanto entidade representativa da indústria moveleira nacional, durante esses eventos pudemos observar tendências, analisar as demandas e, inclusive, identificar áreas de oportunidade.

Nesse sentido, vale reforçar a atuação da entidade na organização de ações durante os eventos. O Projeto Comprador Fimma/Movelsul 2023, organizado em parceria com a ApexBrasil por meio do Projeto Setorial Brazilian Furniture, de incremento às exportações e à internacionalização da indústria moveleira nacional, levou 19 compradores estrangeiros para negociar de forma direta e qualificada com mais de 60 empresas brasileiras, a partir de rodadas de negócios presenciais. Dessa forma, possibilitando que as empresas participantes dessas rodadas ganhassem mais um palco para a divulgação de seus produtos e geração de negócios. E também alavancando a presença internacional, ampliando o fluxo e a diversidade de público nas feiras.

Enquanto exploramos e enaltecemos o potencial exportador de nossas indústrias, olhamos também para as micro e pequenas empresas, grande maioria de nosso setor. Foi promovido durante a Fimma e a Movelsul o encontro entre 11 empresas de pequeno porte participantes do PDCIMob — Projeto de Desenvolvimento, Competitividade e Integração da Indústria do Mobiliário, idealizado em parceria com o SEBRAE — e seis importadores estratégicos do mercado latino-americano. Proporcionando assim, um terreno para a avaliação e adequação de marcas e produtos tornando-os mais competitivos e profissionalizados.

Salientamos essas ações, pois acreditamos que a sinergia entre a ABIMÓVEL, a ApexBrasil, entidades setoriais e sindicatos locais, como é o caso da Movergs e do Sindmóveis-RS, esteja se mostrando como um exemplo de estratégia e fortalecimento no setor moveleiro, promovendo não apenas negócios, mas também a integração entre os principais atores da cadeia madeira e móvel nacional e internacionalmente, contribuindo para o desenvolvimento de um ecossistema de negócios inclusivo, sustentável e, consequentemente, com mais diferenciais competitivos para a construção de um mercado mais aquecido.

Estamos cientes, porém, de que o sucesso da nossa indústria não depende apenas de ações privadas, mas também de fatores políticos e econômicos. Por isso, a ABIMÓVEL tem se empenhado em dialogar de forma propositiva com o Governo Federal, com vista a buscar soluções que impulsionem a recuperação da indústria brasileira, alavancando a economia e fortalecendo também o poder de compra e o acesso por parte do consumidor brasileiro.

Entre nossos esforços, destacam-se a defesa da desoneração da folha de pagamento e da reforma tributária. Além do empenho pela inclusão de móveis no programa “Minha Casa, Minha Vida”; a participação no Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial e no Fórum Nacional da Indústria para instauração de uma nova política industrial voltada para a inovação e a competitividade no país. Assim como, a reinstalação da FREMOB, a Frente Parlamentar em Defesa do Setor do Mobiliário, que ocorre já no mês de setembro, com o apoio e participação de mais de 200 deputados e outras figuras-chave na organização político-econômica e industrial de nosso país.

Baixa inadimplência e perspectivas promissoras

  1. De acordo com uma enquete realizada pela Plataforma Setor Moveleiro, +45% das empresas relatam um índice de inadimplência abaixo de 1%. A que pode-se atribuir o índice de inadimplência baixo?

Aureo Barbosa (Intersind): Certamente após pandemia, houve um grande filtro no mercado de ofertas, associado a critérios mais assertivos de avaliação do crédito.

Ilseo Rafaeli (SIMOVALE): Acredito que as empresas estão mais criteriosas no quesito crédito, e o varejo já está vivendo a nova realidade com compras menores e sem apostas de grandes compras, o famoso pé no chão.

Mauro Schwartsburd (SIMOV): Acredito que exista um cuidado maior com o fornecimento de crédito pelas indústrias, já que a inadimplência afeta diretamente o lucro líquido.

Gisele Dalla Costa (Sindmóveis): Baixos índices de inadimplência são vantajosos para os consumidores, para o varejo e também para as indústrias. Além da diminuição do desemprego e do incentivo ao pagamento de dívidas para “limpar o nome”. Vale lembrar que, no caso do segmento moveleiro, as vendas muitas vezes acontecem com prazo de pagamento maior, exigindo maior cuidado de quem concede o crédito.

Euclides Longhi (Movergs): Normalmente a inadimplência está associada a fatores como desemprego, redução da renda e descontrole pessoal das finanças. Se analisarmos os fatos mais recentes, a taxa de desemprego se apresenta em queda. No Rio Grande do Sul, tivemos um pequeno avanço no primeiro semestre de 2023, provavelmente referente à reposição de eventuais desligamentos. Foram criados 137 novos postos de trabalho no setor moveleiro gaúcho, totalizando 36.864 pessoas empregadas.

Além disso, o governo federal criou o programa Desenrola para quem está inadimplente poder negociar suas dívidas e ficar com cadastro regular. Esses fatores tendem a fazer com que a inadimplência caia.

Irineu Munhoz (ABIMÓVEL): Não temos acesso a estes dados (pesquisa/enquete) das indústrias de móveis, mas podemos citar que o índice de inadimplência no Brasil, de uma forma geral, caiu por dois meses consecutivos (junho e julho), segundo os últimos levantamentos, demonstrando uma reação na economia brasileira. No entanto, ainda 4 em cada 10 brasileiros a partir dos 18 anos estão com as contas atrasadas, segundo a CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas). Acreditamos que, entre as razões para este índice, felizmente mais baixo, estejam os esforços para a estabilização das taxas de juros e da carga inflacionária.

Quando falamos do setor industrial, acho importante citar que em agosto de 2023, a confiança do empresário industrial avançou em 20 de 29 setores, em todos os portes de indústria (pequenas, médias e grandes empresas). E também, com exceção do Sul, em todas as regiões do Brasil, segundo a última edição do ICEI (Índice de Confiança do Empresário Industrial), divulgada pela CNI.

Após uma queda na confiança nos últimos dois meses, os empresários industriais moveleiros voltaram a demonstrar uma perspectiva mais otimista no setor, pulando de 46,0 (abaixo da linha da confiança) em julho para 51,1 pontos (acima da linha da confiança) em agosto.

Apesar do aumento na confiança, a CNI também revelou que mais de 50% das empresas do setor de móveis estão preocupadas com a demanda interna no Brasil. O mesmo foi observado no setor de máquinas e equipamentos. Afinal, causa e consequência.

enquete preços

Resultados e manutenção de preços desafiadores

  1. A enquete da Plataforma Setor Moveleiro indicava que, em agosto, 90% das empresas iriam manter os preços. Foi possível fazer isso?

Aureo Barbosa (Intersind): Creio que sim, pelo menos não fora relatado algo diferente dessa afirmativa.

Ilseo Rafaeli (SIMOVALE): Hoje vivemos no mercado uma redução de preços, seja na concessão de maiores prazos, seja na oferta de descontos e bonificações. Os preços na minha visão caíram em muitos casos.

Mauro Schwartsburd (SIMOV): Em função de um mercado instável e em queda em relação com 2022, a maioria das empresas está conseguindo manter os preços praticados. Ajudadas pela queda de preço nas matérias-primas e aumento de eficiência, se ajustando à realidade atual.

Gisele Dalla Costa (Sindmóveis): Na medida do possível, as empresas estão procurando manter os preços, o que não deixa de ser um estímulo para que a demanda volte a crescer. Infelizmente a margem de lucro em muitos casos fica apertada, por isso é um momento que exige cautela por parte dos empresários e gestores.

Euclides Longhi (Movergs): Dados do IBGE indicam que neste ano, os índices de preço ao produtor de móveis (IPP) cresceram 2,28%, abaixo da inflação (IPCA até julho de 2023 atingiu 2,99%). Por outro lado, até junho, no acumulado de 2023, o volume de vendas no comércio de móveis baixou 7,4%.

O cenário tende a melhorar, mas ainda está desfavorável, então aumentar os preços num mercado com demanda estagnada, não é viável.

No Rio Grande do Sul, o governo estadual havia anunciado redução de 5% no ICMS para fabricantes de MDF e, recentemente, estendeu essa decisão também para fabricantes de MDP. E ainda, o ICMS para essas matérias-primas passou de 12% para 7%, permitindo que muitas indústrias consigam melhorar seu fluxo de caixa, melhorando um pouco sua margem de lucro. Vale destacar que essa importante conquista teve articulação da Movergs e do Sicom Lagoa Vermelha.

Irineu Munhoz (ABIMÓVEL): Essa resposta é muito particular – de cada empresário e de seu modelo do seu negócio –, portanto deve ser dada ou justificada pelos empresários das empresas que responderam a pesquisa.

Expectativa e incerteza de crescimento

  1. Para 2024, 66,3% das empresas pretendem projetar crescimento. Quais são as suas expectativas para 2024 e se também for de crescimento em que área pretende crescer? Infraestrutura, pessoal…

Aureo Barbosa (Intersind): Crescimento é o sonho de toda empresa. A questão que fica é: será que de fato o mercado vai reagir? Estamos em épocas turbulentas e sem horizonte muito claro. Certamente a alternativa mais apropriada é crescer com tecnologia e automação.

Ilseo Rafaeli (SIMOVALE): Estamos cautelosos quanto a investimentos, nós estamos avaliando o mercado a cada dia, estudando novos segmentos, mas sem grandes investimentos. Acredito que 2024 será um ano mais difícil que 2023, vamos viver um dia de cada vez. A economia projeta um crescimento de 1%, não podemos desprezar as previsões, estamos preparando nosso negócio para sobreviver com saúde.

Continuaremos nossa postura de agir com eficiência, melhoria de gestão e processos, creio que aumento de produção exigirá forçar o mercado e, consequentemente, com ampliação da oferta a margem desaparecerá por completo.

Mauro Schwartsburd (SIMOV): Para 2024, não entrando na análise da nossa economia atual, esperamos um crescimento perto de 10% no mercado nacional e 30% internacional. Para isso melhoramos a infraestrutura e contamos com qualificação profissional de mão de obra com o apoio do SENAI e SEBRAE. Otimismo e pé no chão.

Gisele Dalla Costa (Sindmóveis): É importante lembrarmos do período da pandemia e o expressivo crescimento do segmento em 2021. Desse modo, quanto mais distante ficarmos daquele evento, melhores são as perspectivas de que os consumidores que lá atrás investiram em móveis voltem ao mercado. Afinal, estamos analisando um mercado de bens duráveis. Sempre temos alguma expectativa de crescimento, mas é preciso manter o pé no chão e avaliar o andamento do mercado.

Euclides Longhi (Movergs): É possível que em 2024 o segmento cresça, mas ainda é prematuro projetar qualquer proporção. Acreditamos que, se os programas habitacionais do governo forem efetivos, poderão movimentar a economia e gerar crescimento na demanda do segmento de móveis. Também aguardamos os desdobramentos da reforma tributária e demais estímulos que possam impactar o setor industrial.

Irineu Munhoz (ABIMÓVEL): Observamos um movimento de reorganização das cadeias de suprimentos e de desaceleração da inflação em curso no mercado interno, apesar dos ainda intensos efeitos globais. Há, ainda, indícios de uma recuperação gradual do mercado de trabalho nacional.

Além disso, políticas públicas e incentivos fiscais, como a manutenção da redução do IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) no setor de móveis são extremamente necessários para o reequilíbrio do consumo no País. Isso, sem contar na expectativa pela Reforma Tributária, que segue em tramitação no Senado, após ter sido aprovada na Câmara. Questões que têm sido pautas importantes na atuação da ABIMÓVEL.

Dessa forma, apesar do recuo no setor ao longo de 2022, portanto, espera-se que a produção, as exportações e as vendas domésticas de móveis fechem 2023 numa situação um pouco mais favorável.

As expectativas mais animadoras, contudo, se dão a partir de 2024. Tudo, porém, a depender do cenário econômico interno e externo. Mais especificamente do controle inflacionário na cadeia produtiva de móveis e colchões, o que se relaciona também a questões como a retomada do consumo na China. Entre muitas outras situações que impactam diretamente nos preços das commodities internacionais.

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