De nossa última entrevista com a presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), no último mês de julho, até aqui, o setor moveleiro experimentou uma retomada histórica e cheia de reviravoltas. E é para abrir o ano de maneira informativa e estratégica, relembrando os passos dados até este momento e nos preparando para o que vem pela frente em 2021, que conversamos mais uma vez com Maristela Cusin Longhi.
Falamos bastante durante todo o ano sobre como as mudanças no comportamento do consumidor alavancaram o consumo de móveis desde o início da pandemia. No entanto, é imprescindível frisarmos também a atuação da Abimóvel junto ao Governo Federal para garantir condições de trabalho às indústrias moveleiras durante o período.
“Desde o início do acirramento da pandemia da Covid-19, em meados de março, a Abimóvel trabalhou incansavelmente em parceria com o governo no monitoramento das informações, levantamento das necessidades e demandas do setor. Bem como na construção de absolutamente todas as medidas até então anunciadas. Não houve um momento sequer em que as nossas equipes paralisaram as atividades, mesmo estando em home office. Todos os pedidos do setor e da cadeia produtiva foram encaminhados e analisados. Ampliamos o diálogo com as indústrias de todo o País, com os fornecedores, varejo, com o sistema financeiro e entidades nacionais. Dessa forma, construindo e propondo soluções”, enfatiza Maristela.
Em mais uma entrevista exclusiva para a Plataforma Setor Moveleiro, a presidente da associação traz dados sobre o comportamento do mercado em 2020 e projeções para o futuro do setor neste novo ano. Confira a seguir!
Setor Moveleiro – Como podemos avaliar o balanço do ano que se passou e quais os números mais importantes a serem observados pela indústria neste momento?
Maristela Cusin Longhi – O ano de 2020 surpreendeu a todos com a chegada da pandemia e seu consequente impacto. Tais como a paralisação da economia e, em decorrência, de todos os setores produtivos (indústria, comércio e serviços). Porém, a retomada abrupta e rápida a partir de julho, foi igualmente inesperada. As indústrias, bem como os demais elos da cadeia produtiva, foram surpreendidos com a velocidade da recuperação. Trazemos a seguir alguns indicadores que podem não só esclarecer o comportamento do setor durante o ano passado, como nos ajudar a melhor definir nossas estratégias para os próximos meses.
Setor Moveleiro – Quais são ou poderão ser, no entanto, os principais empecilhos para a concretização dos projetos propostos pela Abimóvel e para a manutenção do setor em 2021 (considerando agentes internos e externos)? Qual o caminho para vencê-los?
Maristela – No campo da construção e proposição de políticas públicas, a disputa pela presidência no Congresso Nacional é um dos maiores empecilhos que o Governo Federal deverá enfrentar para a autorização das matérias em andamento. É necessário e urgente para o País a aprovação da reforma tributária; das privatizações; da reforma administrativa; da desoneração da folha; da revisão dos marcos regulatórios; entre outros. Inclusive para a atração de investimentos para o Brasil. Quanto às questões de regulação do mercado, acreditamos que à medida que ele se estabilize, ou seja, que a demanda e a oferta forem equilibrando-se e consolidando-se, as demais dificuldades irão ser resolvidas. De qualquer forma, a Abimóvel, assim como as demais entidades setoriais, seguirá monitorando os números do mercado e conversando com os atores envolvidos. Temos, aliás, um grupo de trabalho dentro da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), que acompanha, especificamente, esses assuntos de mercado. Enfim, continuaremos dando andamento ao nosso trabalho neste ano de 2021, seja por meio da Mesa Executiva do Setor, instituída no Ministério da Economia, seja por meio da Frente Parlamentar Mista da Indústria de Móveis e da Cadeia Produtiva (Fremob), instalada no Congresso Nacional. Como falei, sabemos que há aspectos políticos que deverão interferir no processo. Porém, continuaremos fazendo a nossa parte. Temos consciência do papel da entidade, da luta que devemos travar na defesa dos interesses da indústria e do setor. E, em decorrência, também da responsabilidade da nossa representação. Iniciaremos o ano, portanto, como sempre, trabalhando.
Setor Moveleiro – A Abimóvel divulgou uma estimativa de 8,9% de crescimento para a indústria moveleira no Brasil em 2021. No que esse número se baseia e o que podemos esperar para os próximos anos quando o assunto é a produção e o varejo de móveis no Brasil?
Maristela – A Abimóvel trabalha com números e indicadores oficiais (ME, IBGE, RAIZ, MRE/APEX). Por isso as estimativas são elaboradas com base na análise e comportamento passado, bem como na evolução dos critérios internacionais. São números revisados e atualizados mensalmente, pois temos um compromisso com o setor e a indústria. No momento temos uma evolução traçada até o ano de 2023, como compartilhamos a seguir.
Setor Moveleiro – Além do consumo interno, qual o papel das exportações nesses números e quais movimentos são esperados para o comércio externo de móveis* neste ano?
Maristela – Com o impacto da pandemia, espera-se um comportamento nas exportações de móveis e colchões, similar ao observado em crises passadas. Dessa forma, puxando uma redução forte num primeiro momento e, consequentemente, uma recuperação em “V” nos dois anos seguintes. Para o Brasil, um País exportador que nos últimos anos vem recuperando a sua relevância no mercado internacional, o momento é de ser bastante ativo no fomento das vendas, principalmente nos países / mercados onde o nosso produto detém elevado potencial de crescimento. Aproveitando, então, que a competitividade brasileira, já bastante elevada no segmento de móveis de madeira, foi ampliada com a valorização do Dólar Americano, frente ao Real.
Setor Moveleiro – Para finalizar, qual o seu conselho, como presidente da Abimóvel, para os moveleiros neste início de ano?
Maristela – O novo cenário é de desafio, de muito trabalho, da busca por novas oportunidades, do mercado digital, da adoção de protocolos de segurança e de novas práticas em todos os níveis. Muitas indústrias e organizações, infelizmente não conseguirão se reerguer após o acirramento da Covid-19, quer no Brasil, quer no mundo. No caso da indústria de móveis, devemos concentrar nossos esforços na estratégia e gestão de cada empresa. No seu plano de negócios, na gestão de sua equipe, no olhar atento a cada nicho de mercado, processos de produção, demandas do nosso consumidor e nas diversas formas de atuação do varejo, e-commerce e os novos canais de distribuição. Teremos de ser cada vez mais pragmáticos, focados e atentos ao novo cliente.