Enquanto os consumidores voltaram a atenção para o lar e o mobiliário durante o isolamento social, consolidando um momento histórico para o setor moveleiro no segundo semestre do ano passado; as expectativas para 2021, no entanto, eram incertas, especialmente diante dos desajustes provocados pela pandemia nas economias e cadeias de abastecimento, além dos impactos da inflação, do desemprego e do fim do Auxílio Emergencial sobre o poder de compra do consumidor brasileiro.
Neste panorama, se uma pergunta rondou todas as rodas de discussão em nossa área neste ano, essa sem dúvida foi: “afinal, em relação ao período pré-pandemia, vivemos um momento de queda ou estabilização?”. Por que não, então, tentarmos encontrar uma resposta juntos?
Dados preliminares do setor moveleiro
Primeiro, vamos olhar um pouco para o varejo e a demanda por móveis ao longo do último ano. Usando como referência a base comparativa do mês de outubro, último levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as vendas no varejo de móveis brasileiro no décimo mês de 2020 foram 30,8% superiores às realizadas em igual mês em 2019. Um grande — e atípico — resultado! Desta forma, é de se entender que o recuo de 14,8% em outubro de 2021 em comparação com igual mês no ano passado seja chamado por alguns de “desaceleração”, por outros de “estabilização”.
Questões que refletem, claro, na indústria. Enquanto os principais estudos de referência do setor ainda não revelam os resultados consolidados do ano, a ABIMÓVEL (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário) acaba de divulgar os dados preliminares da indústria brasileira de móveis e colchões em 2021, com base em indicadores levantados com exclusividade pelo IEMI – Inteligência de Mercado junto a fontes oficiais.
E, bem, de fato podemos observar números menos aquecidos ao longo de 2021. Porém, distribuídos de maneira mais estável durante todos os meses, diferente do boom vivenciado no ano passado. O que coloca o setor moveleiro, portanto, em um patamar mais equilibrado do que em 2020 e melhor do que em 2019, quando, na verdade, a indústria de móveis e colchões não ia tão bem.
Cenário pré-pandemia
De 2015 até 2020, a produção de móveis e colchões no Brasil apresentou queda acentuada de -6,9%. Recuo marcado especialmente pela forte crise econômica brasileira ocorrida nos anos de 2015 e 2016. Ainda assim, quando falamos em valores nominais, no período de cinco anos foi possível inferir um aumento de aproximadamente 21,2% no valor da produção em reais (R$). O que, de uma forma geral, pode estar mais ligado à inflação e à variação cambial, do que com ganhos reais propriamente ditos.
Falando especificamente do consolidado de 2020 na comparação com 2019, por sua vez, os números, mesmo os negativos, mostram um comportamento um pouco mais animador por parte da indústria, que retomou os rumos do desenvolvimento. A produção moveleira no País apresentou retração de 1,35% em volume em 2020 sobre 2019. Enquanto em valores nominais, em contrapartida, foi observada uma expansão de 2,2% no último ano, também verificada a variação em reais e sem descontar a inflação.
E em 2021?
Resultados que apesar de tímidos, trouxeram ânimo e esperança ao setor, que renasceu e lutou de maneira memorável com a chegada do segundo semestre do ano passado, quando o isolamento social alavancou a procura por móveis no varejo, ao mesmo tempo em que, entre outros motivos, provocou disruptura na cadeia de abastecimento.
Disruptura que prejudicou, mas não impediu o avanço de 2,71% no volume de peças produzidas neste ano sob 2020, de acordo com os dados divulgados pela ABIMÓVEL. Ao todo, estima-se que foram produzidas 443,23 milhões de peças em 2021.
Em receita, o aumento foi de aproximadamente 9,28%, totalizando mais de R$ 78 milhões. Resultados não só superiores aos do ano passado, mas também aos de anos anteriores, no período de 2016 a 2020 (pré-pandemia). Veja na tabela abaixo:
Emprego na indústria moveleira vai na contramão da economia nacional
Diante de tal cenário, a indústria moveleira registrou saldo positivo de vagas de trabalho durante o ano, indo na contramão da economia nacional. Segundo dados levantados pelo IEMI para a ABIMÓVEL, o crescimento do emprego na indústria moveleira foi de 2,66% em 2021 frente a 2020. Número que se torna ainda mais interessante ao observarmos a evolução do emprego no setor nos últimos anos:
Resultados, estes, que, segundo a ABIMÓVEL, apontam para uma conjuntura positiva e crescente, com o aumento da confiança do empresário industrial no setor moveleiro, que, além da mão de obra, vem investindo também no melhoramento e modernização dos parques fabris.
Os investimentos no setor saltaram de R$ 1,23 milhão em 2019 para mais de R$ 2,16 milhões em 2021. Quando comparamos com o ano passado, quando foram investidos cerca de R$ 785 mil — um dos piores desempenhos do indicador na série histórica —, o salto é ainda maior: +176%.
Exportações brasileiras de móveis e colchões apresentam crescimento histórico
“Esta modernização e diversificação das indústrias do setor trazem impactos não só no consumo doméstico, como também colocam nossas empresas e produtos em sinergia com o mercado global”, ressalta a entidade moveleira em comunicado. Entre todos os resultados positivos de 2021, surpreende a evolução das exportações no setor, que acumularam crescimento de 247,76% nos últimos cinco anos.
Uma evolução histórica na balança comercial de móveis, portanto, que cresceu 75,88% em volume em 2021 sobre 2020. Em receita, o aumento foi de 48,36%, totalizando US$ 932 milhões (FOB) em móveis e colchões exportados neste ano. Ritmo que, segundo as projeções divulgadas pela ABIMÓVEL, deverá se manter nos próximos dois anos, com expectativa de 6,05% e de 8,65% de crescimento no volume de móveis e colchões a serem exportados em 2022 e 2023, respectivamente.
Oportunidades para o setor moveleiro nacional
O isolamento social combinado ao pagamento da Ajuda Emergencial do Governo Federal desde o último ano demonstrou de maneira intensa a demanda reprimida por mobiliário em nosso País. Com uma lacuna que ao que tudo indica ainda não foi totalmente preenchida. E muitas são as razões para acreditarmos nisso.
Primeiro, estima-se que grande parte das empresas que adotaram o home office como regime de urgência, não retornem ao modelo 100% presencial. O modelo de Educação à Distância, EAD, é outro que também veio para ficar. Exigindo, assim, a adaptação definitiva dos ambientes residenciais para as atividades de trabalho e estudo remoto.
O setor da construção civil é outro com impacto substancial nas vendas de móveis no Brasil. Com o boom das obras e reformas iniciadas no ano passado, e que ainda não foram concluídas, impulsionando a população brasileira a ir às compras para mobiliar estes espaços.
Tudo isso, claro, além das oportunidades em ascensão para o móvel brasileiro no mercado internacional. Embora o Brasil seja o sexto maior produtor mundial no setor, o País ocupa apenas a 27ª posição no ranking dos maiores exportadores globais na área. Panorama que é considerado abaixo do seu real potencial, com campo considerável para o aumento da participação de nossas empresas.
Um novo momento para a venda de móveis
Dessa forma, mesmo que o consumo já tenha voltado a se virar para o lazer, bem como o turismo e outros serviços não essenciais, não podemos descartar as possibilidades para o setor. Com a indústria moveleira devendo, então, observar as oportunidades e atacá-las com precisão, especialmente quando falamos em móveis populares.
Por parte do governo, essencial para o desempenho do setor industrial, espera-se que a indústria torne-se um centro de atenção das medidas e esforços realizados na esfera pública, com propostas, como as que divulgamos nesta semana aqui na Plataforma Setor Moveleiro, sendo adotadas e trabalhadas de maneira contínua para a melhoria do ambiente de negócios, do empreendedorismo, do emprego e da renda em nosso País.
Perspectivas para 2022
Com isso, a estimativa da ABIMÓVEL e do IEMI é de que o volume de produção de móveis e colchões continue crescendo: +2,11% em 2022 e +2,75% em 2023. O que deverá impactar positivamente também no volume de emprego no setor, com crescimento projetado de 2,05% no próximo ano e 2,88% no ano subsequente.
Quando o assunto são investimentos, porém, estima-se a reestabilização diante dos altos montantes aplicados em 2021. Com as fábricas sendo ampliadas nos últimos anos para um período de alta produção e desempenho a partir de 2022.
Você, industrial, concorda com estas previsões?