O ano passado não foi fácil, temos de admitir. Pressão inflacionária, escalada dos juros, crise na cadeia logística e de suprimentos, aperto monetário e toda uma instabilidade social, econômica e fiscal pairando no mundo. Fatores que, diferente dos benefícios governamentais que incentivaram as compras — especialmente de móveis — em 2020, acabaram por puxar o consumo para baixo em 2021.
E o que isso tudo representa para as empresas agora, em 2022, ano eleitoral e de um cenário político conturbado no Brasil? É isso que Rodrigo Sgavioli, Head de alocação e fundos do research da XP Investimentos, procurou responder em sua participação no 1º PAINEL SETOR MOVELEIRO.
XP Investimentos no Painel Setor Moveleiro
“Cenário econômico para as indústrias e o varejo” foi o título da palestra apresentada por Sgavioli durante o evento, retratando índices econômicos atuais e comparativos atuais e em anos anteriores no Brasil e no mundo. Com isso, buscando decifrar tendências de comportamento do mercado financeiro, que, apesar das tensões e inseguranças, apresentam, sim, bons índices de rentabilidade e possibilidades reais de desenvolvimento no início deste ano, em especial para as empresas e instituições que se mostram mais bem informadas e estrategicamente posicionadas.
“O trabalho da XP consiste em materializar oportunidades e soluções de investimentos”, explica o palestrante, que aponta que teremos um ano duro pela frente, mas com boas chances para aqueles que souberem quando e onde terão de “defender quando tiverem que defender e atacar quando tiverem que atacar”.
Inflação deverá ser o tema da década
“Somos parte agora de um mundo global”, enfatiza Sgavioli. Assim como tivemos de nos adaptar a uma nova realidade comportamental em relação à saúde pública num mundo com Coronavírus, com a economia não será diferente.
“Não só vivenciamos uma escalada inflacionária no País, como também estamos importando cada vez mais inflação, que chegou em seu pico nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, para dentro do Brasil”, explica o especialista da XP. “Outro fator a se observar é o posicionamento da China, que vem se fechando para a sua economia interna, buscando melhorar cada vez mais o cenário para os próprios consumidores chineses em vez de privilegiar condições para investidores globais”, pontua.
De fato, grandes tendências que mantiveram a inflação global sob controle por décadas estão perdendo força ou se invertendo. Entre elas se destacam:
- Globalização: desde a crise de 2008 mercados têm se tornado mais locais; a pandemia exacerbou essa tendência
- Industrialização da China: antes exportadora de deflação, agora o país não tem mais oferta de mão de obra barata
- Reorganização das cadeias de produção: grandes empresas querem trazer a produção de componentes críticos para mais próximo de suas matrizes
- Mudança no consenso fiscal: países desenvolvidos têm optado por regimes fiscais mais frouxos
Cenário econômico no Brasil
Em relação à tendência das indústrias em reorganizar a cadeia de suprimentos, revendo a logística para trazer a produção de componentes para perto e obtendo, assim, maior controle dos processos como alternativa para frear futuros empecilhos logísticos e de abastecimento, ainda, é importante frisar que a crise no abastecimento é ainda apontada por industriais brasileiros como o principal obstáculo atual à produção no País, seguido pela carga tributária e a baixa demanda interna.
Nota-se, portanto, que enquanto o aperto monetário mundial e a crise de abastecimento chamam a atenção no cenário macro global, no Brasil, vivenciamos ainda outros temas de alerta, como a política fiscal, o ciclo da alta dos juros e as eleições no segundo semestre, que deverão girar em torno da política de distribuição de renda, abertura econômica, articulação de reformas estruturais e equilíbrio do orçamento brasileiro.
A XP estima, porém, que o teto de gastos brasileiro seguirá pressionado nos próximos anos, sendo particularmente difícil retroceder nas despesas incluídas no orçamento, em particular no Auxílio Brasil e demais transferências. Essas pressões, contudo, deverão minar o teto, impondo, em algum momento, a rediscussão do arcabouço fiscal.
“O novo arcabouço deve combinar instrumentos que não sejam sensíveis ao caráter cíclico das receitas, bem como promover um controle das despesas e reduzir a incerteza sobre a política fiscal”, aponta a instituição.
As demandas por reajuste do funcionalismo público também continuarão crescendo diante da atual política de arrocho salarial. Enfrentar o problema da alocação orçamentária, reduzindo o espaço destinado para políticas pouco eficientes e promover reformas estruturais que resultem em maior crescimento potencial serão a solução.
“No curto prazo, enquanto não houver um direcionamento claro da política nos próximos anos, a incerteza deve continuar trazendo volatilidade aos mercados, porém”, pontua Sgavioli.
Cenário econômico global: Economia digital como alternativa
Se há algo positivo a se extrair deste período conturbado para a vida e para os negócios, no entanto, é que a pandemia antecipou o mundo tecnológico e acelerou a economia digital, trazendo possibilidades cada vez mais tangíveis de se adaptar e se colocar em sinergia com este mercado global, com seus riscos e oportunidades, do qual, querendo ou não, fazemos agora todos parte.
“Não vamos mais precisar tanto de presença física para a economia girar. Mas tudo está visível e sendo monitorado. A atenção a todos os movimentos é fundamental para as decisões empresariais”, acredita Sgavioli
E enquanto olhamos para estes cenários e tendências, para ser estratégico “será preciso entender os recursos disponíveis e avaliar maneiras de trazer ganhos financeiros que serão relevantes para as empresas”, reforça a sócia da XP Inc. e Head do núcleo de especialistas XP Empresas, Vivian Sesto. “O caixa da pessoa jurídica se tornou foco para oportunidades”, conclui.
Painel Setor Moveleiro
Idealizado pela Plataforma Setor Moveleiro, o PAINEL SETOR MOVELEIRO trouxe uma visão geral do momento atual do mercado e do segmento, com o objetivo de despertar alternativas estratégicas para o melhor desempenho das indústrias. A primeira edição ocorreu no último dia 02 de fevereiro, em formato presencial no polo moveleiro de Arapongas (PR) com transmissão pelo YouTube. Pensado em formato itinerante, as próximas edições já estão sendo planejadas.
Se você não pôde acompanhar o evento ao vivo, as palestras e mesa-redonda com importantes figuras do setor moveleiro e do mercado financeiro nacional estão disponíveis na íntegra em nosso canal. É só dar o play!
https://www.youtube.com/watch?v=H2Hevd5o6OM&t=1020s