O cenário internacional está atravessando transformações significativas, sinalizando a chegada de um “novo mundo” com mudanças macroeconômicas. O relatório “Year Ahead 2024 – UBS House View”, desenvolvido pelo UBS Chief Investments Office, antecipa uma desaceleração na economia global. Além disso, aponta para um processo de desglobalização, marcado por uma economia menos integrada devido a possíveis tensões entre os EUA, Europa e China. Esta conjuntura também é moldada por fatores demográficos e pelo envelhecimento da população, restringindo o crescimento econômico.
No contexto da digitalização, a inteligência artificial (IA) emerge como uma solução promissora para impulsionar a produtividade. Na sequência, é tema a ser explorado em futuras matérias da plataforma Setor Moveleiro.
Hoje, além de abordar o impacto desses eventos na economia global, apresentaremos também uma análise dos dados contidos no Relatório Setorial da Indústria de Móveis no Brasil – BRASIL MÓVEIS 2023, elaborado pelo IEMI. Essa análise permitirá uma compreensão mais profunda de como o cenário internacional se reflete no setor moveleiro brasileiro e quais oportunidades ou desafios podem surgir em 2024.
Crise imobiliária no cenário internacional e seu impacto nos móveis
O estudo aponta para um crescimento mais lento na economia dos EUA em 2024, enquanto os mercados europeu e chinês caminham para um “novo normal” de crescimento moderado.
No ano anterior, a China enfrentou uma economia debilitada, marcada por uma crise imobiliária, desemprego e dívidas locais. Apesar disso, o governo estima um crescimento de 5% em 2024. Segundo economistas, um índice ainda abaixo da média anual de mais de 6% na década anterior à pandemia. O desafio para a economia chinesa não reside apenas no crescimento do PIB, há a possibilidade de décadas de estagnação, conhecida como a “Armadilha do Rendimento Médio”.
Com eleições presidenciais nos EUA em 2024, a política desempenhará um papel importante. Conflitos como as guerras entre Israel e Hamas, Rússia e Ucrânia, e as tensões entre EUA e China são fatores que podem ter repercussões significativas no mercado global. Esses eventos moldarão o cenário internacional e, por conseguinte, impactarão a indústria de móveis, exigindo uma análise atenta das tendências e oportunidades emergentes.
Nem sempre foi assim: a evolução econômica na China
Desde a reabertura ao mundo em 1978, a China se destacou como uma das economias de crescimento mais rápido do planeta. Entre 1991 e 2011, registrou um impressionante crescimento de 10,5% ao ano. Após a ascensão de Xi Jinping à presidência em 2012, a expansão desacelerou, mantendo uma média de 6,7% ao ano até 2021.
Atualmente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) adota uma visão mais pessimista, projetando uma gradual desaceleração para 3,5% até 2028, devido à fraca produtividade e ao envelhecimento da população chinesa.
Contudo, a economia não chegou a esta posição da noite para o dia. A adesão inflexível de Pequim à política de “Covid Zero” e regulamentação sobre empresas privadas prejudicaram a confiança e afetaram a parte mais dinâmica da economia, refletindo na desaceleração recente. A fraca procura resultou em persistentes preços baixos ao consumidor, aumentando o risco de uma espiral deflacionista. A crise imobiliária aprofundou-se, levando incorporadoras ao colapso e afetando o setor bancário.
A demografia emerge como um desafio de longo prazo. No ano passado, a população da China registrou sua primeira queda desde 1961, atingindo 1,411 bilhões. A taxa de fertilidade total também atingiu uma mínima histórica de 1,09, comparada a 1,3 dois anos antes. Essa queda demográfica pode resultar em redução da oferta de trabalho e aumento das despesas sociais, levando a um déficit orçamentário. A diminuição da mão-de-obra pode corroer as poupanças, elevando as taxas de juros e reduzindo o investimento. Adicionalmente, a demanda por habitação pode declinar a longo prazo.
No entanto, o governo pode estabelecer novamente a meta econômica em cerca de 5%, com o anúncio previsto para março, durante as reuniões legislativas anuais na China.
Cenário de cortes de taxas nos bancos centrais
Os bancos centrais estão à beira de iniciar ciclos de cortes de taxas, conforme apontado pelo estudo da UBS. Em 2023, a inflação avançou em direção às metas estabelecidas pelos bancos centrais, e a expectativa é que essa tendência prossiga em 2024. Prevê-se que o núcleo da inflação de preços ao consumidor encerre o ano na faixa de 2 a 2,5%. Entre os principais impulsionadores estão a redução da inflação relacionada a proprietários de imóveis, uma demanda do consumidor mais fraca e um crescimento salarial mais lento.
Diante desse cenário, a perspectiva é de cortes de taxas de juros em 2024, impulsionados pela combinação de menor crescimento e inflação mais baixa. No entanto, é provável que a inflação permaneça acima da meta de 2% durante a maior parte, ou todo, o próximo ano.
Os mercados indicam que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, não reduzirá as taxas para menos de 4,2% nos próximos 5 anos. Dessa forma, a política desempenhará um papel importantíssimo em 2024, com a decisão do Fed ganhando destaque.
A busca por um equilíbrio entre estímulo econômico e controle da inflação será uma consideração fundamental para os bancos centrais em todo o mundo, moldando as diretrizes financeiras globais nos próximos anos.
Perspectivas políticas para os EUA e as relações comerciais
Atualmente, as corridas para a nomeação dos partidos políticos nos Estados Unidos têm Joe Biden e Donald Trump como líderes significativos. No entanto, há um risco de insatisfação que poderia impulsionar outros candidatos ou complicar a vitória de um candidato no Colégio Eleitoral, potencialmente levando a decisão para o Congresso.
A possibilidade de um Congresso dividido após as eleições de 2024 é considerável, o que exigiria uma legislação bipartidária. Em um cenário assim, o presidente eleito teria mais influência em questões de política externa, destacando as relações comerciais com a China e a postura dos EUA em conflitos como Rússia-Ucrânia e Israel-Hamas.
A dinâmica política pós-eleitoral pode moldar significativamente as decisões e abordagens adotadas pelos Estados Unidos nessas questões internacionais.
Resultado da balança comercial no setor de móveis
Conforme revelado na 18a. edição do Relatório Setorial da Indústria de Móveis no Brasil – BRASIL MÓVEIS 2023, elaborado pelo IEMI, o saldo da balança comercial do setor, caracterizado pela dedução das importações e das exportações, experimentou uma variação negativa de 5,4% em relação ao ano anterior.
No panorama internacional, o bloco Ásia e Pacífico despontou como o principal exportador em 2022, representando 55,2% do total. Esse desempenho foi notavelmente impulsionado pela China, que sozinha respondeu por 37,5% das exportações do setor, consolidando-se como a líder global. A União Europeia também se destacou, contribuindo com significativos 33,3% nas exportações, apesar de abranger vários países.
Em contraste, a América do Sul registrou uma modesta participação de 0,6%, enquanto o Brasil contribuiu com 0,5%, indicando uma presença relativamente pequena, embora relevante na região. Este panorama destaca a necessidade de estratégias de fortalecimento da competitividade no mercado global por parte da indústria brasileira de móveis.
Destinos dos móveis brasileiros
No que diz respeito aos destinos das exportações brasileiras de móveis em 2022, os Estados Unidos e o Uruguai surgiram como os principais, absorvendo conjuntamente 47,5% do valor exportado. De forma isolada, os Estados Unidos, representam expressivos 39,2% desse montante.
As exportações de móveis prontos, excluindo colchões, totalizaram aproximadamente US$ 810 milhões, refletindo uma diminuição de 11,4% em relação a 2021. Em contrapartida, as importações, atingiram cerca de US$ 190 milhões, indicando uma redução de 26,9%.
Ao analisar o volume exportado em toneladas e o número de peças, observamos uma retração de 28,9% e 27,6%, respectivamente, em relação ao ano anterior. Em termos de valores, a variação negativa foi de 11,4%.
Esses dados sugerem uma dinâmica desafiadora no mercado de exportação de móveis brasileiros em 2022, exigindo uma análise aprofundada das razões por trás dessas tendências e possíveis estratégias de mitigação para fortalecer a posição do setor.
Importações brasileiras de móveis e o cenário de máquinas
Em relação a 2022, a China destaca-se como a principal fonte de importações brasileiras, abarcando uma significativa participação de 72,2% do montante total. Esse destaque reforça a relevância das relações comerciais entre Brasil e China.
No contexto dos principais importadores, os Estados Unidos desempenharam um papel significativo, representando 34,1% do total, comparável à influência da União Europeia como principal bloco importador. A América do Sul contribuiu com 1,0%, enquanto o Brasil apresentou uma participação modesta de 0,1%. Por conseguinte, sugerindo uma demanda relativamente baixa por produtos externos no mercado brasileiro.
Em relação às importações de móveis e colchões, observou-se uma queda de 36,7% em volume de peças e 30,3% quando mensuradas em unidades. O volume importado de assentos e móveis retraiu, enquanto o de colchões registrou crescimento.
Destacando o cenário de máquinas, o Brasil se destacou como importador, com um montante superior a 130 mil dólares em 2022. A China manteve-se como a principal fornecedora, com 34,5% das importações, seguida por Canadá (30,4%) e Itália (11,9%).
Visão global da produção de móveis
A produção mundial de móveis atingiu aproximadamente US$ 445,0 bilhões em 2022, representando um aumento de 1,4% em relação a 2021. A liderança nesse cenário ficou a cargo da Ásia, que contribuiu com expressivos 57,8%, destacando-se a China como uma potência com 43,1% do total.
A União Europeia ocupou a segunda posição, representando 19,5%, seguida pela América do Norte, com 14,8%. Embora o Brasil tenha uma contribuição modesta de 2,8% na produção mundial de móveis, ganha relevância expressiva ao ser contextualizada na América do Sul, com participação de 3,2% no cenário global.
A produção brasileira, representa 99,6% em contraste com os 0,4% dos demais países do continente, consolidando o país como um pilar essencial no setor moveleiro sul-americano.
Ao analisar o consumo, observamos que a América do Sul e o Brasil também apresentam uma participação modesta, com 3,4% e 2,7%, respectivamente. Em contrapartida, China e Estados Unidos compartilham o protagonismo, dada a sua magnitude em termos de população e tamanho de economias. Como tal, evidencia a vasta dimensão de seus mercados consumidores.
As conclusões apontam para oportunidades de crescimento, ressaltando a necessidade de fortalecer a competitividade e destacando a importância do Brasil como um ator central na indústria moveleira sul-americana.
Acompanhe nessa terça-feira (9), entrevista exclusiva com o diretor do IEMI, Marcelo Prado para o Canal Vitrine Setor Moveleiro: Desvendando os rumos do setor moveleiro. Inscreva-se no canal no YouTube. Não perca!