Cinco anos em um: o impacto do e-commerce na indústria moveleira nacional

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e-commerce — Pandemia, isolamento social, Auxílio Emergencial… O ano passado marcou um dos períodos mais atípicos e transformadores não só para o viver, mas para a economia e suas cadeias produtivas e de consumo no Brasil e no mundo. Acelerando e escancarando mudanças que, embora já em curso, deveriam levar anos e até décadas para chegarem ao patamar edificado por esses e outros fatores.

Dentre essas mudanças está a aceleração do comércio eletrônico e de diversos hábitos de consumo relacionados ao universo digital. Questão que evoluiu o estimado para pelo menos cinco anos apenas durante o terceiro trimestre de 2020. Com o segmento “casa e decoração”, aliás, que inclui o mobiliário, sendo impactado de maneira nunca antes vista no País: +24% em volume de pedidos e +53% em faturamento no on-line na comparação do acumulado de 2020 com 2019, segundo o relatório “Webshoppers – 43ª ed.”, publicado pela Ebit | Nielsen.

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Rogerio Dalla Costa, diretor superintendente da Móveis Videira, empresa que vivenciou essa evolução, conta que a empresa viu a fatia do on-line crescer substancialmente no ano passado: “Em 2012, nossos clientes dos Estados Unidos começaram a vender muito nossos móveis nos sites americanos. Com isso, começamos a investir nos clientes aqui no Brasil, pois sabíamos que era questão de tempo para as vendas on-line de móveis crescerem também em nosso País. Hoje percebemos que fomos felizes na escolha. Apesar do desafio de nos adequar ao ritmo acelerado que os negócios tomaram desde o último ano, este segmento já representa 44% das nossas vendas totais no mercado interno e 38% no mercado externo.”

Evolução do e-commerce em 2020

As vendas no varejo eletrônico de uma forma geral aumentaram 41% entre 2019 e 2020. Um crescimento que, embora viesse em ascensão, é amplamente superior aos resultados de anos anteriores (veja tabela abaixo). E não foi só a quantidade de vendas que cresceu. Estima-se que o volume nominal, ou seja, o montante arrecadado pelas vendas virtuais tenha saltado de R$ 61,9 bilhões em 2019 para R$ 87,4 bilhões em 2020.

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Comércio eletrônico segue avançando em 2021

Seguindo a trajetória de alta observada no último ano, o primeiro semestre de 2021 também apontou crescimento do e-commerce em todo o País. Segundo publicado na recém lançada 44ª edição do relatório “Webshoppers” (Ebit | Nielsen), o comércio eletrônico bateu novos recordes no Brasil. Foram realizados 100 milhões de pedidos (7% a mais do que na primeira metade de 2020) a um ticket médio de R$ 534 (aumento histórico de 22% na comparação).

Com isso, o e-commerce atingiu R$ 53,4 bilhões em vendas nos primeiros seis meses de 2021. Valor que representa avanço de 31% no comparativo com o mesmo período do ano passado. O segmento “Casa e Decoração” é um dos destaques, com alta de 155% em vendas e de 67% em pedidos.

O fato é que com a necessidade de se ficar em casa, a adaptação das atividades externas (trabalhar, estudar, se exercitar…) ao ambiente doméstico e as restrições físicas, que influenciam negativamente na rotina do varejo físico, a pandemia acelerou a adoção do e-commerce quase que da noite para o dia. Gerando uma ruptura ainda sentida na cadeia de abastecimento e produção, mas também trazendo oportunidades inovadoras para o setor moveleiro.

Vendas de oportunidade 

“No início da pandemia, o mercado moveleiro sofreu uma pressão muito grande, como a ausência forte de insumos, por exemplo. Mas se há um lado positivo em toda essa dinâmica é que a situação levou o empresariado do setor a buscar alternativas. Descobrindo, inclusive, novos canais de importação e exportação, bem como diversificando sua carteira de produtos e canais de venda”, fala o diretor comercial da Eucatex, Paulo Freitas.

Ou seja, houve o entendimento de que podemos trabalhar em multicanais, com produtos mais cíclicos. Abriu-se, então, um novo horizonte de negócios que o Brasil até então desconhecia ou pouco explorava. Dois exemplos são as vendas de móveis em lojas virtuais e a diversificação de produtos, incluindo o mobiliário, em home centers. “A melhor estratégia é estar onde o cliente está”, afirma Freitas.

Afinal, as vendas de materiais de construção são o grande destaque do e-commerce neste ano, segundo a “Sondagem do Comércio” realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). No estudo, a parcela média de vendas on-line até junho de 2021, neste segmento, ficou em 26,6%. Ou seja, acima da média para o varejo ampliado, delimitada pela entidade. E bem, quem reforma ou constrói tende a querer móveis novos.

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Diversificação de produtos e novos canais de venda de móveis

Pesquisa realizada pela Fundação de Dados em parceria com a Eucatex com consumidores das classes A/B/C que haviam realizado obras ou reformas residenciais durante a primeira onda da pandemia no Brasil, revelou que o principal canal utilizado pelos entrevistados para a compra de móveis foram os magazines — como Magazine Luiza, Casas Bahia, Ponto Frio, Lojas Cem, entre outras —, representando 42,7% desses consumidores. Seguidos pelas lojas especializadas em móveis, com 36%. E também os e-commerces diversos (não especializados em móveis), em terceiro lugar, com 22,2%.Mais de 50% dos consumidores que compraram móveis pela Internet na primeira metade de 2020, no entanto, buscaram apoio de loja física ou showroom para visualizar, tocar, sentir, checar ou manusear o móvel. Provando, assim, que a multicanalidade é mesmo o caminho.

“Os canais hoje se encontram em um momento misto. Não tenho mais clientes [lojistas] 100% on-line ou 100% físicos, todos possuem canais duplos de venda”, aponta a diretora comercial e industrial da Poliman Móveis, Ana Paula Manfrin. “Mas é fato que o consumo pré e durante a pandemia migrou em quase toda sua totalidade para apps, tablets e computadores. Consumidores antes leigos, aprenderam rapidamente a dominar essas ferramentas, onde canalizaram suas compras tornando-as meios usuais de aquisições nos mais diversos segmentos. Para nós, o impacto desse movimento foi de alta demanda no ano de 2020.”

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Mas será que o mercado moveleiro brasileiro está realmente preparado para o e-commerce? 

Para além do quesito tecnologia, entender as transformações necessárias nos modelos de gestão, modalidades logísticas, atendimento ao cliente, design, estratégias on-line e off-line, entre outros pontos, é essencial para se reestruturar a presença dos negócios tanto no universo virtual quanto no físico. “A Telasul já atua no modelo P1 há mais de uma década. Ou seja, na venda direta para sites de e-commerce. Mas desde 2017, temos feito esforços para ampliar nossa presença no ambiente digital em mais canais. Para isso adotamos novas modalidades de vendas e entrega, contando com clientes cross-docking, clientes dropshipping e também com nossa loja própria dentro dos mais importantes marketplaces do País”, conta Marcelo Ariotti, diretor-presidente da Telasul.

A Politorno compartilha de uma história parecida de adequação até chegarem ao modelo diferenciado que oferecem ao mercado atualmente. “ A partir de 2009, quando o e-commerce se tornou uma realidade mais latente, surgiu a oportunidade de vendermos nossos produtos por este meio. Por se tratar de itens de fácil montagem, os mesmos se encaixavam muito bem nos requisitos exigidos”, relembra o gerente comercial da marca, César Nepomuceno. “A Politorno Store nasceu, então, com a finalidade de ser um laboratório para novos modelos, cores e tendências. Com isso, oferecemos aos varejistas a oportunidade de colocar um produto em linha, já testado. Concomitantemente fortalecendo nossa marca e proporcionando ao consumidor a experiência de comprar diretamente da fábrica.”

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