Com taxa de juros ainda em alta, setor moveleiro deve rever gestão

Não foi desta vez que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a taxa de juros. A medida, que tem o objetivo de conter o consumo e, por consequência, a inflação, vem sendo criticada pelo presidente da república, Luís Inácio Lula da Silva, e pelos empresários. O varejo, setor que luta para recuperar o fôlego, também não está contente com a atuação do Comitê. 

No entanto, a boa notícia é que a entidade descartou novas altas e um aperto maior das medidas nos próximos meses. Analistas atribuem a mensagem à desaceleração da inflação brasileira, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que teve alta de 0,23% em maio, um percentual abaixo da expectativa. 

O resultado acumulado em 12 meses foi de 3,94% contra os 4,18% de abril. O boletim Focus também trouxe expectativas de uma inflação mais baixa para 2023, com uma alta de 5,12%, quando há quatro semanas, era de 5,8%, chegando a 4% em 2024. 

Para o chefe de economia para Brasil e de estratégia para América Latina do Bank of America (BofA), David Beker, o mês de agosto pode ser de corte da taxa básica de juros (Selic). A declaração foi dada ao Jornal Valor Econômico. O economista acredita em uma redução de 0,5 ponto percentual. 

Situação do varejo e a taxa de juros

Enquanto isso, o varejo apresenta estabilidade. É o que indicam os dados da última Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em abril (referência dos números do estudo), o comércio varejista brasileiro variou 0,1% em relação a março. Foi o quarto mês consecutivo sem variação negativa.

A atividade Móveis e eletrodomésticos, no entanto, esteve entre as cinco atividades que recuaram, na série com ajuste sazonal, em -0,5%, junto a Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-7,2%), Tecidos, vestuário e calçados (-3,7%), Combustíveis e lubrificantes (-1,9%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,4%). Na comparação com o mês de abril de 2022, a queda de Móveis e eletrodomésticos foi de 2,4%.  

Para o CEO da Addemonitor, empresa especializada em dados do setor moveleiro, Laércio Comar, o desempenho do varejo no país está mais ligado à gestão do que à manutenção da taxa Selic. “Temos um cenário de aumento da capacidade de produção das indústrias, em função da demanda que aconteceu durante a pandemia”, pondera. 

Segundo ele, hoje as indústrias moveleiras trabalham com uma capacidade produtiva 30% maior em relação ao período pré-pandemia. “Então, é a concorrência que faz com que o mercado pareça pior. Para vender mais, é preciso aceitar que a venda vai acontecer com certo prejuízo”, avisa.

É aí que entra, de acordo com o especialista, a importância de uma boa gestão – tanto na indústria, como no varejo. O que é exatamente igual – em termos de lógica e não de volume – à organização financeira pessoal, reforça Comar. “Sempre há os que poupam bem e os que vivem pendurados”, compara.

Quando se pensa em uma situação de alta de juros e essa concorrência mais acirrada, com um consumidor comprando mais barato, o lucro tende a ser bem menor ou acabar. Quem trabalha com lastro, consegue se manter. Mas quem trabalha com dinheiro de terceiros, acrescenta Comar, precisa de um crescimento maior. 

Dificuldades reais são pré-pandemia

Ainda, de acordo com Laércio Comar, é preciso diferenciar o que é mercado ruim de uma situação ruim. “É a competitividade que está em alta, fazendo com que o resultado seja ruim. Empresas que, eventualmente, estejam em dificuldade real, já apresentavam esse cenário antes da pandemia da covid-19”, diz.  

“Eu acredito que as empresas que já estavam em dificuldade financeira ou estrutural, com falta de organização interna, pode ter agravamento neste segundo semestre. Para as demais, com certeza vai ser mais fácil”, prevê.

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