Como o e-commerce mudou os rumos do varejo de móveis em 2020

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Após os primeiros casos do novo Coronavírus serem registrados em Wuhan, na China, o varejo físico iniciou seu processo de retração. Uma consequência, inicialmente, das questões sanitárias que englobam o combate à Covid-19 em todo o mundo. Como resultado disso, no Brasil, datas tradicionais do comércio, como Páscoa e Dia das Mães, experimentaram um impacto significativo. Apresentando uma queda média de respectivamente 35% e 59,2% no varejo físico, de acordo com dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Como bem falou o renomado cientista Albert Einstein, no entanto: “No meio da dificuldade encontra-se a oportunidade”. E é nessa busca, diante de um cenário tão incerto, que milhares de empresas em todo o mundo passaram a migrar suas operações comerciais para o digital. Só no Brasil, houve aumento de mais de 400% no número de empresas passando a operar no universo on-line. A informação é da Associação Brasileira do Comércio Eletrônico (ABCOMM). A boa notícia é que não foram apenas as empresas que adotaram as vendas on-line no período. Mais de quatro milhões de novos usuários foram às redes realizar suas compras de maneira remota – eis, então, a oportunidade!

Nesse cenário, conforme aponta pesquisa realizada pela consultoria americana AT Kearney, o Brasil está entre os dez países mais promissores para as vendas virtuais em todo o mundo. De acordo com dados do Mercado Livre, a penetração do comércio eletrônico no varejo brasileiro dobrou nos primeiros meses da pandemia. Saltando, assim, dos 6% anteriores para mais de 12% [dados de julho de 2020]. Com o aumento dos casos de Covid-19 e as restrições físicas ainda sendo uma realidade por aqui, infelizmente, o varejo on-line continua crescendo acentuadamente. Puxado, dessa maneira, pelo processo de digitalização forçada do mercado. Contribuindo ativamente para a mudança dos hábitos de compra do consumidor.

Varejo tradicional x Varejo Online: Impactos da pandemia na expectativa do consumidor

Após um 2019 com lucro em queda e redução no caixa, as Lojas Cem – uma das únicas grandes redes varejistas que não opera online; vendendo exclusivamente por meio de suas unidades físicas e tendo sempre defendido com bastante ímpeto essa estratégia no mercado -, apresentou receita zero desde que as restrições ao comércio começaram, segundo informações da revista Valor Econômico no final de abril de 2020. Com isso, a empresa já enfrentou o fechamento momentâneo de mais de 200 lojas durante o ano, além de ter colocado mais de 11 mil colaboradores em férias coletivas.

Pelo baixo investimento em inovação, ainda, mesmo com a reabertura de algumas unidades, inúmeros clientes da loja continuaram impossibilitados de realizar o pagamento de carnês. Isto, visto que, por não oferecerem uma plataforma on-line, esses clientes precisavam comparecer fisicamente às unidades. Fator que não é uma possibilidade tanto para parte da população que seguia firme no isolamento social quanto em muitas cidades brasileiras que mantiveram seu comércio fechado. Impactando não só no planejamento financeiro do negócio. Mas propiciando uma experiência negativa aos seus clientes. Com grande parte deles tendo migrado para concorrentes que ofereceram mais flexibilidade e praticidade em suas próximas compras.

Deste modo, a rede nacional com mais de 60 anos de história avistou concorrentes diretos em pleno processo de transformação comercial; com estes aumentando suas participações de mercado em tempos de pandemia e proporcionando experiências de compra cada vez mais completas a seus consumidores; enquanto amargava incontáveis perdas e prejuízos.

Varejo online: O outro lado da moeda

Por outro lado, a rede de varejo Magazine Luiza, por exemplo – concorrente direta das Lojas Cem -, declarou que suas vendas on-line representaram 53% do faturamento total da empresa nos primeiros meses deste ano comparando-se ao mesmo período do ano anterior. Já o comércio físico apresentaria crescimento de 8% na comparação dos dados, caso não houvesse restrições à abertura de lojas em muitas regiões do País, de acordo com análise da Mercado & Consumo.

O Magazine Luiza, ao contrário da maioria das empresas no varejo brasileiro, aliás, conseguiu aumentar suas vendas durante a pandemia. Até final de maio, mesmo com as lojas físicas fechadas, as vendas cresceram 46% em comparação com o mesmo período de 2019. Dessa forma, o grupo viu seu e-commerce crescer em 73% no primeiro semestre de 2020.

Claro, apesar do crescimento nas vendas e, consequentemente, da receita líquida, é sabido que o lucro da empresa caiu consideravelmente durante o período. A perda de vendas decorrente do fechamento temporário das lojas físicas e o aumento das despesas em relação à receita líquida forçaram uma readequação da margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).

Varejo em 2020: O lucro como indicador secundário de sucesso

Ao mesmo tempo em que experimentou prejuízos financeiros, a empresa continuou superando seu valor de mercado. Mostrando que lucro, sobretudo num momento como o que estamos vivendo, não é, definitivamente, o único indicativo de sucesso que devemos buscar enquanto empreendedores. Para se ter uma ideia, a Magalu (como é chamado o braço digital do grupo) ultrapassou pela primeira vez os R$ 110 bilhões na Bolsa de Valores durante este ano. O superapp Magalu, aliás, foi um dos aplicativos de e-commerce mais baixado no mundo em 2019, segundo pesquisa realizada pela consultoria americana App Annie.

Para Luiza Trajano, a pandemia acelerou a inovação e a criatividade no varejo. Forçando, então, com que a maior parte dos lojistas – ou pelo menos os mais assertivos – passassem a investir tempo e dinheiro para a estruturação de suas operações on-line. Algo que já vinha sendo postergado por muitos há um bom tempo. Creditando, portanto, os bons números de sua empresa a uma cultura de alta adaptação e investimentos, que já vinha mirando suas estratégias no digital há um bom tempo, saindo um passo à frente no e do mercado.

Além disso, para preservar o caixa da companhia, além da adoção das medidas previstas na MP 936 e a renegociação de aluguéis, a empresa emitiu uma debênture no mês de abril que remunerou a taxa do CDI mais 1,5% de juros. Essa teria sido uma medida cautelosa do grupo. Buscando, assim, estar preparado para cenários mais desafiadores do que o que era previsto. Mas também deixando-os prontos para oportunidades nos meses que se seguiram.

Vale destacar que com a reabertura gradual de suas lojas, a empresa apostou bastante no modelo “figital” – temos falado bastante sobre o conceito em diversas etapas da cadeia aqui na Plataforma de Negócios Setor Moveleiro. Conectando às vendas on-line com a retirada em lojas físicas. Otimizando, assim, sua modalidade de entrega e agregando um novo valor à experiência de compra de seus clientes. Aliás, foi justamente falando sobre como gerar oportunidades por meio do foco na experiência de consumo, que em parceria com Pedro Block, key account de marketplace da Electrolux, demos continuidade à série “E-commerce e as expectativas do novo consumidor”.

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