Nós falamos ontem: a crise no custo de vida e a perda do poder de compra têm afastado os consumidores das lojas — leia mais aqui. Diante do perigo de uma recessão global, a instabilidade econômica e política interna no País, ainda, parece ter feito desmoronar de vez o humor do consumidor brasileiro. A análise é da coordenadora das Sondagens do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), Viviane Seda Bittencourt.
A confiança do consumidor brasileiro iniciou o ano com queda de 2,2 pontos, atingindo 85,8 pontos em janeiro. O recuo ocorreu após avanço de 2,7 pontos em dezembro. Em médias móveis trimestrais, o índice caiu 0,9 ponto, para 86,4 pontos, na segunda queda seguida.
Dado levantado por meio de sondagem realizada pela FGV, então, a pesquisa revela que o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) vem se deteriorando devido ao pessimismo em relação aos próximos meses. Embora as famílias de menor poder aquisitivo ainda se mantenham otimistas.
Índice de Confiança do Consumidor brasileiro
“A percepção sobre a situação atual não se altera muito em relação aos meses anteriores. Ou seja, há uma desaceleração do mercado de trabalho, endividamento e taxa de juros elevados que continuam diminuindo as intenções de compras nos próximos meses”, afirma Viviane. Que explica que embora haja uma equiparação nos números, os resultados girando em torno dos 80 pontos demonstram um nível baixo de confiança em termos históricos.
O Índice de Situação Atual (ISA) se manteve relativamente estável pelo segundo mês consecutivo, variando 0,2 ponto, para 71,1 pontos. Enquanto o Índice de Expectativas (IE) recuou 3,6 pontos, para 96,7 pontos, retornando a níveis abaixo da neutralidade. Entre os quesitos que compõem o ISA, houve piora da satisfação das famílias sobre a situação econômica e melhora das avaliações sobre as finanças pessoais. O indicador que mede a satisfação sobre a situação financeira das famílias subiu 0,8 ponto, para 64,4 pontos; enquanto o indicador que mede as avaliações sobre a situação econômica recuou 0,5, para 78,3 pontos e chega ao seu pior resultado desde julho de 2022 (77,9 pontos).
Entre os quesitos que compõem o Índice de Confiança do Consumidor, o que mais contribuiu para a queda no mês foi o que mede a perspectiva sobre a situação financeira das famílias nos próximos seis meses. O indicador caiu 7,6 pontos, para 97,4.
No mesmo sentido, os indicadores que medem o grau de otimismo com a situação econômica geral e a intenção de compra de bens duráveis recuaram 1,7 e 1,2 ponto, para 113,4 e 79,6 pontos, respectivamente.
Confiança é maior entre as famílias de baixa renda
É fato, contudo, que a confiança em janeiro poderia ter caído mais, não fosse as famílias de baixa renda, que mostram mais otimismo com a situação de consumo nos próximos meses. Um indicativo para fabricantes e lojistas de móveis populares.
Ao calcular o ICC em quatro faixas de renda, a FGV observou que, entre famílias com renda de até R$ 2.100 mensais, a confiança não somente não caiu, como subiu em 4,3 pontos. Em contrapartida, nas famílias com renda acima de R$ 9.600, a confiança recuou 3,8 pontos, seguindo com as expectativas em queda pelo quarto mês consecutivo.
Fatores que impactam a confiança do consumidor brasileiro
“Em menor escala do que o contexto macroeconômico desfavorável ao consumo, os ataques de 8 de janeiro aos prédios dos Três Poderes, em Brasília, também ajudaram a diminuir o bom humor em consumir”, acrescentou a coordenadora da pesquisa em publicação do Valor Econômico. Para ela, os acontecimentos daquele dia “transmitiram sentimento de instabilidade política, não somente para o empresário como também para o consumidor”.
Ela explica que isso acontece porque a confiança do consumidor não é uma variável apenas na parte racional econômica. “Quando eles fazem uma avaliação, eles explanam a parte de avaliação econômica, mas também a parte de sentimento”, ressaltou.
Com isso, compreende-se que enquanto os ânimos no Brasil permanecerem instáveis, instável também será a confiança e as intenções de consumo.
No setor moveleiro, contudo, a projeção é de um crescimento moderado, mas bem-vindo nas vendas no varejo em 2023. Estimativas do IEMI apontam para leve aumento neste ano. Com expectativas mais animadoras a partir de 2024.
Tudo, claro, dependerá da evolução do cenário econômico interno e externo. Mais especificamente do controle inflacionário na cadeia produtiva de móveis e colchões, o que se relaciona também a questões como a Guerra na Ucrânia, a retomada do consumo na China, entre muitas outras situações que impactam diretamente nos preços das commodities internacionais.
De toda forma, no cenário atual o panorama observado para o varejo de móveis e colchões a partir deste ano é positivo. O que deverá também favorecer a indústria do setor, que acumula, ainda, expectativa de reaquecimento das exportações, que esfriaram em 2022. No que cabe ao empresariado, vamos juntos buscar reverter a falta de confiança do consumidor brasileiro.