Produção brasileira de móveis
Na semana passada, nós trouxemos AQUI os principais insights e indicadores levantados pela CSIL Milano, referência em pesquisas relacionadas à cadeia moveleira global, por meio da última edição do seu “Barômetro da Indústria de Móveis”. Embora o estudo destaque o tom pessimista das empresas internacionais do setor moveleiro mundial, chama a atenção, contudo, o que diz respeito à América Latina. Sim, apesar dos pesares, há otimismo no ar.
No continente latino-americano, cerca de 62% apostam no crescimento. Apenas 25% falam em queda na produção e aproximadamente 13% preveem um período de estabilidade.
E, afunilando ainda mais esse panorama, como está a situação da produção brasileira de móveis?
Bem, o relatório “Conjuntura de Móveis”, realizado mensalmente pelo IEMI com exclusividade para a Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (ABIMÓVEL), apontou queda de 16,2% no volume de produção brasileira de móveis e colchões no acumulado de 2022 em comparação ao ano anterior.
Segundo a entidade, entre muitos motivos, o recuo se deve especialmente à demanda aquecida por mobiliário e itens para casa registrada em 2021. Naquele momento, a crise sanitária provocada pela Covid-19 alavancou o modelo de trabalho em home office e o ensino remoto que, de incipientes, generalizaram-se. Naquele momento, as vendas de mobiliário aumentaram, para voltarem a desacelerar em 2022, com o retorno às atividades presenciais. A isto se soma o aumento exponencial do custo de vida das famílias. Resultando, então, numa queda pela procura por móveis na ponta.
Os dados da ABIMÓVEL mostram que a questão de custo de vida, aliás, se torna ainda mais complexa no setor moveleiro, que teve de lidar com carga inflacionária de 18,38% sobre os preços no varejo, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Inflação superior à média geral no país, que ficou em 5,79% no ano.
Depois da subida nas vendas em 2021, a queda em 2022: diferentes cenários, diferentes resultados
Embora a indústria brasileira de móveis e colchões tenha alcançado o melhor resultado do ano, na variação mês a mês, em novembro de 2022, com um volume de 34,2 milhões de peças fabricadas, o mês de dezembro registrou recuo de 13,6%, com 29,5 milhões de peças produzidas naquele mês.
No total do ano de 2022, de janeiro a dezembro, estima-se que a indústria brasileira de móveis e colchões tenha produzido cerca de 371,6 milhões de unidades.
O estudo da ABIMÓVEL também destaca queda de 13,4% no consumo interno de móveis e colchões em dezembro de 2022, com a venda de 28,8 milhões de peças. Comparativamente a dezembro de 2021, a queda foi de 1,3%. Já o consumo aparente em 2022 ficou 15,9% abaixo do registrado no ano anterior.
Abimóvel aposta em melhora do desempenho do setor em 2023, ancorado em investimentos da indústria e otimização das exportações
Para Irineu Munhoz, presidente da ABIMÓVEL, porém, a estimativa para 2023 vem com otimismo. “Apesar do recuo produtivo no setor ao longo de 2022, espera-se que a produção e as exportações de móveis voltem a crescer em 2023”, comenta.
Para o dirigente da principal entidade do setor moveleiro no país, os investimentos em tecnologia “têm sido impulsionados pelas indústrias para reduzir custos ao mesmo tempo em que aumentam a capacidade produtiva e a competitividade”. Segundo Munhoz, a entidade “continua trabalhando por políticas públicas que garantam condições mais favoráveis para o crescimento e o fortalecimento de nossa indústria e setor”.
É aí que um ponto bastante importante entra em cena mais uma vez, com poder de mudar ou piorar o destino da indústria brasileira em todos os setores, incluindo a produção de móveis.
Custo Brasil ainda é obstáculo para o crescimento da produção brasileira de móveis
Em enquete realizada pela própria Plataforma Setor Moveleiro, com 113 respondentes da indústria brasileira de móveis, quando questionados sobre “os principais fatores que impedem o crescimento de suas empresas”, algumas respostas recorrentes vieram à tona: legislação tributária, juros altos, inflação, alto custo para investimentos, falta de crédito, enfim, o tal do Custo Brasil!
“Custo Brasil” é um termo utilizado para descrever o conjunto de fatores que tornam os custos de produção no Brasil mais altos do que em outros países. Esse conjunto de fatores pode incluir desde a complexidade e a burocracia do sistema tributário e fiscal, até a falta de investimentos em infraestrutura, como transportes e energia, e a alta carga tributária sobre as empresas.
Ou seja, o “Custo Brasil” é um obstáculo para a competitividade das empresas brasileiras no mercado interno e externo. Já que torna os produtos brasileiros mais caros e, consequentemente, menos atraentes para os consumidores. Além disso, o alto custo de produção também pode limitar o crescimento e a expansão das empresas no mercado interno. Lembrando que a indústria nacional representa 20,4% do PIB brasileiro, paga 33% dos impostos federais e contribui com 41% dos impostos estaduais.
De acordo com estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Movimento Brasil Competitivo (MBC), o chamado “Custo Brasil” consome R$ 1,5 trilhão das empresas brasileiras anualmente, em sua maior parte devido ao cipoal tributário.
“Precisamos ter o sentido da urgência e atacar de frente esse problema. Só assim será possível aumentar investimentos, elevar o crescimento da economia, reduzir o desemprego e atingir um patamar de desenvolvimento econômico e social consistente e sustentado”, fala o presidente ds CNI, Robson Braga de Andrade. “Do contrário, o Brasil vai continuar com o índice de crescimento pífio ocorrido na última década.”
Reforma Tributária é um caminho para o impulsionamento da indústria brasileira nos próximos anos
Por essa razão, a redução desse custo tem sido uma das principais demandas do setor produtivo no Brasil. A Reforma Tributária, por exemplo, é uma das medidas que podem contribuir para a diminuição do “Custo Brasil”, simplificando o sistema tributário e reduzindo a carga tributária sobre as empresas. Outras medidas incluem investimentos em infraestrutura e a desburocratização de processos produtivos.
Nesse sentido, está em movimentação na Câmara o projeto de Reforma Tributária ampla, que deve ser votado ainda nesse primeiro semestre de 2023 — veja calendário aqui. A Reforma Tributária é aguardada pelos brasileiros há quase três décadas. Nunca houve consenso em torno de uma completa mudança em um país que tem um dos sistemas tributários mais complexos de todo o mundo. Desde a promulgação da Constituição de 1988, 420 mil normas tributárias foram criadas, de acordo com estudo da ONG Instituto Liberal.
Entidades defendem Reforma Tributária para impulsiona produção brasileira
A CNI e a ABIMÓVEL vieram a público mais de uma vez em defesa da celeridade nos trâmites à época da PEC 110. Proposta que passou a ser debatida no Senado ainda em 2019, que, em suma, pretendia extinguir uma série de tributos como PIS, COFINS, IPI, ICMS e ISS por um Imposto único sobre Operações com Bens e Serviços (IBS).
“Essa medida é fundamental. Não só para o desenvolvimento do setor como para destravar o crescimento da economia, criar empregos e melhorar a qualidade de vida da população como um todo. Colaborando para colocar a indústria e os produtos brasileiros em igualdade de condições com a concorrência internacional tanto no mercado interno quanto externo”, já pontuava a CNI.
“A Reforma Tributária Ampla, que tem na PEC 110 seu alicerce, será capaz de acelerar o ritmo de crescimento econômico. Pois elimina distorções, desonera exportações e investimentos, simplifica e dá mais transparência à tributação sobre o consumo no Brasil”, completa a ABIMÓVEL, ao mesmo tempo.
Reforma Tributária pode beneficiar indústria moveleira no Brasil
Se aprovada, a medida poderá trazer uma série de benefícios para a economia do país, incluindo, então, a redução do Custo Brasil e o aumento da competitividade das empresas. No setor moveleiro, isso pode resultar em um aumento na produção e na lucratividade dos negócios em toda a cadeia.
De acordo com especialistas, a Reforma Tributária poderá simplificar o sistema tributário brasileiro, tornando-o mais fácil para as empresas entenderem e cumprirem suas obrigações fiscais. Isso pode reduzir os custos administrativos e burocráticos das empresas, permitindo que elas se concentrem mais em sua produção e na melhoria da qualidade de seus produtos.
Além disso, a medida também poderá reduzir a carga tributária sobre as empresas, tornando seus produtos mais competitivos em relação aos importados. Isso pode ajudar a aumentar a demanda não só por móveis prontos, mas também por insumos, componentes e outros itens produzidos no Brasil, o que pode levar a um aumento na produção e nas vendas, além do fortalecimento da indústria nacional.
Outro ponto importante é que a diminuição do Custo poderá trazer investimentos em infraestrutura, como transportes, energia e comunicações. Isso pode melhorar a logística da indústria moveleira e reduzir os gastos de transporte e armazenamento dos produtos, permitindo que as empresas reduzam seus preços e aumentem sua lucratividade.
Por fim, com a aprovação da Reforma Tributária e a diminuição do Custo Brasil, a indústria moveleira brasileira poderá se tornar mais competitiva em relação a outros países. Isso pode levar a um aumento na exportação de móveis brasileiros, gerando mais receita para as empresas e para o país como um todo.