Uma das pautas mais delicadas e importantes para a indústria de móveis e colchões nos últimos meses tem sido, indiscutivelmente, a crise no abastecimento de matérias-primas e insumos produtivos variados. E, claro, não poderia ser diferente. Com uma demanda superaquecida desde o início do segundo semestre de 2020, a falta e as consequentes altas extremamente elevadas no preço de materiais essenciais para a atividade industrial moveleira vêm causando desajustes significativos entre a oferta e a procura. Freando, assim, a expansão do setor e trazendo prejuízo, desconforto nas relações comerciais e bastante frustração.
Monitorando a questão desde o acirramento da pandemia no Brasil, a Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (ABIMÓVEL) reuniu-se no último dia 23 de março de 2021, com equipe do Ministério da Economia, coordenada pelo Secretário Especial Carlos da Costa, e diversas entidades nacionais para um alinhamento técnico em relação ao desabastecimento e aumento de preços dos insumos e matérias-primas para a produção industrial. A seguir você acompanha parte do comunicado divulgado pela entidade.
Entendendo a crise de abastecimento de matérias-primas na indústria moveleira
“A interrupção do comércio físico e da produção industrial, seguida por uma explosão surpreendente do consumo de móveis e colchões durante o ano passado, pegou as empresas com baixos estoques. Levando, então, a um colapso na cadeia de suprimento, que não conseguiu dar conta da demanda urgente e crescente que se estabelecia. Deixando, assim, a indústria sem material para trabalhar e gerando longas filas de espera no varejo”, pontua a entidade.
De fato, pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), compartilhada no comunicado, revelou que em outubro do ano passado a falta de insumos atingiu os maiores níveis em 19 anos, o que se confirma ao ouvirmos os industriais. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 68% das empresas de todos os setores pesquisados pela instituição relataram problemas para encontrar matérias-primas dentro do mercado doméstico no último semestre. Daqueles que importam, a pesquisa mostrou que 56% deles também sofreram com o mesmo impasse.
Com uma expectativa geral de que a situação se estabilizasse no primeiro trimestre de 2021, infelizmente o setor ainda não observa sinais de melhora. “O problema continua, entre outras questões, em virtude da disrupção dos processos produtivos, do desequilíbrio cambial e da alta muito significativa no valor do frete internacional em decorrência da pandemia que continua exigindo medidas restritivas e abalando economias ao redor do mundo”, reforça a ABIMÓVEL.
Impacto no setor moveleiro: Aumento nos preços chega a mais de 170%
Entre as indústrias de móveis e colchões, os problemas mais significativos estão no fornecimento de painéis de madeira, como MDF. Contratempo que se estende nos segmentos do aço, ferragens e espumas, essenciais para a produção. Dessa forma, muitas empresas já reduziram o ritmo de atividade por falta de matéria-prima. E quem consegue produzir, muitas vezes não pode distribuir o produto por falta de embalagens de papelão, plástico e vidros.
A escassez, somada ao câmbio desvalorizado, portanto, resulta em alta de preços. Chegando, assim, a ultrapassarem 170% em algumas categorias. Todo esse descompasso, não só reprime como também onera a produção. Com os reajustes imediatos na porta da fábrica esmagando as margens das indústrias nas vendas para o varejo. Aliás, nós falamos sobre este repasse neste link.
Crise de abastecimento afeta a todos os setores produtivos
Não por menos, a questão está na mesa das discussões com vários atores envolvidos. Onde a ABIMÓVEL busca uma alternativa de solução junto ao Governo e demais entidades de classe, cerca de 100 setores, que também sofrem com o problema. “É importante frisarmos que o grau de dificuldade em relação ao assunto é bastante alto. Considerando, especialmente, que este não é um problema exclusivo da cadeia madeira e móveis. Com todas as cadeias produtivas, então, enfrentando crise no abastecimento”, compartilha a direção da associação moveleira, que acredita que o momento seja de, cada vez mais, pensarmos e agirmos como uma cadeia. Afinal, tanto o fornecedor quanto o fabricante enfrentam desafios neste momento.
Outro assunto determinante levantado pela entidade é a necessidade de reformas urgentes para o avanço do Brasil. “Não há mágica a se fazer, as reformas precisam avançar!“, finaliza a ABIMÓVEL. Uma segunda reunião com a equipe do Ministério da Economia deverá ocorrer ainda nesta semana com atualizações do Governo Federal sobre a questão.