Na semana passada celebramos dois anos de Plataforma Setor Moveleiro. Para compreender melhor o cenário da cadeia do mobiliário e o ambiente de negócios neste período, convidamos alguns dos principais profissionais e representantes do setor para destacar pontos positivos e negativos desses últimos tempos — veja aqui. Algo foi unânime entre eles: o descompasso entre oferta e demanda, com a crise de matérias-primas escalonando preços e atravancando o ciclo produtivo, tem sido, sem dúvida, o maior desafio enfrentado pela indústria moveleira desde 2020.
Mas enquanto a falta ou o alto custo de matérias-primas ainda ocupa a primeira posição no ranking dos principais problemas enfrentados pela indústria brasileira como um todo no primeiro trimestre de 2022, um indicativo animador é que o percentual de assinalação deste problema vem sendo reduzido gradualmente desde o segundo trimestre do ano passado.
Na comparação com o último trimestre de 2021, o percentual de assinalações caiu 1,8 ponto percentual. Já na comparação com o primeiro trimestre de 2021, a queda alcança 8,4 p.p. Demonstrando, assim, uma possível estabilização na cadeia de abastecimento.
O índice do nível de estoque efetivo em relação ao planejado, aliás, manteve-se praticamente no nível planejado pelas empresas em março de 2022, registrando 50,3 pontos em março.
As informações são da Sondagem Industrial, realizada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Principais problemas enfrentados pela indústria brasileira no 1º tri de 2022
Contudo, “como nem tudo são flores”, como dizem por aí, outros problemas têm passado a receber mais destaque pelos empresários. Tais como a demanda interna insuficiente, as taxas de juros elevadas e a dificuldade na logística de transporte, que aumentaram no trimestre.
A elevada carga tributária persiste em segundo lugar no ranking dos principais problemas do trimestre. Sendo assinalada, então, por 30,4% dos empresários industriais. Uma redução de 2,8 p.p. em relação ao trimestre anterior.
A demanda interna insuficiente, por sua vez, aparece em terceiro lugar, com 25,5% das assinalações dos empresários industriais. Houve, pelo segundo trimestre consecutivo, aliás, aumento no número de citações, acumulando alta de
6,1 p.p. no período. O problema situava-se na quinta posição do ranking de principais problemas no terceiro trimestre de 2021.
Alta nas taxas de juros e crise de matéria-prima
As taxas de juros elevadas ocupam a quarta posição do ranking. Isso porque o problema teve um aumento expressivo neste trimestre (+6,6 p.p.), sendo apontado por 20,8% dos empresários. Esta é a quarta elevação consecutiva da assinalação. Na comparação com o primeiro trimestre de 2021, o percentual aumenta 13,2 pontos.
Sobre as taxas de juros, ainda, é importante ressaltar que este é o maior valor percentual assinalado para essa questão desde o primeiro trimestre de 2017. Para a CNI, essa percepção por parte dos empresários está relacionada ao cenário econômico do País, já que, diante do aumento da inflação, o Banco Central vem fazendo reajustes consecutivos na taxa Selic.
Falta ou alto custo de energia e a taxa de câmbio desfavorável para a moeda brasileira, ocupam, respectivamente, a quinta e a sexta posição no ranking de principais problemas enfrentados pela indústria brasileira no primeiro trimestre de 2022. Veja abaixo:
Insatisfação financeira entre os industriais
Neste primeiro trimestre de 2022, ainda, os empresários também registraram piora das condições financeiras: insatisfação com o lucro operacional e com a situação financeira; dificuldade em obter crédito; e preços de matérias-primas elevados.
O indicador que mede a satisfação com o lucro operacional caiu 3 pontos, passando de 47,2 pontos para 44,2 pontos. Com a queda, o índice se afastou da linha divisória de 50 pontos, o que indica que a insatisfação dos empresários com a margem de lucro aumentou. O índice vinha em estabilidade nos últimos três trimestres, quando se manteve acima dos 47 pontos. A CNI ressalta, porém, que o índice permanece acima da média histórica de 42,1 pontos.
No primeiro trimestre de 2022, os empresários mostraram-se insatisfeitos com as condições financeiras de suas empresas. O indicador de satisfação com a situação financeira da empresa recuou de 51,7 pontos para 49,3 pontos. Mais um resultado abaixo da linha divisória de 50 pontos. Ou seja, passou de satisfação com as condições financeiras da empresa para insatisfação.
A facilidade de acesso ao crédito apresentou estabilidade no trimestre, ficando em 42 pontos. O índice revela, no entanto, que as empresas ainda encontram dificuldade em obter crédito. O que, combinado ao indicador de evolução do preço de matérias-primas, que apresentou aumento de 1,9 ponto em relação ao trimestre anterior, registrando 72 pontos — um resultado bem acima da linha divisória —, aponta não só que os preços das matérias-primas continuam em elevação, como também que as altas no trimestre foram mais intensas e disseminadas do que no trimestre anterior. A alta do indicador é a primeira após três trimestres consecutivos de queda.
Produção industrial cresceu em março
Quanto ao desempenho da indústria em março de 2022, contudo, destaca- se que a produção industrial mostrou crescimento relevante e que os estoques seguem ajustados ao planejado. Já o otimismo dos empresários manteve-se difundido em abril e a intenção de investimento manteve-se estável no período.
O índice de evolução da produção ficou em 54,5 pontos em março. Resultado que está acima da linha divisória entre queda e crescimento da produção. Lembrando que desde dezembro, o índice se encontrava abaixo do patamar dos 50 pontos.