Crise de matéria-prima no setor moveleiro: Novo ano, problemas velhos

Para fechar 2020, trouxemos um artigo bastante pontual sobre causas e consequências da crise de matéria-prima no setor moveleiro. Sobretudo, o impacto da variação cambial e dos aumentos abusivos nos custos logísticos sobre o preço dos insumos na cadeia madeira e móvel.

Na ocasião, a FGVTN — fornecedora de ferragens para móveis —, abriu seus arquivos de inteligência de mercado, compartilhando um demonstrativo detalhado sobre a composição dos custos de itens importados para o mercado brasileiro. 

Com a crise de matéria-prima infelizmente não sendo um problema que magicamente ficou no passado, continuamos nossa investigação para tentar compreender as razões e explorar as possibilidades de minimizarmos esses custos em 2021.

Leia mais sobre o assunto:

Preços e prazos nas alturas: Causas e consequências da crise de matérias-primas no setor moveleiro

Matéria-prima para a indústria moveleira: Crise de abastecimento e aumento nos preços

Conversamos dessa vez com Marcelo Cenacchi, diretor geral da Renner Sayerlack — fornecedora de tintas e vernizes para madeira —, que fala sobre câmbio, alta do petróleo, desorganização na cadeia logística, regularização do mercado e muito mais. Confira!

Marcelo Cenacchi fala sobre a crise de matéria-prima para a produção de móveis no Brasil

Setor Moveleiro – Quais foram os principais desafios da Sayerlack na manutenção do fornecimento de tintas e vernizes em 2020?

Marcelo Cenacchi – Na Sayerlack fizemos um enorme esforço para garantir o fornecimento de tintas e vernizes para que nossos clientes da indústria não sofressem interrupções em sua produção. Este foi nosso foco número um durante o ano passado. Acreditamos que conseguimos abastecer nossos clientes, mantendo suas operações em funcionamento e produção. Porém, nestes momentos de aquecimento do mercado, praticamente todos os setores sofreram com a alta nos preços de matérias-primas e insumos, justamente pela demanda ser maior que a oferta naquele momento. Por isso, fomos obrigados a nos adequar a esta nova realidade, regida pela lei da oferta e procura. Diante disto, consequentemente, tivemos de repassar os reajustes de preços em 2020.

Setor Moveleiro – Além do desequilíbrio entre a oferta e procura, já mencionado anteriormente, quais outras questões, considerando agentes internos e externos, resultaram neste aumento tão significativo no preço da matéria-prima para a produção de móveis no Brasil?

Cenacchi – Um dos principais fatores foi, com certeza, a forte alta do Dólar Americano. O que influenciou, e ainda influencia, diretamente à grande maioria dos produtos químicos, no caso dos insumos trabalhados pela Sayerlack. A alta do petróleo também contribui para a majoração de preços. Somado a isso, as altas acentuadas de preços em diversos monômeros e pigmentos.

Setor Moveleiro – O frete também foi um problema? Quais insumos mais sofreram com essa questão?

Cenacchi – Sem dúvida! Houve uma grande desorganização na cadeia logística, resultando no desabastecimento de alguns produtos e consequentemente na alta dos preços, como já mencionamos. Um dos exemplos que podemos citar foi a falta de aço no mercado nacional para embalagens metálicas. O que afetou bastante o custo das latas. Papelão, plástico, pallets de madeira e muitos outros itens importantes na cadeia, também tiveram interrupção de fornecimento ocasionando alta nos preços. Adicionamos a todos estes fatores o encarecimento dos fretes, principalmente da Ásia para o Brasil, que multiplicou esses custos por cinco vezes em determinadas situações.

Apesar da crise no abastecimento e no aumento dos preços de matéria-prima, a Renner Sayerlack não mediu esforços para manter o fornecimento de tintas e vernizes para os clientes da indústria durante todo o ano de 2020

Setor Moveleiro – A pergunta de um milhão de dólares: Todos esses problemas elencados até aqui ficam em 2020 ou deverão se estender por este novo ano?

Cenacchi – Alguns itens continuam com o fornecimento comprometido por conta destas rupturas no mercado, decretação de “força maior” que justifica a interrupção de produção. Porém, esperamos e acreditamos que agora no início de 2021, o fornecimento desses insumos possa ser ao menos regularizado e, assim, o mercado possa se normalizar. Continuaremos atuando de maneira justa e com foco nos nossos clientes. Monitorando o mercado e fazendo o que for possível para contornar a situação.

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