Custo x Competitividade Brasil: como recuperar o ambiente de negócios no País?

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Competitividade Brasil — Ontem nós noticiamos aqui na Plataforma Setor Moveleiro que a produção industrial brasileira experimentou leve avanço no mês de outubro (último estudo) — clique para ler. Mas, de uma forma geral, como anda o ambiente de negócios e a competitividade, fatores que tanto impactam a indústria, no País?

Pela primeira vez em 12 anos, o Brasil avançou uma posição no ranking do relatório “Competitividade Brasil, produzido pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). A notícia é boa, mas revela problemas contínuos que atravacam a prosperidade e o desenvolvimento dos negócios no País, que, apesar de ter ganhado uma posição no ranking geral, continua como um dos lanternas. Sendo um dos três piores ambientes para se fazer negócios numa lista de 18 países. 

O relatório examina o potencial competitivo das empresas brasileiras em relação ao desempenho do setor empresarial de outros 17 países com características similares ao nosso ou que competem conosco no mercado mundial. Avaliando, portanto, fatores que impactam diretamente os negócios das empresas brasileiras. Apontando, assim, caminhos para o desenvolvimento da economia nacional, uma vez que o cálculo final auxilia na tomada de decisões. 

O ranking geral é construído com base no desempenho dos países em nove fatores de competitividade. As economias avaliadas no relatório são África do Sul, Argentina, Austrália, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coreia do Sul, Espanha, Índia, Indonésia, México, Peru, Polônia, Rússia, Tailândia e Turquia, além do Brasil.

Financiamento melhora, mas continua na lanterna

Apesar de ter apresentado melhora, então, a situação mais crítica ainda é no fator “Financiamento”, único em que o Brasil está em último lugar. Seguido de “Tributação”, registrado como o segundo pior resultado no País. 

Questões que demonstram, cada vez mais, que tal cenário requer estratégia de fomento ao setor industrial, em especial associada à redução do Custo Brasil. Algo que já discutimos há tempos. Mas que pouco tem se feito na busca por uma resolução para a melhoria do ambiente de negócios e da competitividade frente ao mercado global. 

Veja a tabela:

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Custo Brasil, ambiente de negócios e competitividade

O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, avalia que o estudo evidencia a urgência de se avançar na redução do Custo Brasil e que o futuro da competitividade dependerá da capacidade de o País se adaptar às novas tendências produtivas, como a digitalização e a economia de baixo carbono. Para isso, é preciso construir uma política de desenvolvimento industrial, com foco em ciência, tecnologia e inovação, consistente, de longo prazo e que seja prioridade do Estado.

A gerente de Política Industrial da CNI, Samantha Cunha, reforça que além dos fatores mais críticos do ambiente de negócios brasileiro, como o financiamento escasso e caro, além do sistema tributário caótico e distorcivo, ficam ainda evidentes problemas como: a infraestrutura deficiente; a falta de segurança jurídica; o excesso de burocracia; além da baixa qualidade da educação, cara à inovação e à produtividade.

“Esses custos sistêmicos que chamamos de Custo Brasil precisam ser monitorados e combatidos. Pois oneram o investimento, a produção e as exportaçõesl”, explica a gerente.

Veja um resumo da avaliação do relatório “Competitividade Brasil”

 

  1. Financiamento

O Brasil é o país com o pior desempenho no ranking do fator Financiamento entre os 18 países avaliados. Apesar de ter reduzido sua taxa de juros básica da economia ao menor patamar em 20 anos, atingindo a meta de 2% ao ano em 2020, permaneceu com a maior taxa de juros real de curto prazo (4,7%) e o maior spread da taxa de juros (26,8%).

  1. Tributação

O segundo pior resultado do Brasil na análise foi no fator Tributação, com a 17ª posição entre os 18 países avaliados. O peso dos tributos foi o terceiro maior, com carga tributária que atingiu quase um terço do PIB (Produto Interno Bruto): de 32,5%, contra uma média de 24,1% para os países selecionados, em 2019. Ao mesmo tempo, o Brasil tem a terceira pior qualidade no sistema tributário, com a avaliação qualitativa mais negativa em processos legislativos e administrativos do sistema tributário.

  1. Ambiente macroeconômico

O Brasil está no terço inferior do ranking no fator Ambiente Macroeconômico, na 16ª posição. O resultado é determinado, sobretudo, pela falta de equilíbrio fiscal. Este que é um importante elemento para garantir um ambiente macroeconômico favorável ao investimento. Isso, ao lado da estabilidade monetária e do equilíbrio externo. A pandemia teve um efeito sobre a inflação global, levando à aceleração do aumento de preços em praticamente todos os países. No Brasil, a inflação (8,3%) e a dívida (93% do PIB) foram as terceiras maiores em 2021, enquanto a despesa com juros nominais foi a segunda maior (5,2% do PIB).

  1. Ambiente de negócios

O Brasil apresenta um dos três piores ambientes para se fazer negócio entre os 18 países avaliados, na 16ª posição no fator. Na comparação com o ranking anterior, o país registrou melhora em todos os subfatores e pela segunda edição consecutiva avançou uma posição. No entanto, devido à distância do Brasil para os países mais bem colocados, o país permanece no terço inferior do ranking mesmo com a melhora. O resultado brasileiro reflete, principalmente, a falta de segurança jurídica e o excesso de burocracia.

  1. Trabalho

No fator Trabalho, em que sempre alcançou os terços superior e intermediário em edições passadas, o Brasil está na 15ª posição (terço inferior), como reflexo dos impactos da pandemia no mercado de trabalho. O País teve a segunda maior queda no crescimento da força de trabalho em 2021, à frente do Chile, combinada com a segunda menor produtividade na indústria, à frente apenas da Índia.

  1. Infraestrutura e Logística

O Brasil está na 15ª posição no fator Infraestrutura e Logística. Em praticamente todos os modais de transporte avaliados (rodoviário, ferroviário, aquaviário e aéreo), com base tanto em variáveis quantitativas como qualitativas (pesquisas de opinião), o Brasil fica no terço inferior do ranking. Apesar da desvalorização cambial ter contribuído para uma melhora no custo da energia elétrica para clientes industriais (US$ 0,13 por Kwh), a diferença para os outros países deixou o Brasil na penúltima posição. Ao mesmo tempo, a qualidade no fornecimento de energia também manteve o País em penúltimo lugar, com perdas de 16,1% da energia gerada.

  1. Estrutura produtiva, escala e concorrência

No fator Estrutura Produtiva, Escala e Concorrência, o Brasil está na 13ª colocação. Apesar de o Brasil ter o 5º maior mercado doméstico e a 11ª estrutura produtiva mais complexa, o País tem a maior barreira tarifária em produtos não agrícolas. Desestimulando, assim, o aumento da produtividade por meio da concorrência no mercado interno.

  1. Tecnologia e inovação

No fator Tecnologia e Inovação, o Brasil está no terço intermediário do ranking, na 9ª posição entre os 18 países avaliados. O que representa o melhor resultado obtido pelo País entre os nove fatores determinantes da competitividade. Nas duas dimensões avaliadas nesse fator, esforços em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e resultados alcançados, o Brasil está no terço intermediário do ranking.

  1. Educação

No fator Educação, o Brasil também está no terço intermediário do ranking, na 10ª posição entre 17 países considerados. Apesar de o País apresentar o maior gasto público em educação (como proporção do PIB), está no terço inferior nos quesitos disseminação e qualidade da educação. Em relação ao ranking passado (2019-2020 revisado), o Brasil avançou nas variáveis de Disseminação da Educação devido à melhora de seus indicadores de número de matrículas: três posições no número de matrículas no ensino médio, ocupando a 10ª posição, e uma posição no número de matrículas no ensino superior, subindo para a 11ª posição. Os avanços, no entanto, foram insuficientes para o País mudar de posição no fator.

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