Ao longo de mais de 40 anos, o Produto Interno Bruto (PIB) da China registrou um crescimento constante, atingindo uma impressionante taxa de 10% ao ano entre 1991 e 2010. Crescimento maior do que de qualquer outro país no mesmo período. Porém, este cenário vem mudando, em parte devido a pandemia de coronavírus, que impactou significativamente o país, resultando em uma queda de 2,2% no PIB em 2020 e 2021. Contudo, mesmo com a pandemia sob controle e a economia chinesa se recuperando gradualmente, o mundo continua com o olhar atento às implicações dessa desaceleração. De acordo com projeções otimistas, espera-se um crescimento na economia em torno apenas de 5% para o país.
Qual será o impacto dessa desaceleração no cenário internacional da indústria moveleira? Seria uma oportunidade de entrada para as empresas brasileiras do setor? O Brasil consegue maior participação nas exportações para onde a China vem perdendo mercado? Nesse artigo ainda vamos explorar duas possibilidades que se apresentam para os brasileiros estarem inseridos no mercado chinês de portas abertas para novos investidores:
- A 52ª Feira Internacional de Móveis da China (CIFF Shanghai) será realizada de 5 a 8 de setembro de 2023.
- A Assembleia Geral Anual de 2023 da Confederação Mundial de Móveis e a Conferência Mundial de Aglomerados Industriais de Móveis serão sediadas na cidade de Dongguan, na China, em 17 de agosto.
China mantém posição de maior exportadora global de móveis
A China perdeu participação no mercado mas ainda é a principal exportadora de móveis no mundo, participando com 38% das exportações em 2022. Segundo dados do IEMI – Inteligência de Mercado – em relação a 2021, houve queda de -9% nas exportações chinesas, em 2022, passando de uma participação de 41% para 38%. Incrivelmente, o Vietnã soube aproveitar este período, expandindo 64% suas exportações de móveis, passando de uma participação de 7% para 11%, em 2022.
Em 2022, as exportações de móveis do Brasil atingiram US$ 810 milhões, representando uma participação média de 0,5% no mercado global. Essa cifra reflete uma queda de 11% em comparação a 2021, quando a participação era de 6%. Entretanto, apesar desse declínio, é importante ressaltar que o valor exportado em móveis pelo Brasil em 2022 é maior do que a média de US$ 618 milhões entre 2018 e 2020.
Crise no setor Imobiliário da China
Quais os fatores que levaram à desaceleração econômica da China? O setor imobiliário desempenha um papel fundamental no crescimento da China, representando cerca de 15% do PIB do país. No entanto, nos últimos anos, vem apresentando sintomas de esgotamento, com o surgimento de cidades-fantasmas, que permanecem vazias por falta de demanda. Além disso, três cidades chinesas estão entre as dez com os preços imobiliários mais altos do mundo, cada vez menos acessíveis para os cidadãos chineses.
A taxa de natalidade também está em queda, o que indica que a demanda de imóveis cairá ainda mais nos próximos anos, agravando ainda mais a situação. E tem também o desincentivo a indústria de tecnologia com medidas que vão desde leis de antimonopólio à cibersegurança. Além do impacto da política Covid Zero que resultou em grandes empresas com suas produções suspensas e a circulação de pessoas restringida.
Fronteiras abertas para indústrias moveleiras
Com a economia perdendo força, os líderes chineses vêm se esforçando para promover o país como um lugar seguro para investimentos externos. A 52ª Feira Internacional de Móveis da China (CIFF Shanghai) será realizada de 5 a 8 de setembro de 2023, com foco na construção de relacionamentos sólidos e lucrativos entre expositores e visitantes.
Um lugar onde toda a cadeia de suprimentos de móveis estará representada sob o mesmo teto: móveis para casa, ao ar livre e lazer, acessórios e têxteis para mobiliário, móveis para escritórios e espaços públicos. Além disso, máquinas para a indústria moveleira, pois acontece em paralelo na Feira Internacional de Máquinas para Móveis de Shanghai.
Com o tema “Liderar o novo consumo, servir ao novo padrão”, e a participação das principais marcas de design chinesas: Camerich, HC28, Chic Casa, My Just e Treasure, a CIFF Shanghai quer se posicionar como a principal plataforma para o design de móveis comerciais na China. Com todas as restrições de entrada na China removidas, há de fato um grande entusiasmo dos organizadores, incluindo o ‘Plano de Retorno de Compradores Globais’, um programa que oferece uma gama completa de serviços VIP durante a feira, descontos nas passagens aéreas e ofertas de acomodação.
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A edição da 51ª CIFF Guangzhou 2023, encerrada em 31 de março. Em oito dias a feira recebeu 380.763 visitantes de 166 regiões do mundo. Em 700.000 metros quadrados de espaço estiveram mais de 4.000 expositores. Além disso, o alto nível de conteúdo com 10 exposições temáticas e 125 conferências, designers famosos, especialistas de mercado, marcas e universidades que são fontes valiosas de inspiração dos móveis chineses.
Conferência Mundial: cooperação global na indústria de móveis
A Confederação Mundial de Móveis (WFC) é uma organização industrial global sem fins lucrativos. É apoiada por membros de mais de 70 países e regiões ao redor do mundo. Portanto, o seu objetivo é promover a cooperação global na indústria de móveis, conhecimento e rede de contatos para os interessados em todo o mundo.
Em 17 de agosto, a cidade de Dongguan, na China, sediará a Assembleia Geral Anual de 2023 da Confederação Mundial de Móveis. Acontecerá junto a Conferência Mundial de Aglomerados Industriais de Móveis. A presença de delegados de governos, associações e empresas de todo o mundo, objetiva de criar um plano de aglomerado industrial de móveis de classe mundial. Além disso, a Conferência será acompanhada pelo Fórum Global de Negócios e Comércio, pela Cúpula Global de Marcas e Inovação em Design. Além da Cúpula Global de Comércio Eletrônico Transfronteiriço de Móveis. São eventos paralelos para proporcionar oportunidades para que os interessados de cada país cooperem em áreas industriais específicas.
O mundo continuará de olho na China
A China é o principal parceiro comercial do Brasil que recebe 31,3% de todas as exportações do país. A maior parte são commodities, como soja, petróleo e minério de ferro. No entanto, a crise na construção e no mercado imobiliário, podem refletir no moveleiro. Além de afetar diretamente a demanda por minério de ferro. Sendo assim, essas oscilações políticas e econômicas têm reflexos diretos no Brasil.
“Caso a China confirme sua mudança de perfil de produtora de commodities para tornar sua indústria Moveleira focada em inovação, com design e valor agregado, (o que pude observar in loco em todas as suas feiras dos últimos anos, que tive oportunidade de visitar); surgem diversas oportunidades para o Brasil. Inclusive no mercado dos Estados Unidos (o maior do mundo) que tem aberto espaços onde, até então, predominavam móveis chineses”, considera Carlos Bessa.
Diante das transformações em curso na China, que busca o equilíbrio entre crescimento e reformas, surgem oportunidades para o Brasil atender a esta nova demanda. Afinal, de acordo com o CEO do Setor Moveleiro, é preciso considerar o potencial da China, um país em que a classe média tem previsão de dobrar de tamanho até 2035, passando de 400 milhões para 800 milhões de pessoas.