Não se fabrica um produto verdadeiramente sustentável apenas de materiais considerados sustentáveis. Todo o processo, desde a concepção, até a entrega para o consumidor, incluindo a embalagem utilizada, devem ser levados em consideração. Tudo isso, é claro, com viabilidade econômica. É aí que entra a importância do design sustentável.
Já discutimos, aqui mesmo na Plataforma Setor Moveleiro, as tendências sustentáveis no mobiliário, que têm tudo a ver com o comportamento do consumidor. De acordo com uma pesquisa divulgada em setembro do ano passado pelo IEMI – Inteligência de Mercado, 61% dos entrevistados buscavam saber se a peça era ou não produzida com matéria-prima sustentável na hora da compra.
Mas o design sustentável vai além, conforme lembra o diretor da Phorma Design, João Baroneza: envolve o projeto, os materiais utilizados, o uso racional de água e energia durante a produção, a embalagem em que esse produto vai chegar ao consumidor e, até mesmo, o cuidado com a sua durabilidade.
“O criar sustentável se baseia em desenvolver produtos e serviços mediante necessidades humanas, pensar no bem estar social, no meio ambiente e nas consequências futuras para a humanidade”, explica.
Ele lembra que a indústria já vem trabalhando com esta consciência, desenvolvendo como exemplos: móveis biodegradáveis, com vidro reciclado e outros acessórios feitos de material reciclado e, principalmente, componentes desmontáveis para que se possa separar os resíduos para futura reciclagem.
Design sustentável na ponta
O CEO da JB Bechara, Rodrigo Bechara, pondera que essa consciência ainda não se traduz em compra efetiva. A empresa de Tanabi, no interior de São Paulo, lançou dois novos produtos para sua linha Impact0, na última edição da Movinter, no final de junho.
“Com o nosso conceito, quebramos a barreira de que o design sustentável é só para alta linha”, reforça. “Mas as pessoas ainda não estão aderindo tão bem, temos que provocar as grandes redes, mesmo assim, não desistimos”, completa.
Antes de lançar seu primeiro produto totalmente sustentável, o que aconteceu no final do ano passado, missão, visão e valores da empresa centenária foram revisados e alterados e a diversidade e inclusão tomaram conta. A indústria e os colaboradores criaram e ingressaram em projetos sociais e ambientais.
A linha utiliza insumos verdadeiramente sustentáveis – dos painéis, às tintas, passando pelas ferragens. O consumidor pode, até mesmo, reaproveitar a embalagem, sem gerar resíduos, conta Bechara.
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Mercado em transformação
No Paraná, o movimento para levar o design sustentável para a cadeia produtiva de móveis também está em alta. Henrique Rasera, da Móveis Estrela, de Arapongas, conta que a indústria vem buscando adaptar-se ao conceito.
“Procuramos sempre o menor impacto no desenvolvimento dos nossos produtos, seja na busca por matérias-primas mais sustentáveis, na forma como embalamos e transportamos nossos produtos”, diz. “O processo só termina com o tratamento correto dos resíduos – descartados corretamente ou reaproveitados”, acrescenta.
Rasera diz que ainda não há um reforço na comunicação ao consumidor a respeito das iniciativas ligadas à sustentabilidade. “Mas temos tentado informar a respeito dos processos, em especial, das ações que realizamos em relação aos resíduos industriais reciclados, tratamento de água das cabines de pintura, reutilização de matérias-primas e a madeira de reflorestamento usada nos estofados”, enumera.
Faltam esforços
Além de ser preciso provocar as grandes redes de varejo para ofertar ao consumidor produtos com design sustentável, conforme reforça o CEO da JB Bechara, Rasera, da Móveis Estrela, pondera que o setor produtivo também precisa de esforços maiores.
“Em geral, vejo que o setor moveleiro mudou pouco seus processos produtivos e matérias-primas, até mesmo pelo custo que agrega no produto final. Observamos mais a adoção de energia renovável e a reciclagem, como práticas mais comuns no sentido da sustentabilidade”, revela.
Para Bechara, toda a sociedade deve percorrer um longo caminho quando o assunto é a mudança de hábitos de consumo. “Há melhorias e uma evolução acontecendo constantemente, mas esse processo precisa ser acelerado”, reforça.