Após um período tão sensível em que a saúde pública esteve no centro das decisões, não é de surpreender, então, que a Economia Circular esteja impulsionando a agenda das indústrias de móveis europeias, referências no setor em todo o mundo. Demonstrando, assim, uma tendência cada vez maior com relação ao bem-estar ambiental e social.
Questão que, claro, influencia os novos hábitos de compra. Com os consumidores cada vez mais voltados à redução dos impactos de consumo, tendo a sustentabilidade ambiental e econômica em destaque.
E muitas são as pautas para a indústria de móveis neste sentido: atividades de padronização produtiva e gerencial; proposta de restrição de formaldeído e liberadores de formaldeído; novas regras de ecodesign, embalagem e rotulagem; móveis sem retardantes de chamas, para proteger a saúde humana e o meio ambiente; acesso a cases de mercados; além, no caso das empresas da União Europeia, da revisão da política comercial do bloco em conjunto com seus parceiros sobre a digitalização e as negociações para um acordo de parceria UE-Reino Unido; entre outros pontos que removam os obstáculos para uma economia circular, segura e justa.
Acordo Verde da União Europeia: Economia Circular em pauta
No final do ano passado, em sua declaração sobre o Pacote de Recuperação da UE, a EFIC (Confederação das Indústrias de Móveis Europeias) enfatizou a importância de um Mercado Único na União Europeia, bem como da Economia Circular e da Digitalização no processo de recuperação econômica. Reiterando, ainda, o alinhamento da indústria de móveis com a Comissão Europeia sobre a necessidade de um Acordo Verde ser o caminho ideal para uma retomada sustentável.
A EFIC enfatizou, dessa forma, a importância de reparar, revitalizar e preservar o Mercado Único para evitar futuras perturbações e condições desiguais de concorrência. Destacando o potencial de uma economia verdadeiramente circular e de baixa emissão de carbono para impulsionar a competitividade e aumentar a resiliência das cadeias de abastecimento.
“O Acordo Verde deve ser a bússola da recuperação da União Europeia. Este é o momento de escolher uma retomada econômica sustentável e reforçar práticas de negócios. Os recursos devem ser canalizados para as soluções, materiais e tecnologias verdes. Incluindo investimento e apoio econômico para projetos de pesquisa sobre competências, novas tecnologias, infraestrutura e modelos de negócios circulares”, continua reivindicando Markus Wiesner, presidente da EFIC.
Ele prossegue: “O aumento da digitalização também terá impacto na transição para uma economia circular e tem potencial para reforçar o Mercado Único da UE. A adaptação de ferramentas digitais para gestão de clientes e venda de móveis online será essencial. Assim como oportunidades de pesquisas e investimentos também neste contexto”.
E o Mercosul?
Fatores que poderiam — ou melhor, deveriam — estar sendo debatidos como prioridade também pelos países que compõem o Mercosul, o Mercado Comum do Sul.
E é usando o exemplo do principal mercado moveleiro do planeta, o europeu, que damos início a série “Economia Circular no Setor Moveleiro”. O objetivo é encontrar soluções possíveis de serem implementadas também na indústria de móveis brasileira e sul-americana neste momento histórico de retomada, para, assim, fazermos de 2022, um ano de transformações efetivas em nosso setor!
Indústria de móveis da União Europeia em números
A indústria europeia do mobiliário é altamente dinâmica e beneficia muito do comércio intra-UE e internacional. Devido à alta interdependência entre os países europeus e terceiros, no entanto, muitas empresas enfrentaram — e ainda enfrentam — escassez de suprimentos de matérias-primas, componentes e produtos semiacabados. O que, assim como no Brasil, levou a interrupções na produção, atrasos nas entregas e até penalidades. Com o volume produzido chegando a cair entre 5% e 10% em alguns países que compõem o bloco.
Como muitos países europeus introduziram bloqueios parciais ou totais, ou até mesmo fecharam suas fronteiras, com algumas ainda fechadas, inclusive, as empresas de móveis também tiveram dificuldades com transporte e logística. As decisões tomadas pelos governos locais impactaram, ainda,a disponibilidade de mão de obra, que foi significativamente reduzida em alguns períodos.
Muitos eventos internacionais, como o grandioso Salone del Mobile.Milano, foram cancelados. Sendo as feiras, como sabemos, importantes ferramentas de apoio às exportações e às pequenas e médias empresas que veem essas plataformas como uma alavanca estratégica de acesso aos mercados internacionais.
Indústrias de móveis europeias abraçando a transição verde
Segundo a EFIC, a indústria de móveis europeia vem adotando os objetivos de neutralidade climática do Acordo Verde Europeu e apoia fortemente a transição para uma economia circular. Trabalhando em iniciativas para que produtos sustentáveis passem a ser a norma na Europa a partir do Plano de Ação da Nova Economia Circular, que identifica o setor moveleiro como um dos grupos prioritários a serem abordados. Focando-se, assim, em atender aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas para 2030, tornando-se mais eficiente e responsável em termos de recursos.
É importante ressaltar, portanto, que para as indústrias de móveis europeias, “circularidade” não é apenas uma palavra da moda. Elas já estão em transição e promovendo modelos de negócios circulares baseados na reutilização, reparo, renovação e remanufatura de produtos.
“Embora haja muito a ser mudado para alcançar a lógica circular, incluindo as leis existentes e a mentalidade dos compradores e dos consumidores finais, os especialistas da EFIC estão prontos para fornecer experiências do setor aos formuladores de políticas da UE durante todo o processo”, fala o presidente da Confederação das Indústrias de Móveis Europeias.
Segundo ele, a indústria de móveis da Europa está totalmente alinhada com a necessidade de otimizar recursos, estimular mercados para produtos e serviços circulares, assim como reduzir a pegada ecológica da economia e da indústria na UE.
“Vemos a circularidade como uma oportunidade, tanto para crescer como indústria, adaptando constantemente os nossos modelos de negócio e colocando no mercado produtos inovadores e sustentáveis, mas também para contribuir para atenuar o desafio climático”, pontua.
Seria a Economia Circular uma realidade?
A EFIC reconhece, porém, que mesmo tendo sido a prioridade durante todo o ano de 2021, a circularidade no setor de móveis ainda está em seus “primeiros dias” e as mudanças serão vistas no médio / longo prazo.
Uma verdadeira economia circular só pode ser alcançada por meio de uma abordagem de cadeia de valor e colaboração. O que requer, obviamente, o envolvimento de muitos atores, incluindo formuladores de políticas públicas, industriais, especialistas, pesquisadores e consumidores. A EFIC apela, entre outras questões, à harmonização das regras da economia circular a nível da UE e à sua implementação harmonizada nos Estados-Membros do grupo.
As regras harmonizadas e normalizadas da economia circular, incluindo formas de apresentação de relatórios, são cruciais para garantir condições equitativas; evitar a fragmentação do mercado único; e garantir um entendimento comum para todos os intervenientes. Pontos que se aplicam à economia sul-americana.
Continue acompanhando os desdobramentos do assunto aqui na Plataforma Setor Moveleiro.