Ontem nós trouxemos um panorama explicativo sobre o cenário econômico nacional, buscando compreender os principais movimentos internos e externos que atravancam o desenvolvimento de nosso País e, consequentemente, de nossa indústria e comércio. Com o fechamento do último mês de setembro apresentando algumas das piores comparações desde a explosão da primeira onda da pandemia no Brasil, em março de 2020. Mas como tudo isso já está afetando o setor moveleiro nacional? As opiniões, apesar de ambíguas, demonstram que é momento de planejar para vencer!
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Os resultados dos últimos meses vêm levantando bandeiras vermelhas para Laercio Comar, CEO da ADDE – Indicadores de Apoio à Gestão e colunista da Plataforma Setor Moveleiro. Para o especialista no mercado de móveis, a situação, que já é delicada, pode piorar com a virada do ano.
“Estou especialmente preocupado. Fechamos setembro sem ter uma cartela robusta de pedidos para o final de ano, como tradicionalmente acontece. O que indica que as indústrias de móveis irão entrar outubro vendendo o volume básico para o período”, explica Comar. Mesmo com a iminência da Black Friday, uma das maiores vendas de ocasião do calendário varejista mundial, o volume de pedidos de móveis aqui no Brasil parece ser inferior aos do ano passado e, em algumas empresas, até mesmo do que em 2019.
“Sem dúvida iremos ganhar fôlego com a chegada do décimo terceiro. Já com expectativa de reposição em janeiro. Não estou dizendo, portanto, que a indústria não venderá. Mas que venderá menos. Alcançando resultados, ao que tudo indica, muito inferiores aos do ano passado. Ou seja, muito aquém do que gostaríamos e poderíamos não fosse a situação econômica mundial.”
Crise à vista no setor moveleiro?
Para o CEO da ADDE, a situação pode ficar mais complicada, porém, a partir do segundo mês de 2022. Considerando que a produção moveleira entre fevereiro e abril já é tradicionalmente afetada pela falta de propulsores de vendas no período, que, apesar do Dia das Mães, tem um dos menores tickets do ano no varejo.
“Não há absolutamente nada para segurar a ponta das indústrias de fevereiro a abril, o que é muito preocupante. Pois se os empresários moveleiros não se unirem em cima de uma proposta real sobre o que podemos fazer no mercado para incentivar o consumo de móveis, poderemos experimentar uma crise. Eterna? Não! Mas teremos seis meses bem ruins ano que vem. Isso me parece quase inevitável, infelizmente”, opina Laercio.
E não é só a falta de pedidos que assusta, mas também a desistência ou o calote em pedidos já feitos
Segundo publicado pelo Valor Econômico na última terça-feira (28), o ano de 2022 deve ser de dificuldade para as empresas e marcado por um aumento de inadimplência nos pagamentos na cadeia de produção no Brasil.
De acordo com pesquisa realizada pela Intrum, companhia europeia de gestão de crédito e ativos, cerca de 70% das empresas ouvidas por eles afirmam que a inadimplência deve saltar nos próximos meses. Já 76% delas acreditam que a recessão é “iminente” no Brasil. Essa é a primeira vez que a Intrum realiza a pesquisa no País.
Com isso, 88% já esperam algum impacto negativo em seus negócios. Os setores mais receosos são os de consumo, em que 95% esperam desaceleração; seguidos pela construção civil e o imobiliário (93%), segmentos com impacto no setor moveleiro.
Inflação e alta do dólar aumenta preços em toda a cadeia moveleira
De fato, como reforçado pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), os preços em patamar alto com inflação histórica, em um ambiente de juros maiores, desemprego acentuado e renda fragilizada, jogam não só contra os investimentos das empresas, mas do consumo das famílias. Com a atenção e o dinheiro dos consumidores devendo, portanto, voltarem-se, mais uma vez, para itens essenciais, como alimentação e moradia.
O que se intensifica com a inflação na indústria de móveis chegando a 13,5% no acumulado do ano até agosto. Elevando os preços no setor também para o consumidor final.
A situação deverá ser particularmente prejudicial para a indústria e o varejo voltado às classes mais populares, de móveis seriados. “O aumento dos preços está afetando todas as classes e tipos de produção, o que impacta os diversos elos da cadeia moveleira. Para as linhas mais altas, porém, isso não deverá impactar tão negativamente, inclusive havendo boas projeções nestes segmentos. Afinal, o rico continuará sendo rico mesmo na crise. O pobre, no entanto, perdeu poder de compra. Isso deverá influenciar negativamente no mercado de móveis focados na classe C para baixo”, analisa, mais uma vez, Laercio Comar.
Ele ainda ressalta que a alta do dólar americano, moeda que regula o mercado global e operava até o dia de ontem (05) a R$5,49, numa crescente histórica e nada bem-vinda, aumenta o preço dos insumos e matérias-primas, como pontuamos em nosso artigo de ontem. “Automaticamente, não há chance nenhuma do preço dos móveis cair. Afinal, não há estabilidade econômica para se observar qualquer situação de melhora, especialmente por aqui, num período pré-eleição, em que o mercado tende a ficar mais fervoroso, como acontece em todo o decorrer da história política.”
Efeito cascata na cadeia de suprimentos para o setor moveleiro
Renan Luquini, economista da Norte Econômico Consultoria e professor da Kroton Educacional, entende que o efeito do dólar alto no ponto de vista do setor moveleiro é dúbio.
Empresas exportadoras podem ser beneficiadas, uma vez que os produtos brasileiros ficam mais competitivos frente aos de outros países. Com essas empresas obtendo, portanto, maior retorno pelos seus produtos finais. O que de fato vem acontecendo se observarmos os resultados das exportações brasileiras de móveis e colchões prontos no acumulado até agosto deste ano: aumento de 62,7% no montante exportado em relação a igual período no ano passado.
“Todavia, esse benefício é em parte consumido pela renegociação de preços pelos importadores e com o aumento do custo de equipamentos e, especialmente, das matérias-primas. A influência do dólar elevado, portanto, é diferente para as empresas que dependem exclusivamente do mercado interno. Isso, uma vez que estas sofrem com o impacto da alta dos valores de determinados insumos atrelados ao dólar”, pontua Luquini.
Por fim, se destaca o fato de que variações bruscas no dólar tendem a dificultar o planejamento dos ganhos e custos das empresas. Dificultando, assim, a previsibilidade do mercado e deteriorando a tomada de decisão empresarial.
Ou seja, não há grandes margens de preço para serem trabalhadas. Mas, então, o que a indústria moveleira pode fazer para contornar a situação e gerar competitividade?
“Eu penso muito no ‘arroz com feijão’ dentro das fábricas, ou seja, trabalhar com o básico para oferecer o essencial por um preço acessível”, ressalta Comar. “Para isso temos que nos questionar: quais custos realmente podemos diminuir no chão de fábrica; o que podemos redefinir no design ou na engenharia do produto para diminuir custos ou chamar a atenção sem onerar o consumidor; o que podemos enxugar na produção; etc.”, dá a dica Laercio Comar, CEO da ADDE – Indicadores de Apoio à Gestão.
União e proposição
Se a queda no consumo é iminente, urgente também deve ser a resposta do setor para evitar um tombo maior. Num campo cheio de obstáculos, entendemos que a união se faz necessária nos mais diversos sentidos: tanto no debate de ideias como na colaboração mútua entre empresas que possam trocar materiais ou serviços; além, claro, da efetiva proposição de medidas que beneficiem a manutenção da produção e do emprego na indústria de móveis, uma das mais relevantes para o País, por intermédio de entidades nacionais e associações regionais de defesa do setor.
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Conforme dados divulgados pela ABIMÓVEL (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), a indústria de móveis brasileira é a sexta maior produtora e a 28ª maior exportadora do setor no mundo. Sendo intensiva não só em produção, mas também em mão de obra e participação econômica: colocando-se como parte da 8ª cadeia que mais emprega e representando 1,2% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional. E não iremos nos apequenar.
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