A Plataforma Setor Moveleiro tem como objetivo informar sobre o panorama nacional e global da indústria moveleira. Recentemente, compartilhamos um relatório desenvolvido pela CSIL Milano – empresa italiana de pesquisa e consultoria – com um levantamento das indústrias moveleiras de diversas partes do mundo, sobre os desafios que o setor moveleiro enfrentará em 2023. De acordo com o estudo, os participantes destacaram o aumento do custo da energia (33%), a lentidão no crescimento da demanda por móveis (24%), a inflação (17%), a falta de matéria-prima (15%) e a escassez de mão de obra (9%).
Agora, vamos trazer essas questões para o contexto brasileiro e explorar como as indústrias do país estão enfrentando esses desafios. Nesse sentido, propomos algumas perguntas para levantar as informações com o objetivo de fortalecimento do setor:
- Quantas indústrias moveleiras estão registradas no seu polo atualmente e quantos empregos diretos e/ou indiretos elas geram?
- Como as empresas têm enfrentado a escassez de mão de obra e a falta de matéria-prima? Quais são as estratégias adotadas e quais são as expectativas para soluções futuras?
- Houve um aumento nos custos com energia? Quais alternativas têm sido consideradas?
- Qual tem sido a demanda pela produção de móveis?
Tecnologia, legislação e competitividade: desafios da falta de mão de obra
O Giro pelos polos apontou que a escassez de mão de obra é um desafio comum apresentado entre os sindicatos e preocupante para o setor moveleiro no Brasil. Nos últimos anos, temos observado um crescente apagão de mão de obra qualificada, o qual pode ser justificado por uma combinação de fatores.
O avanço acelerado da tecnologia tem impactado diretamente as demandas do setor, exigindo profissionais cada vez mais especializados e adaptáveis às novas tendências, como já dissemos aqui:
Além disso, as restrições impostas pela legislação trabalhista e a necessidade das empresas em alcançar escalas produtivas maiores para se manterem competitivas também têm contribuído para essa escassez de profissionais qualificados. Como também já trouxemos aqui a necessidade de uma Reforma Tributária para trazer mais competitividade às indústrias:
Nesse contexto, torna-se essencial compreender e buscar soluções para esse desafio, a fim de garantir o desenvolvimento sustentável da indústria moveleira. Confira as declarações dos presidentes de sindicatos que participaram dessa pesquisa, e saiba como as empresas estão buscando soluções para enfrentar essa questão.
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SINDIMOL – Sindicato das Indústrias da Madeira e do Mobiliário de Linhares e Região Norte do Espírito Santo
Presidente: Bruno Barbieri Rangel
www.sindimol.com.br
Dados do Sindimol indicam um número aproximado de 70 empresas e 3.000 empregos diretos na região. Não existem relatos de falta de matéria-prima ou escassez de mão-de-obra, segundo informou Bruno Barbieri Rangel, presidente do Sindimol.
“Inclusive o Sindimol tem atuado bastante nos últimos anos em projetos de adensamento da cadeia produtiva, visando justamente evitar cenários desse tipo. Exemplos bem-sucedidos dessas políticas são a Placas do Brasil e a P2A Embalagens, dentre outras. Mas é importante ressaltar que, apesar de não estarmos diante de um cenário de escassez, estamos lidando com constantes aumentos, que tem impactado a nossa competitividade”, considera Rangel.
Autogeração de Energia
Em relação a busca por alternativas para o uso de energia, Rangel afirmou que as maiores empresas do polo estão no mercado livre de energia, o que causa oscilações de preço em determinados períodos, mas até o momento, não foram percebidas anormalidades que causem um grande impacto. “Quanto às micro e pequenas empresas, temos trabalhado constante em parcerias para a aquisição de energia por meio da geração distribuída”, disse dando exemplos de parcerias com o SEBRAE/ES e a EDP, empresa que atua em todas as áreas de negócios do setor elétrico nacional, como forma de reduzir os custos com insumos.
“Além disso, as empresas também já estão se mobilizando em projetos de implantação e em estudos de viabilidade para a autogeração de energia pelo uso de painéis solares”, complementa.
Sobre a demanda pela produção de móveis, Rangel informou que a região tem enfrentado um período de baixa. “Essa situação não é exclusiva do setor moveleiro local, mas reflete uma tendência observada em grande parte das indústrias em outras regiões. É importante ressaltar que essa diminuição da demanda já era esperada devido ao crescimento significativo que experimentamos durante o período da pandemia”, disse.
“Fatores como a incerteza econômica, o aumento dos preços dos insumos e a queda no poder de compra dos consumidores têm contribuído para a diminuição de demanda.
Nesse contexto, estamos explorando estratégias como a diversificação de produtos, a busca por novos mercados e a adoção de processos mais eficientes. Estamos atentos a essa situação e buscando soluções estratégicas para mitigar os impactos”, afirmou Bruno Barbieri Rangel, presidente do Sindimol.
SIMOVALE – Sindicato da Indústria Madeireira e Moveleira do Vale do Uruguai
Presidente: Ilseo Rafaeli
www.simovale.com.br
O polo Oeste Catarinense possui aproximadamente 500 e 600 indústrias, considerando o setor de móveis e madeiras. No entanto, de acordo com Ilseo Rafaeli, presidente do SIMOVALE, obter dados confiáveis é um desafio devido à predominância de micro e pequenas empresas e à falta de divulgação de informações pelo setor madeireiro. Acredita-se existir muita informalidade e informações que nem sempre condizem com a realidade.
O Sindicato conta com pouco mais de 80 associados em um universo de empresas oito vezes maior. “Desta forma trabalhamos com estimativas e acreditamos que empregos diretos e indiretos no setor madeira móveis do Oeste catarinense gire na casa de 10.000 trabalhadores”, afirmou.
“No momento não temos problema de falta de matéria-prima, já a mão de obra é um problema muito grande, por mais que o setor esteja em ritmo desfavorável, a mão de obra continua sendo um problema grave”, considera Rafaeli.
Segundo ele, as empresas estão optando por reduzir sua produção devido ao excesso de oferta no mercado, o que resulta em uma drástica redução na lucratividade. Portanto, na sua opinião, a oferta maior do que a demanda não justifica novas contratações. “As empresas, além de demitir, não estão repondo quando os funcionários optam em sair do emprego”, disse. “Também são raros os investimentos no parque fabril, devido às incertezas do mercado e a elevada inadimplência do setor, nossos empresários em sua grande maioria estão conservadores, aguardando a maré subir”, afirma.
A questão energética não é um problema na região, pois de acordo com o presidente da Simovale, a maioria das empresas opera no mercado livre ou utiliza usinas fotovoltaicas.
Readaptação ao mercado
“Vivemos situações distintas quanto a produção de móveis, pois o polo produz todas as linhas de produto e atende a todas as classes sociais, desde estofados populares até poltronas de alta classe, colchões, salas e decoração, enfim, todo o segmento e, de forma generalizada a demanda diminuiu em mais de 30%, em alguns casos 50%”, informa.
Para Ilseo Rafaeli, o momento exige que as indústrias se adaptem, reduzindo a produção, uma vez que a fase de oferta excessiva e “ações desesperadas” já está passando. Ele considera que é necessário reinterpretar o mercado para sobreviver. “Quem não fizer uma releitura do mercado vai sobreviver somente até haver algum estoque para queimar ou crédito para se alavancar, pois acredito que a crise no setor vai se alongar por muito tempo. A preocupação em aumentar o volume de produção, sem planejamento e conhecimento real do consumo, levou a uma falta de rentabilidade da cadeia produtiva, o que certamente fará uma depuração de quem irá sobreviver”, concluiu.
SIMA – Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas
Presidente: José Lopes Aquino
www.sima.org.br
De acordo com José Lopes Aquino, presidente do SIMA, os 42 municípios representados pelo Sindicato possuem por volta de 900 indústrias moveleiras e mais de 12 mil empregos, sendo que mais de 300 estão concentrados no município de Arapongas, onde empregam mais de 9.000 trabalhadores.
“O fornecimento de matérias primas se normalizou e acreditamos que o problema já está equacionado entre oferta e demanda”, afirmou Aquino. Dessa forma, com a estabilização dos preços das matérias-primas, não vislumbram a possibilidade de aumento de preços no momento.
Além disso, também não vêem perspectivas de aumento no custo de energia, principalmente porque o uso do “mercado livre” tem proporcionado maior estabilidade nos preços em contratos de médio prazo. “Os custos de energia estão sendo administrados na sua maioria por contratos no “mercado livre” gerando assim maior previsibilidade de custos”, afirma.
Em relação à demanda por móveis, informou que realmente não houve crescimento significativo. “Hoje a produção está em patamares de 2019. Portanto, já perdemos quase 4 anos de crescimento na produção”, disse. “Neste momento a demanda está ligeiramente menor que no primeiro trimestre do ano, porém ainda acima do mesmo período de 2022. As fábricas ainda trabalham com capacidade ociosa e custos elevados, gerando baixa rentabilidade em suas operações. Acreditamos na elevação da demanda para o segundo semestre como sazonalmente já acontece”, considera.
“Quanto à mão de obra, continuamos com dificuldade na contratação especialmente a qualificada, gerando potencial acréscimo de custos”, concluiu.
SIMOV – Sindicato da Indústria do Mobiliário e Marcenaria do Estado do Paraná
Presidente: Mauro Schwartsburd
De acordo com dados do SIMOV, a região conta com cerca de 4.000 indústrias, abrangendo desde micro até grandes empresas, onde se estima a existência de 30.000 empregos diretos e 60.000 indiretos. Segundo Mauro Schwartsburd, presidente do SIMOV, a Indústria Moveleira Brasileira tem enfrentado desafios consideráveis, com incertezas tanto no âmbito nacional quanto no internacional. Para ele, os desafios são grandes e estão bem delineados:
- Logística: a logística é excessivamente onerosa em comparação com outros países.
- Burocracia: o cumprimento das obrigações burocráticas consome aproximadamente 1590 horas.
- Apagão de mão-de-obra qualificada: com a modernização das indústrias, é imprescindível uma melhoria na qualidade do ensino base.
- Reforma tributária: a indústria, uma importante geradora de emprego e mão de obra, é fortemente penalizada pela atual estrutura tributária.
Diante de tantos desafios, ele ressalta a importância da atuação dos Sindicatos Patronais e da Federação das Indústrias do Estado Paraná (FIEP) que trabalham incansavelmente para proporcionar à indústria nacional condições equiparadas às dos demais países.
Quanto à matéria-prima, felizmente estamos voltando à normalidade em relação à disponibilidade e aos preços, informa Schwartsburd. Outro fator de custo significativo é a energia elétrica.
Parcerias energéticas
Nesse sentido, em parceria com a FIEP, o SIMOV tem incentivado a participação das indústrias no mercado livre de energia, no qual é possível contratar diretamente com os produtores uma demanda pré-estabelecida a um custo inferior ao praticado normalmente. Além disso, também temos promovido a adoção de sistemas de geração própria de energia, como o uso de painéis solares. “A minha empresa Decormade já adquiriu este sistema com financiamento específico para esta finalidade e hoje é autosuficiente”, disse.
Ele relata que no primeiro semestre de 2023 houve uma forte queda na demanda, devido a vários fatores, tais como o fim do ¨boom” de demanda gerado pela pandemia, aliada ao aumento das taxas de juros para financiamento ao consumidor, às incertezas políticas e econômicas e a possibilidade de adiamento da aquisição de móveis, considerados dispensáveis em certos casos. “Esperamos, contudo, passar por estes tempos difíceis dos quais sempre saímos mais eficientes e qualificados, se não nos acomodarmos com a situação atual”, expressa com otimismo.
SIMM – Sindicato da Indústria do Mobiliário de Mirassol
Presidente: Maic Caneira
www.simm.org.br
De acordo com dados do Sindicato da Indústria do Mobiliário de Mirassol, localizado no polo noroeste paulista, a região abriga 550 estabelecimentos e conta com 10.500 empregos formais. A falta de matéria-prima não é um problema. No entanto, a mão de obra tem sido uma questão preocupante há algum tempo, especialmente a mão de obra mais experiente e qualificada. Maic Caneira, presidente do SIMM, informa que várias ações estão sendo tomadas para lidar com essa questão. “Várias ações estão sendo tomadas, dentre elas: forte trabalho de formação no Senai, melhorias salariais, treinamentos e benefícios para retenção de mão de obra”, afirma.
O aumento no custo com a energia é considerado dentro da normalidade. “Nada fora do comum, alternativas são investimento em energia solar e, principalmente, a migração para o mercado livre de energia”, disse.
A queda na demanda pela produção de móveis também é considerada normal pelo Sindicado. De acordo com Caneira, a demanda está em um nível normalmente baixo, muito semelhante ao que era em 2019, antes da pandemia. “Demanda normal para baixo, muito em linha com 2019 pré-pandemia”, disse.
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