Na Semana de Design de Milão, diversos eventos ocorrem em paralelo ao Salone del Mobile, maior feira do setor de móveis no mundo — leia sobre AQUI —, que neste ano ocorreu de 18 a 23 de abril. Com uma diversa programação por famosos (e outros nem tão populares assim) pontos da cidade italiana, o circuito Fuorisalone caiu nas graças do público e já é considerado o mais importante no que se refere a apresentação de novidades do design voltado ao viver.
Com o festival abrangendo mais de 20 distritos e 800 eventos, revelando a força de grandes, médias e pequenas empresas e profissionais também fora dos pavilhões do iSaloni, o tema proposto para o Fuorisalone 2023 foi “Laboratório Futuro”. Tópico que traduz os desafios de hoje em oportunidades para o amanhã. E, como é de se esperar, a sustentabilidade foi protagonista em inúmeras produções.
E a Semana de Design de Milão é tudo isso: um momento em que as grandes questões da atualidade, desde a questão do clima até a sustentabilidade das grandes metrópoles e a eficiência dos processos produtivos fabris, ganham espaço para reflexão.
Uma ótima notícia é: o Brasil está não só conectado como contribuindo em toda essa discussão e transformação!
Segundo Maurício Siqueira, diretor executivo da Siq Marketing e CASACOR Ribeirão Preto, o Brasil foi a terceira maior delegação de Milão. “Há anos temos uma boa representatividade trazendo mais e mais profissionais a desenvolverem seus olhares de coolhunter”, compartilha.
Pessoalidade e contato no Fuorisalone
Promovida pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), com curadoria de Bruno Simões, a mostra brasileira “Temporal” foi um dos destaques da “Design Re-Evolution”, organizada pela Interni, fundadora do Fuorisalone, na Università degli Studi di Milano.
A Enele foi uma das marcas brasileiras em exposição com a Poltrona Cuco, desenvolvida em parceria com a Plataforma 4. “Ficamos muito felizes em ver o sucesso da peça mesmo fora do Brasil, e também o sucesso dos designers brasileiros como um todo”, disse Otávio Lazaron, da Enele. Ele também afirma que os eventos paralelos durante o Fuorisalone vem ganhando cada vez mais força nos últimos anos.
“Senti uma pessoalidade maior nos ambientes visitados do Fuorisalone. O iSaloni ainda é muito voltado ao atendimento de clientes. Já o Fuori, conseguimos um contato mais profundo com os produtos e tendências”, conta.
Na região de Tortona, que deu início a tudo, a Tortona Design Week abriga diversas galerias de arte, estúdios de design e de fotografia, que ajudam a materializar os principais temas levantados pelas marcas e talentos do design. Destaque também para a 7ª edição do Isola Design Festival, dedicado ao tema “Nada acontece se nada acontecer”, para ir além do pensamento do design sustentável. Bem como a 5 Vie Design District que está em sua 10ª edição.
Pedras para além de tampos
A Brera Design Week também trouxe uma reflexão sobre temas atuais, despertando nas jovens gerações discussões sobre novos materiais e desafios do mercado para a indústria. Foi justamente de lá, aliás, que saiu a marca vencedora do Fuorisalone Award 2023: a holandesa SolidNature, especialista no processamento de pedras naturais e que participa pela segunda vez do Fuorisalone com uma instalação totalmente independente intitulada Beyond the Surface.
As pedras estão mostrando a que vieram: muito além dos tampos de mesa. Elas estão presentes nos revestimentos de paredes e divisórias, ganhando até mesmo forma de portas de armários.
Não por menos, o Brasil contou com uma exposição totalmente voltada ao tema. Provando, assim, que além da madeira natural, principal matéria-prima do design e da indústria de móveis brasileira, o país — detentor da maior diversidade geológica do planeta — tem muito a oferecer em termos de materiais, criatividade e, claro, sustentabilidade.
Seis empresas do setor de rochas ornamentais estiveram em destaque durante a exposição da “Design Re-Evolution”, dessa vez por meio do It’s Natural – Brazilian Natural Stone, projeto de incentivo às exportações de rochas ornamentais nacionais idealizado também pela ApexBrasil em parceria com o Centro Brasileiro dos Exportadores de Rochas Ornamentais (Centrorochas).
No Stone Pavilion, uma intervenção de design criada pela arquiteta e designer Vivian Coser e composta exclusivamente com rochas brasileiras, quartzito, rocha semi-preciosa e mármore dolomítico formavam o ambiente. Expostos em formas de chapas e peças de design, os materiais naturais da Cajugram, Dapaz, Decolores, Gramazini, Granistone e Pedra do Frade completam o ambiente delineado sob a essência da biofilia, conceito que leva o meio ambiente aos espaços urbanos, promove bem-estar, conforto emocional e sensação de relaxamento.
A moda e o móvel
Diversas marcas expõem tanto em Salone, quanto em Fuorisalone. E foi em Via Durini que grandes nomes da moda italiana apresentaram essa forte relação da moda junto ao móvel: Louis Vuitton, Gucci, Versace, Armani.
Maurício Siqueira cita, entre outros, a Moooi, como um dos showrooms mais extraordinários e arrojados em termos de cores e vibrações ligados à percepção do consumidor.
Vidros em Valcucine. O posicionamento de marca de cozinha sustentável, trabalhou muito vidro e inovações tecnologias, com automação de portas para grandes vãos, por exemplo.
O conceito da marca Missoni, desta vez, esteve presente em um mar de bóias como alternativa para conforto e relaxamento, trazendo em suas linhas o zig zag de uma das marcas mais criativas e respeitadas da moda e da casa.
Diversidade de materiais em Alcova
E por falar na diversidade de materiais, essa sem dúvida foi vista em Alcova. Lugar onde mais de 70 projetos participaram da 5ª edição do festival, que, desta vez, foi instalado em uma vasta área de um antigo matadouro.
Na visão do diretor executivo da Siq Marketing e CASACOR Ribeirão Preto, Maurício Siqueira, jovens designers do mundo todo apresentaram muita diversidade, principalmente, de materiais de resina e vidros, e de painéis com composições destes materiais. “Pasta de madeira junto com o bambu para aumentar a resistência. O uso de papel, aplicado de forma diferente com o vidro para dar uma outra resistência. A própria resina com o vidro, resina com a madeira, resina com cerâmica. Ali a gente tinha inovação em uma composição muito grande de materiais”, conta.
De acordo com o profissional, a Alcova é este movimento com testes de materiais e aplicações que provavelmente serão vistos no mercado nos próximos cinco ou dez anos. “Se a gente falar sobre o que foi mais inovador no Fuorisalone, para mim, foi a Alcova, assim como foi no ano passado. Ela traz a preocupação com a sustentabilidade, com o material do futuro, ensaios que poderemos ver aplicados em dez anos ou menos, conforme avança a nossa tecnologia”, afirma. “Sempre com designers autorais, universidades e muita pesquisa. O Fuorisalone traz exatamente isso, a provocação do que vai escalar no mercado daqui alguns anos”, conclui.
Fuorisalone também é sobrevida
No Waste Chair é uma instalação/manifesto que marca o centenário da marca de roupas Colmar. As peças de vestuário — tecidos, fitas, botões, logotipos — fora de moda ou em desuso, recebem uma segunda chance pelas mãos do jovem designer holandês Kees Dekkers, dentro da cadeira feita de plexiglass transparente reciclado. Esse material também conhecido como acrílico, vidro acrílico ou, cientificamente, poli (metacrilato de metila PMMA), ganhou ampla utilização, especialmente para máscaras e divisórias de proteção contra a Covid.
Diversos Palazzos foram abertos para instalações durante a Semana de Design de Milão. A instalação de Cadeiras tomou conta do edifício histórico Palazzo Isimbardi, em Corso Monforte. O diretor artístico da marca, Jonathan Anderson, lançou um trabalho feito à mão sobre a estrutura pré-existente das cadeiras, com tecidos da Maison. As cadeiras também ganham sobrevida nas mãos dos artistas Jacopo Ballerini, Melissa Vanucci, e Roberta Luciani, acima. Entre tantas outras fabulosas criações que você confere na instalação Chairs – Loewe.
A diversidade de materiais da indústria brasileira de móveis
Além da matérias-primas naturais, a indústria brasileira de móveis também se apoia na tecnologia que permite recriar por meio de superfícies especiais diversos recursos materiais e únicos, como as madeiras nativas, texturas e elementos naturais como de rochas e minerais, além de couros e tramas, bem como uma variedade de cores e padrões orgânicos que impulsionam nossa brasilidade. Leia mais na matéria Forma e função: os caminhos para design de mobiliário a partir do iSaloni 2023.