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Futuro do setor moveleiro: ‘Mar calmo nunca fez bom marinheiro’

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Vivemos um momento de preocupação e inquietação na indústria moveleira – e, sejamos sinceros, na vida! Em situações como esta é comum aparecerem “franco atiradores”. Que, aliás, mudam de opinião de acordo com a pressão que recebem. A verdade, porém, é que a crítica pela crítica não constrói. E é por isso que mantemos nosso compromisso de fazer deste um espaço para debatermos o futuro do setor moveleiro de maneira neutra, analítica e estratégica 

O cenário global continua atípico e desafiador. Com todas as cadeias produtivas tendo sido afetadas. Num processo, então, de disrupção e reorganização coletivo. Isto não está sendo diferente entre os elos do setor moveleiro. Com a retomada gradativa das atividades, após um período de quarentena em que as empresas foram fechadas ou operaram com equipes reduzidas, o setor mostrou uma reação muito mais positiva até do que o esperado.

Assim, depois de uma queda que parecia não ter fim durante os primeiros meses de distanciamento social, junho e julho trouxeram resultados exponenciais. Apresentando, inclusive, números superiores aos do ano passado, em condições normais de produção. Conjuntura levantada por diversos fatores cujo os quais já falamos bastante em nossa série “Setor Moveleiro – Overview 2020: Aquecimento em meio à pandemia”.

O que podemos esperar para o futuro do setor moveleiro?

 

Se por um lado, então, esse distanciamento – e as mudanças comportamentais, bem como as medidas econômicas e políticas puxadas por ele -, trouxeram ao setor moveleiro oportunidades incríveis de retomada e crescimento, extremos são sempre assustadores. Enquanto em outros momentos, esses números nos fariam “estourar rojões”, a instabilidade do período de fortes emoções e muitas surpresas aumentam as incertezas diante de um futuro ainda pouco nítido.

O que vemos é uma perspectiva positiva de crescimento da demanda. Mas que pode ser limitada devido à escassa oferta de matéria-prima e o aumento nos preços de fornecedores, que terão de ser repassados para o consumidor. Criando, assim, diversos obstáculos no mercado. E, claro, é natural que com a possibilidade de se ter mercado versus a impossibilidade de produzir por falta de suprimentos, soframos de uma frustração coletiva.

O que não podemos esquecer, porém, é da necessidade de usarmos o momento para repensarmos a dinâmica de nossos negócios. Encontrando formas de alcançarmos crescimento sustentado, em vez de apenas surfarmos ou nos deixar afogar na onda. “Nesse universo, embora não saibamos se haverá novas quedas, principalmente por conta da escassez de insumos, precisamos continuar acreditando na capacidade da indústria moveleira em se reinventar e criar alternativas”, fala Carlos Bessa, CEO da Plataforma de Negócios Setor Moveleiro.

Escassez de suprimentos para a indústria moveleira em pauta

Afinal, como coloca a Abimóvel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário) em comunicado às indústrias moveleiras, “o desabastecimento é estrutural”. O que quer dizer que a diminuição da oferta de insumos é consequência direta da crise que todos ainda estamos atravessando.

“Entre os meses de março e abril houve uma queda abrupta em torno de 50% do volume das vendas domésticas. Nas quais as companhias tiveram que realizar movimentos naturais de sobrevivência e manutenção de empregos […] Com a reabertura do comércio, no mês de junho, tivemos a sinalização de retomada significativa da demanda interna, acima da expectativa, com um incremento de mais de 60% das vendas domésticas em relação ao mês anterior. Movimento este, que vem crescendo diariamente. Ou seja, houve uma explosão de consumo, a qual achamos que se deve em função de toda a demanda reprimida por conta da pandemia e suas restrições”, diz o comunicado.

No entanto, a expectativa é que logo (médio prazo) devemos experimentar uma estabilização tanto da demanda quanto da oferta, o que permitirá traçar um horizonte mais próximo da normalidade e regularização das questões ora enfrentadas. E essa perspectiva é sustentada por diferentes fatores: 1- Porque tanto as indústrias fornecedoras quanto as de móveis seguiram e seguem trabalhando para o reequilíbrio da oferta e demanda com um olhar atento para a equalização dos estoques em todos os elos da cadeia produtiva; 2- pela própria estabilização dos parâmetros e dinâmicas de consumo.

Indicadores de consumo e a busca por respostas

“Com medo do futuro, o consumidor segurou o consumo no início da pandemia. Prova disso foi o menor índice de endividamento em relação a 2019. Com a injeção de dinheiro na economia [auxílio emergencial, suspensão temporária do pagamento de certos financiamentos, saque FGTS, empréstimos subsidiados etc.], no entanto, uma parcela da população passou a pagar contas [menor índice de inadimplência desde 2015] e outra parte foi às compras. Provocando o aumento de vendas e do endividamento mês a mês”, explica Laércio Comar, CEO da ADDE – Indicadores de apoio à gestão.

Este endividamento, todavia, tem limite. Tratando-se, então, de um ótimo indicador para o futuro do setor moveleiro. Conforme explica Comar, devido a sede de consumo causada pela limitação da pandemia, o endividamento muito provavelmente logo ultrapassará os patamares de 2019. Fazendo-nos acreditar, portanto, que ao momento em que começar a comprometer a renda, a exemplo do que sempre ocorre, o consumidor diminuirá bruscamente o consumo, da mesma forma desgovernada com que saiu comprando.

“Com os exageros no consumo e o fim do dinheiro extra injetado de várias formas, a tendência é o aumento de inadimplência. Com nível de endividamento acima da média, acompanhado de inadimplência, portanto, o mercado de oferta e consumo volta ao normal”, explica o especialista. Ele completa: “Minha opinião não se baseia em otimismo ou pessimismo. Mas tão somente no fato de que a bolha onde vivemos não está baseada em aumento de renda e empregos fixos, que são de fato premissas de crescimento econômico. Agora é acompanhar a curva e torcer para que dure o máximo possível, ao menos para o setor mobiliário.”

Mundo novo, novo normal – dê adeus a velhos hábitos

É justamente este olhar compartilhado por Comar – centrado em respostas que possam nos levar a soluções assertivas e quiçá permanentes -, que devem guiar a retomada do setor neste e em todos os momentos. Em detrimento, então, da simples ”caça às bruxas”, que muito se vê por aí, mas pouco de produtivo realmente traz ao futuro do setor moveleiro.

“No caos surgem tanto oportunidades como mensageiros do Apocalipse. Que, com ideias bombas, dizem o que os ouvidos estão ávidos por escutar, sem se preocupar com as consequências. Um certo Karl Marx, aliás, escreveu em uma de suas obras – ‘O 18 de Brumário de Luís Bonaparte’ – uma frase interessante: ‘A história se repete. Primeiro como tragédia, depois como farsa’”, pontua Carlos Bessa. Os psicólogos costumam se referir a esta situação como “ciclos não fechados”.

Mas como isso se aplica ao futuro setor moveleiro e qual a solução?

“Bem, vocês são empresários bem sucedidos. Não há como sugerir que estejam errados. Seria incoerência e deste mal não pretendo morrer. O que me ocorre é lembrar a todos que desde o início da pandemia se percebe uma mudança acentuada no comportamento social. Este boom de consumo anestesiou a nossa percepção a ponto de não conseguirmos processar as informações como deveríamos estar fazendo. Quando essa bolha estourar, quem tiver se preparado em termos de interpretar esses novos tempos largará na frente”, compartilha mais uma vez sua opinião, o CEO da Setor Moveleiro.

Por fim, gostaríamos que o mercado sempre mantivesse números tão bons quanto os atuais, de maneira sustentada, com mão de obra e suprimentos em dia? Sem dúvida! No entanto, sabemos que essa não é a realidade. O que nos impede, porém, de tornar estes desejos reais? Como conquistarmos mão de obra especializada e qualificada? De que maneira poderemos garantir o abastecimento de matéria-prima de maneira regular o ano todo e sob diferentes condições?

Mundo novo, novo normal… práticas novas! Se é que um dia funcionou, o uso de mensagens bombásticas – que visam muito mais intimidar do que trazer respostas – não deverá mais funcionar.

Reveja o webinar “O aquecimento do setor moveleiro em meio à pandemia”

 

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