No cenário empresarial atual, a gestão responsável dos resíduos tornou-se uma prioridade incontestável para organizações comprometidas com a sustentabilidade e a eficiência operacional. No setor moveleiro, por sua vez, a abordagem estratégica para lidar com resíduos desempenha um papel crucial na minimização do impacto ambiental e na maximização dos recursos disponíveis. Na matéria abaixo, você vai conhecer as principais formas de gerir os resíduos na produção de móveis, bem como descobrir como aplicá-las no setor moveleiro. Boa leitura!
Em um cenário econômico cada vez mais consciente das implicações ambientais, a indústria moveleira se encontra diante de um desafio crucial: conciliar inovação, produção em larga escala e responsabilidade ambiental.
Com o aumento da demanda por móveis e a rápida evolução do design, a pressão para encontrar soluções sustentáveis na gestão de resíduos se tornou uma realidade.
Nesse contexto, gestores do setor moveleiro se veem no caminho que está entre a busca por eficiência operacional e a necessidade premente de adotar práticas que minimizem o impacto ambiental.
Essa reflexão se torna ainda mais urgente diante das crescentes expectativas dos consumidores por produtos que não somente atendam às suas necessidades estéticas, como também respeitem o planeta.
Nesta matéria, que irá lhe apresentar a realidade aumentada e os impactos no setor moveleiro, você vai conferir:
- O que é gestão de resíduos?
- Quais são as principais estratégias de gestão de resíduos no setor moveleiro?
- Quais são os desafios da gestão de resíduos no setor moveleiro?
- Como as práticas sustentáveis podem contribuir com a gestão de resíduos?
- Como a legislação ambiental impacta a gestão de resíduos no setor moveleiro?
O que é gestão de resíduos?
A gestão de resíduos, no contexto moveleiro, vai além da simples disposição de detritos. Isso porque o conceito envolve uma abordagem que abrange desde a fase inicial do processo produtivo até o destino final dos produtos descartados.
Na essência, a gestão eficaz de resíduos busca minimizar a quantidade de desperdício gerado, otimizando a utilização de matérias-primas e reduzindo a pegada ambiental.
A consideração cuidadosa de cada etapa do ciclo de vida dos produtos se torna essencial, desde a seleção de materiais sustentáveis até a implementação de práticas inteligentes de reciclagem e reutilização.
Além disso, a gestão de resíduos no setor moveleiro vai além da perspectiva tradicional, se integrando à cadeia de suprimentos e colaborando estreitamente com fornecedores e parceiros.
Coleta, separação, seleção e destino
“A gestão de resíduos eficiente é resultado de um processo eficaz na coleta, separação, seleção e destino dos resíduos. Apenas aquilo que não pode ser reaproveitado é que é destinado ao lixo”, explica Jamaci Messias Damasceno, assessor de assuntos estratégicos e relações institucionais da Amap (Associação dos Fabricantes de Móveis e Artefatos de Madeira da Paraíba).
A implementação bem-sucedida dessas estratégias, além de alinhar as empresas às exigências regulatórias, solidifica uma imagem positiva perante os consumidores conscientes e reforça a responsabilidade corporativa.
Quais são as principais estratégias de gestão de resíduos no setor moveleiro?
Na busca pela eficiência e pela sustentabilidade, gestores do setor moveleiro têm à disposição uma ampla gama de estratégias para transformar o cenário da gestão de resíduos.
A incorporação de práticas de design sustentável, por exemplo, é um ponto-chave.
Ao optar por materiais de baixo impacto ambiental e projetar produtos que permitam uma fácil desmontagem, as empresas podem facilitar a reciclagem e reduzir significativamente a produção de resíduos não aproveitáveis.
A implementação de processos de reciclagem inovadores também se destaca como uma estratégia fundamental.
Uso da tecnologia na gestão de resíduos
Ao adotar tecnologias avançadas e parcerias colaborativas com empresas especializadas em reciclagem, o setor moveleiro pode explorar maneiras de transformar resíduos em novas matérias-primas, fechando o ciclo produtivo e contribuindo para a construção de uma economia circular robusta.
Vitor das Neves Guidini, sócio-diretor comercial da Cimol Móveis, destaca, ainda, que as estratégias eficazes envolvem a avaliação detalhada dos processos para identificar oportunidades de redução e de reciclagem.
“Tecnologias inovadoras, como a reciclagem avançada de materiais compostos e a incorporação de inteligência artificial para otimizar processos de reciclagem, estão disponíveis. A integração dessas tecnologias pode melhorar significativamente a eficiência na gestão de resíduos”, pondera.
O assessor de assuntos estratégicos e relações institucionais da Amap, por sua vez, destaca que o uso de coletores para a divisão das sobras da produção moveleira é uma boa estratégia para as empresas.
Os processos de gestão de resíduos em Arapongas/PR
Conforme explica José Lopes Aquino, presidente do Sima (Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas – PR), a cidade de Arapongas, no Norte do Paraná, buscou, há mais de duas décadas, unir as indústrias às soluções por meio de parcerias estratégicas.
“Inicialmente fundamos uma ONG (Organização Não-Governamental), o Cetec, na qual as boas práticas e as certificações ambientais foram desenvolvidas, levando-as a todas as fábricas, o que gerou um movimento sinérgico regional”, detalha.
Na sequência, Aquino aponta que uma usina de reciclagem de resíduos foi implantada na cidade. A usina, por sua vez, também foi certificada pelos órgãos ambientais.
“Implantamos o Eco-Selo para certificar os estágios das fábricas no atendimento das boas práticas avaliando-as anualmente. Temos os níveis bronze, prata, ouro e diamante, sendo esse último o topo da certificação. Esse certificado gera valor para as indústrias locais quanto à sustentabilidade de suas práticas industriais.”
Por fim, a promoção da responsabilidade estendida do produtor, incentivando a logística reversa e a coleta seletiva, emerge como um caminho promissor para a indústria moveleira, fortalecendo seus laços com consumidores e promovendo práticas ambientalmente responsáveis.
Quais são os desafios da gestão de resíduos no setor moveleiro?
Apesar dos avanços significativos, a gestão de resíduos no setor moveleiro enfrenta desafios complexos.
A diversidade de materiais utilizados na produção de móveis, muitas vezes combinando madeira, metais, plásticos e tecidos, torna a separação e reciclagem uma tarefa complexa.
Ademais, a obsolescência programada e as rápidas mudanças nas tendências de design podem resultar em produtos descartados prematuramente, aumentando a pressão sobre os sistemas de gestão de resíduos.
Conscientização
Outro desafio fundamental reside na conscientização e engajamento de toda a cadeia produtiva, desde os fornecedores até os consumidores finais.
Jamaci Messias Damasceno argumenta que, para a Amap, o principal desafio da gestão de resíduos no Brasil é a geração de uma consciência coletiva.
“A busca por soluções é sempre individual, quando deveria ser coletiva. Para superar essa realidade é necessário a interação constante entre as empresas, como um ciclo de conversas exclusivas sobre o assunto para que as boas experiências sejam compartilhadas.”
A implementação efetiva de práticas sustentáveis muitas vezes exige uma mudança cultural, exigindo a colaboração ativa de todos os envolvidos.
José Lopes Aquino segue a mesma linha de pensamento, ao destacar que o engajamento dos colabores é outro grande desafio.
“Adequar e internalizar os processos de reciclagem e segregação no dia a dia da empresa é o caminho. Envolver os setores de RH (Recursos Humanos), de qualidade e de segurança no trabalho funciona como uma mola propulsora dessa gestão”, explica.
A falta de padrões globais para a rotulagem ambiental e a certificação de produtos também adiciona uma camada de complexidade, dificultando a identificação de produtos sustentáveis pelos consumidores e limitando a capacidade das empresas de comunicar efetivamente seus esforços na gestão de resíduos.
Como as práticas sustentáveis podem contribuir com a gestão de resíduos?
A integração de práticas sustentáveis, além de oferecer soluções para os desafios enfrentados pela gestão de resíduos no setor moveleiro, se revela como uma oportunidade estratégica para impulsionar a inovação e a competitividade.
O uso crescente de tecnologias digitais, como a modelagem 3D e a fabricação aditiva, possibilita a criação de móveis modulares e personalizados, o que permite reduzir o desperdício ao produzir apenas o necessário.
Fontes de energia renovável
Além disso, a busca por fontes de energia renovável na produção e o investimento em processos eficientes não apenas reduzem o impacto ambiental, mas também podem resultar em significativas economias operacionais.
“A implementação de práticas sustentáveis na cadeia de suprimentos pode incluir a seleção de fornecedores comprometidos com a redução de resíduos e com a promoção de embalagens sustentáveis, contribuindo para uma gestão mais eficiente dos resíduos”, aponta Guidini.
Educação dos colaboradores para uma gestão de resíduos eficiente
A educação e o envolvimento dos colaboradores também desempenham um papel crucial na implementação eficaz de práticas sustentáveis.
“A conscientização dos colaboradores pode ser promovida através de programas de treinamento, incentivando a participação ativa em práticas sustentáveis. Estabelecer metas e reconhecer contribuições individuais também pode aumentar o engajamento”, destaca Guidini.
Capacitar os funcionários a adotarem hábitos de trabalho mais ecológicos, promover a reciclagem nos locais de trabalho e integrar a responsabilidade ambiental como parte da cultura corporativa são passos fundamentais para fortalecer a consciência sustentável em todos os níveis da organização.
“Com um processo adequado para os resíduos gerados e tratados de forma correta em termos ambientais, aliado a certificações de boas práticas auditadas anualmente, é possível implementar ciclos de melhorias contínuas para cada indústria moveleira e seus fornecedores locais, gerando a evolução contínua desse processo”, destaca Aquino.
Como a legislação ambiental impacta a gestão de resíduos no setor moveleiro?
A legislação ambiental desempenha um papel determinante na orientação e regulamentação das práticas de gestão de resíduos no setor moveleiro.
À medida que as preocupações ambientais ganham destaque global, governos em todo o mundo têm implementado normativas mais rigorosas para reduzir os impactos negativos das atividades industriais.
“As empresas devem se manter atualizadas com as regulamentações, implementar sistemas de monitoramento e relatório, além de adotar medidas proativas para garantir a conformidade e promover a responsabilidade ambiental”, explica o sócio-diretor comercial da Cimol Móveis.
Regulamentação
No setor moveleiro, a legislação estabelece padrões para a gestão responsável de resíduos, desde a proibição de substâncias perigosas até a exigência de práticas de reciclagem e descarte adequado.
O cumprimento dessas regulamentações não é apenas uma obrigação legal, mas também uma oportunidade para as empresas demonstrarem seu comprometimento com a sustentabilidade.
“Trazer uma consultoria com expertise na orientação na e certificação é necessário para que as práticas adotadas estejam sempre adequadas à legislação vigente e às suas adequações, que são constantes”, detalha o presidente do Sima.
Essa orientação, segundo Aquino, deve envolver tanto o gerador de resíduos como o ente reciclador, para que esse processo dê a garantia necessária de que esses resíduos tenham a destinação correta.
Ao alinhar suas operações às normativas ambientais, as organizações do setor moveleiro não apenas evitam penalidades, mas também fortalecem sua imagem junto aos consumidores e parceiros de negócios.
Fiscalização da gestão de resíduos
Por outro lado, Damasceno chama a atenção para o ponto da fiscalização, que, para o especialista, é mais punitiva do que instrutiva.
“Percebemos que a legislação parece ter sido criada em outro país e a fiscalização pensa que esse país é o nosso. Fiscalizar, no Brasil, parece ter um outro objetivo: arrecadar. O objetivo é multar e ponto. E o impacto, antes de tudo, é no bolso da empresa e mesmo quando a empresa cumpre os quesitos da legislação o interesse é provar que a empresa está errada em algum ponto”, finaliza o especialista.