A Plataforma Setor Moveleiro concluiu com sucesso o último Giro pelos Polos do ano. O evento reuniu sindicatos e associações moveleiras, cumprindo o propósito de compartilhar informações-chave. Participantes avaliaram o ano de 2023 e compartilharam expectativas para 2024. Um ponto crucial discutido foi o aumento do ICMS.
Os governos dos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo anunciaram o aumento da alíquota modal do ICMS para 19,5%. A justificativa aponta para o potencial impacto negativo da reforma tributária em andamento no Congresso.
No Paraná, apesar da resistência do setor produtivo, o aumento foi aprovado na última sessão do ano em 12 de dezembro pela Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Isso ocorreu mesmo diante da resistência do setor produtivo, que alega desestímulo à competitividade com essa iniciativa
O impacto do aumento do ICMS no setor
O presidente da ABIMÓVEL, Irineu Munhoz, considera que o aumento do ICMS suscita diversas considerações. Na sua opinião, é importante abordar os impactos dessa mudança tanto para o setor público quanto para a iniciativa privada:
“Por um lado, a Reforma Tributária é frequentemente buscada para simplificar o sistema tributário, tornando-o mais eficiente e transparente. O aumento das alíquotas pode ser uma estratégia temporária para equilibrar as contas durante o período de transição para um novo modelo. Por outro lado, é crucial considerar os efeitos diretos sobre as empresas e os consumidores”, afirma Munhoz.
Ele destaca a importância de um diálogo entre o governo e as partes interessadas para garantir mudanças equitativas. O presidente da Abimóvel conclui que o aumento do ICMS pode resultar em uma redução nas transações comerciais e não aumentar a arrecadação, sendo essencial um debate aberto e participativo.
“É fundamental que a Reforma Tributária seja conduzida de maneira a promover a justiça fiscal, evitando sobrecarregar setores específicos da economia”, disse.
Competitividade em risco e aumento de preços
Para José Lopes Aquino, presidente do SIMA (Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas) a elevação de tributo é sempre danosa para o consumo. “Toda elevação de custo de tributo incide diretamente na elevação dos preços dos produtos, tornando ainda menor o poder de compra do consumidor”, disse.
Aquino também alerta que os Estados que tiverem o aumento da alíquota “farão com que as empresas se tornem menos competitivas, o que é nefasto, e ainda, ao meu ver, reduzirá o consumo e diminuirá a arrecadação não resolvendo a questão financeira desses próprios Estados”, afirma.
“As cargas tributárias no Brasil já são elevadas para os empresários de modo geral”, considera Euclides Longhi, presidente da Movergs (Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul). Ademais, ele destaca os esforços das indústrias moveleiras gaúchas para reduzir os custos de produção e evitar o aumento de preços. No entanto, o aumento do ICMS “neste momento em que o poder de compra está reduzido dificultaria ainda mais o desenvolvimento do setor, tornando praticamente impossível as indústrias não aumentarem os preços dos seus produtos”, disse.
“Esse reajuste chegaria ao varejo e ao consumidor final. Com forte tendência de queda na demanda, é muito provável que as indústrias moveleiras desacelerem e precisem reduzir o quadro de funcionários”, avalia Longhi.
Agravamento da crise econômica
Gisele Dalla Costa, presidente do Sindmóveis (Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves), prevê impactos negativos nas 300 indústrias do polo, com a possibilidade de queda nas vendas. “Mesmo com um cenário econômico desfavorável, as empresas vêm tentando se reinventar desde a produção até os lançamentos de produtos e as parcerias comerciais. O aumento do ICMS traria um esforço ainda maior para manter a qualidade e o design dos móveis, que são características marcantes do polo. A queda nas vendas é o principal reflexo que o aumento desse tributo pode trazer, infelizmente”, disse.
Maurício de Souza Lima, presidente do Sindimov-MG (Sindicato das Indústrias do Mobiliário e de Artefatos de Madeira do Estado de Minas Gerais), também acredita que a elevação tributária “impõe um esforço adicional à manutenção da qualidade e design dos móveis produzidos, gerando uma preocupante perspectiva de queda nas vendas e demissões”, disse.
“Empresários e consumidores anseiam por redução de alíquotas, não por seu aumento”, considera Maurício. E faz um alerta para o impacto sobre a competitividade das empresas mineiras, especialmente devido à facilidade de circulação de mercadorias pelo e-commerce, “pois os consumidores optarão pelo produto mais acessível, mesmo que proveniente de fora do Estado”, avalia.
Paraná: maior alíquota modal desde 2023
Mauro Pereira Schwartsburd, presidente do SIMOV (Sindicato da Indústria do Mobiliário e Marcenaria do Estado do Paraná), opôs-se ao aumento do ICMS no Paraná em carta enviada aos deputados, antes da aprovação, questionando sua sustentação técnica diante da tramitação da PEC 45/2019. Ele ressalta que o estado detém a maior alíquota modal de ICMS entre os estados das regiões Sul e Sudeste desde o início de 2023 – 19%.
Retrospectiva de crescimento modesto
Segundo o presidente da Abimóvel, Irineu Munhoz, em 2023, o setor moveleiro enfrentou desafios decorrentes de oscilações na produção e vendas, influências do cenário político e econômico, perturbações nas cadeias de abastecimento e impactos da inflação e altas taxas de juros. No entanto, a indústria demonstrou resiliência ao responder de forma ágil e sólida às novas demandas internas e externas. “A produção de móveis no Brasil teve um crescimento modesto no segundo semestre, contrabalançando perdas ao longo do ano, especialmente em vendas. Internacionalmente, a indústria moveleira brasileira recuperou terreno na segunda metade de 2023”.
Destacando a necessidade de observar e adaptar-se às mudanças nos hábitos de compra, Munhoz enfatiza a emergência da Agenda ESG. Dessa forma, refletindo princípios ambientais, sociais e de governança, agora prioritários para os consumidores.
Um estudo da Amcham aponta duas tendências para 2024: a Agenda ESG e a Inteligência Artificial (IA), citada por 60%. “A IA surge como uma poderosa ferramenta com potencial para revolucionar o setor moveleiro, permitindo maior personalização e eficiência tanto na concepção de designs inovadores quanto na otimização da produção”, conclui.
Desafios e conquistas
Para José Lopes Aquino, presidente do SIMA, o grande desafio para as indústrias foi ajustar as margens de contribuição a percentuais que equilibrassem a margem de lucro líquido. “A oferta maior que a demanda durante todo o ano dificultou sobremaneira o ajuste de preços necessário e/ou a elevação do volume de vendas, restando apenas a busca da redução de custos nos processos, o que também pouco espaço se tinha”, disse.
Entendendo o mercado e o cenário econômico
Euclides Longhi (Movergs): Este é meu primeiro ano como presidente da Movergs, dividindo a gestão com uma diretoria extremamente engajada e dedicada ao setor moveleiro. Para as indústrias de móveis do Rio Grande do Sul, acredito que o principal desafio em 2023 foi entender o mercado e o cenário econômico para manter os negócios saudáveis dentro do possível. Inflação, queda no varejo e no poder de compra, além de guerras internacionais, são alguns dos fatores que impactaram a produção e as vendas das nossas indústrias. Mesmo assim, os empresários continuam em busca de alternativas para fortalecer suas empresas – como inovação, tecnologia, design, conhecimento e novas parcerias.
Para a Movergs, os desafios e as conquistas se misturam. Tivemos a missão de realizar a Fimma Brasil com a Movelsul Brasil, esta promovida pela Sindmóveis, mais uma vez em conjunto, mas em um novo período (agosto). Com muito trabalho das diretorias e equipe técnica, além da confiança dos expositores, visitantes, patrocinadores e apoiadores, tivemos um evento com sucesso de público e geração de negócios. Também realizamos o 31º Congresso Movergs, em novembro, em novo local e formato mais dinâmico. É extremamente gratificante saber que oportunizamos conhecimento e qualificação a centenas de participantes.
Impossível falar de 2023 sem mencionar a união e a solidariedade do setor moveleiro com as milhares de famílias gaúchas desabrigadas pelas chuvas e enchentes em setembro. A Movergs mobilizou empresários e entidades numa campanha para doação de móveis, ajudando pessoas que perderam tudo ou quase tudo. Tenho certeza de que juntos ajudamos a amenizar pelo menos um pouco a tristeza de tantos gaúchos.
Um setor de geração de empregos
Gisele Dalla Costa, presidente do Sindmóveis, destaca a geração de empregos no setor, mesmo que o polo de Bento Gonçalves tenha registrado retração no faturamento e nas exportações:
Importante comentar que o segmento de móveis associa o uso de tecnologias de ponta no desenvolvimento de produtos inovadores. Ainda assim, há uma constante geração de empregos, fator esse que é muito relevante e desafiador. Dessa forma, os profissionais podem ver no segmento oportunidades para crescer e se desenvolver na profissão.
Outro destaque foi a realização conjunta das feiras Movelsul Brasil e Fimma Brasil (essa realizada pela Movergs) no final de agosto. Na Movelsul, percebemos muito otimismo dos expositores (indústrias de móveis, estofados, colchões e decoração) e também dos lojistas e importadores que visitaram o evento. Tivemos forte presença internacional, tanto pela vinda de importadores atraídos pela Movelsul, como pelo projeto Brazilian Furniture (da Abimóvel com a ApexBrasil). Dessa forma, permitindo que as empresas renovassem ou conquistassem parcerias para exportação. Essa é uma das frentes de atuação do Sindmóveis. Pois vemos as vendas para fora do Brasil como uma importante estratégia de competitividade e desenvolvimento sustentável para o setor moveleiro.
Realizamos a 25ª edição do Prêmio Salão Design, que neste ano teve 575 projetos inscritos por profissionais e estudantes de 19 estados brasileiros – além de Argentina, Espanha, Itália, México, Portugal e Uruguai. Desses, 11 foram contemplados e apresentados ao público da feira Movelsul em uma mostra que teve também apresentação de talks.
Encerrando o ano no mesmo patamar
O Sindimov-MG não tem boa expectativa para o desempenho do setor em 2023. “A expectativa da indústria de móveis é de registrar queda no faturamento em relação ao ano de 2022, já prevista após a baixa de aproximadamente 20% verificada até o momento neste ano”, disse Maurício de Souza Lima, presidente do Sindimov-MG
“Não estamos confiantes em crescimento este ano. Acredito que se conseguirmos fechar no mesmo patamar de 2022 será uma excelente conquista. A demanda do segundo semestre começou a aquecer um pouco mais tarde do que normalmente acontece em anos anteriores. Assim, muitas empresas da indústria de móveis em Minas ainda aceitam encomendas para este ano, diferente do comum para o período, quando as entregas já são agendadas apenas para o ano seguinte”.
Análise singular de 2023
“O ano de 2023 foi singular para diversos setores”, destaca Mauro Pereira Schwartsburd, presidente do SIMOV. Enquanto alguns conseguiram manter o faturamento próximo ao ano anterior, outros enfrentaram desafios significativos. Schwartsburd observa que até o setor de matéria-prima tem expressado preocupações. Ele atribui parte dessas dificuldades às promessas não cumpridas pelo Governo Federal de aquecimento da economia. “Pelo contrário, a escassez de dinheiro para financiamento e as taxas de juros elevadas têm impactado negativamente a economia.”
Escassez de mão de obra
O presidente do SIMOV destaca que a única taxa que permanece em um nível positivo é a taxa de desemprego, que já era baixa e continua em um patamar reduzido. “Até mesmo a mão de obra qualificada está escassa, o que pode representar um desafio adicional para o próximo ano, tornando-se uma situação potencialmente complicada para o futuro.”
Perspectivas futuras
Irineu Munhoz, presidente da Abimóvel: Para 2024, vislumbro uma perspectiva otimista para o setor moveleiro. Observamos uma melhoria na reorganização das cadeias de suprimentos, juntamente com a desaceleração da inflação e das taxas de juros, indicando um cenário mais favorável. Apesar do recuo no primeiro semestre de 2023, espera-se uma melhoria na produção, exportações e vendas domésticas ao longo do ano. No entanto, o sucesso do setor dependerá do cenário econômico e geopolítico global, como o desenrolar do conflito entre Rússia e Ucrânia e o conflito entre Israel e Hamas, a retomada do consumo na China. Além de outros fatores que afetam os preços das commodities internacionais, por exemplo.
A ABIMÓVEL continuará defendendo medidas como a desoneração do IPI e da folha de pagamento, além da inclusão do mobiliário em financiamentos habitacionais. O diálogo propositivo com o Governo Federal busca soluções para impulsionar a recuperação da indústria brasileira, fortalecer a economia e ampliar o poder de compra dos consumidores. Portanto, a participação ativa em instâncias como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial e o Fórum Nacional da Indústria demonstra o compromisso com uma nova política industrial voltada para inovação e competitividade no país. Além disso, a reinstalação da FREMOB reforça a defesa do setor moveleiro no âmbito parlamentar.
Para o presidente do SIMA, José Lopes Aquino, “a expectativa maior é que com a melhora do poder de compra e mais pessoas empregadas haja maior demanda de consumo, equilibrando a demanda com a oferta, gerando margens minimamente aceitáveis para as empresas sobreviverem! A queda dos juros pode também contribuir para melhorar o resultado dos empreendimentos! A continuidade da queda da inflação pode colaborar com esse cenário, com o que vislumbro um ano de 2024 um pouco melhor do que o ano que se finda!”.
Crescimento difícil diante do aumento do ICMS
Euclides Longhi (Movergs): Ainda é cedo para fazer projeções, mas esperamos que o setor moveleiro cresça em 2024. Se os programas habitacionais do governo forem efetivos, há possibilidade de movimentar a economia e gerar crescimento na demanda do segmento de móveis. Mas esse movimento não pode ser isolado. É importante que os juros se tornem mais competitivos, a economia cresça, o desemprego caia e a renda das famílias aumente.
Por outro lado, também é importante lembrar da pandemia e do expressivo crescimento do segmento verificado em 2020 e 2021. De modo que, quanto mais distante ficarmos daquele evento, melhoram as perspectivas de que os consumidores que lá atrás investiram em móveis voltem ao mercado. Afinal, estamos analisando um mercado de bens duráveis.
Também aqui destacamos a reforma tributária, a importância de que as indústrias não sejam mais oneradas e que o consumo não seja penalizado. Além disso, cabe lembrar que o possível aumento de ICMS no Rio Grande do Sul impactaria negativamente o setor como um todo, desde as vendas no varejo até a produção das indústrias, possivelmente causando retração e demissões.
Gisele Dalla Costa, presidente do Sindmóveis: É possível que em 2024 o setor moveleiro tenha crescimento em termos reais. Com efeito, trará impacto positivo para a produção e para a geração de empregos. O nosso segmento se caracteriza pela expressiva oportunidade de empregos aos profissionais. A reedição de programas habitacionais pelo Governo Federal pode fortalecer o segmento da construção civil, o que gera impacto positivo aos móveis.
Cenário promissor para 2024
Maurício de Souza Lima, presidente do Sindimov-MG: Expectamos um cenário promissor para o setor moveleiro em 2024. Apesar de toda desconfiança do mercado moveleiro quanto ao cenário econômico e político do Brasil.
A tendência de busca por qualidade e design continuará impulsionando o mercado. Assim, surgem oportunidades para empresários que buscam produzir produtos de qualidade e, ao mesmo tempo, com sustentabilidade.
A indústria moveleira, em busca de competitividade, seguirá priorizando a inovação, incorporando novos equipamentos, materiais e tecnologias de produção. Esta integração tecnológica ganhará ainda mais destaque, com móveis incorporando recursos tecnológicos e controle por aplicativos, alinhando-se ao avanço da Internet das Coisas.
Acredito que a saúde econômica do país, mesmo em um contexto global desafiador, contribuirá para um ambiente propício a investimentos na indústria de móveis. Para estratégias empreendedoras, como a exploração de nichos de mercado como móveis sustentáveis, móveis com tecnologia, móveis multifuncionais para espaço reduzido e inteligentes. Serão diferenciais que poderão garantir competitividade.
E o presidente SIMOV, Mauro Pereira Schwartsburd, compartilha sua esperança para 2024, ressaltando a importância de enfrentar desafios com base na experiência de 2023. Juntos, construiremos um futuro sólido para o setor!