Após falarmos sobre o impacto da conjuntura de emprego na economia e na indústria brasileira, em nosso terceiro e último conteúdo sobre o assunto, trazemos agora uma perspectiva sobre a questão da mão de obra em alguns dos principais polos moveleiros do País.
A exemplo do que aconteceu em outras áreas que contemplam o fluxo operacional das fábricas de móveis — como no abastecimento de matéria-prima, tema de outra série de artigos aqui na Plataforma Setor Moveleiro —, a pandemia revelou também dificuldades relacionadas à contratação e retenção de mão de obra especializada no Brasil. Atravancando, então, ao ritmo aquecido da produção de móveis em importantes polos de norte a sul do País, como nas regiões de São Bento do Sul, em Santa Catarina, e Imperatriz, no Maranhão.
Indústria moveleira e mão de obra especializada
Se encontrar profissionais especializados na indústria moveleira tem sido um desafio, de que maneira as indústrias vêm buscando contornar a situação? Como está a oferta de qualificação na região? E como os órgãos públicos vêm colaborando para a manutenção do pessoal ocupado em um período tão sensível? Essas são algumas das perguntas que fizemos para representantes de sindicatos moveleiros ao longo do último mês.
Chegando ao final do ano, a boa notícia parece ter sido o bom efeito do programa de proteção ao emprego, do Governo Federal, durante o estopim da crise no Brasil. Acesso a linhas de crédito, reforma tributária, entre outras questões, voltam a configurar como obstáculos ao crescimento industrial, porém.
Sindicato da Indústria do Mobiliário de Mirassol – SIMM (SP)
Maic Caneira – presidente
www.simm.org.br
Atualmente nossa base territorial compreende 15 cidades, com aproximadamente 200 empresas e um número estimado de 7.800 colaboradores. Quanto à representatividade na economia, nosso segmento tem uma notória importância na maioria das cidades da região. Afinal, tradicionalmente, nosso município sempre foi conhecido como a Capital do Móvel. O que fez com que muitas empresas se instalassem nas cidades vizinhas, que hoje fazem parte do nosso sindicato.
Apesar da nossa tradição, bem como da formação constante seja por graduação ou pela prática, porém, a oferta de mão de obra especializada ainda é muito pequena em relação a demanda em nosso polo. Nesse sentido, no próximo ano estaremos intensificando a graduação junto ao SENAI, além de já termos programadas outras ações em busca de resposta para essa procura por trabalhadores qualificados. Áreas como de desenvolvimento de novos projetos, manutenção e liderança podem ser apontadas como as principais.
Sobre a relação entre empregado e empregador neste ano, nossa percepção é de uma boa colaboração, a fim de passarmos juntos por este desafio. Entendemos, também, que o programa de proteção ao emprego do Governo Federal ajudou muito nosso polo. Principalmente no início da pandemia, devido às grandes incertezas. Não necessariamente pela utilização, mas, sobretudo, por nos dar uma nova ferramenta que poderia ser usada quando necessária.
Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas – SIMA (PR)
Irineu Munhoz – presidente
www.sima.org.br
Com mais de 900 indústrias empregando em torno de 17 mil profissionais de forma direta, ainda temos muita dificuldade em encontrar mão de obra especializada. Especialmente nos segmentos de manutenção industrial, logística, suprimentos e costura. Existe oferta de cursos e até contrapartida, mas entendemos que o básico tem que ser realizado na própria empresa. Que deve, então, sempre investir em qualificação para atualização e otimização da força de trabalho.
Durante a pandemia, definitivamente não foi fácil garantir a proteção à vida e ao mesmo tempo manter um ritmo de produção. Mas acredito que fizemos nossa parte. Passado o pior momento, os maiores desafios na manutenção da mão de obra estão em alinhar as expectativas de ganho real. Haja vista que o auxílio do governo, seguro desemprego e outros, vem contribuindo para a manutenção da informalidade, no aspecto de renda extra. Esse fator também é um impedimento à manutenção por muito tempo de um cargo industrial, principalmente com salários próximos ao piso.
Uma legislação mais aberta, facilitando um rendimento real maior deve ser levado em consideração. Entendemos que hoje o contrato de horas e muitas aberturas quanto ao modelo também devem ser alterados. Além disso, as organizações e empresas terão que também se adaptar à nova realidade. Buscando, assim, equilibrar esse conjunto de expectativas.
Sindicato Industrial Oeste Catarinense – Simovale (SC)
Ilseo Rafaeli – presidente
www.simovale.com.br
Existem aproximadamente mil indústrias moveleiras registradas em nosso polo. Essas, por sua vez, empregam aproximadamente 12 mil trabalhadores diretos. Representando o terceiro maior gerador de empregos e a quarta economia da região oeste de Santa Catarina, segundo dados do Sebrae.
Sabemos que existe a escassez de mão de obra especializada em vários setores, não apenas no de madeira e móveis. Porém, nossa região possui alta demanda no setor agroindustrial, dessa forma, tem sido cada vez mais difícil encontrar mão de obra para o setor moveleiro ou pessoas que desejam se especializar nesta área específica. Entre os segmentos com maiores déficits, estão: Pesquisa e Desenvolvimento, encarregados de setor com escolaridade compatível com a função, programadores de produção, bem como pessoal de manutenção de máquinas e equipamentos.
A permanência de mão de obra na empresa também é outro grande problema. Isso gera uma alta rotatividade, trazendo elevados custos para as indústrias. No entanto, em um período tão atípico, percebemos que está prevalecendo a boa relação entre empregador e empregado. Com as empresas melhores estruturadas conseguindo manter seus colaboradores.
De uma forma geral, porém, a redução de impostos e tributos, com uma reforma tributária urgente, poderia ser uma ótima forma de iniciar um novo momento para a indústria brasileira. Acreditamos em menos Estado e mais iniciativa privada, e, como qualquer administrador, o governo deve começar por enxugar gastos e despesas. Pois parece que apenas a população e os empreendedores fazem isso. A máquina pública em nenhum momento demonstrou que fez ou irá fazer algo neste sentido. Ninguém quer perder privilégios.
Associação das Indústrias de Móveis do Rio Grande do Sul – Movergs (RS)
Rogério Francio – presidente
www.movergs.com.br
Temos um parque fabril moderno e uma produção com alto emprego tecnológico, que demanda menos pessoas. Contudo, a completude do polo gera empregos em vários setores aderentes à cadeia de madeira e móveis. São mais de 35 mil trabalhadores diretos em quase mil indústrias no polo moveleiro da Serra Gaúcha. Atribuímos a liderança de nossa região a um elevado desenvolvimento de tecnologia e inovação. Colocando, assim, nosso polo como referência também no segmento de fornecedores da indústria moveleira.
Após atingir seus piores momentos no segundo trimestre, a indústria moveleira vem reagindo nos últimos meses. Obviamente houveram ajustes na produção e no saldo de empregos durante todo o ano. Mas nem de perto atingiram a magnitude das perdas no período. Felizmente, já no terceiro trimestre, a indústria moveleira superou o saldo de postos de trabalho do início de 2020 pela primeira vez desde o início da pandemia.
Das medidas dos órgãos públicos, destacam-se as de manutenção de emprego e renda, de redução de jornada de trabalho proporcional aos salários, suspensão de contratos de trabalho e diferimento de impostos estaduais e federais.