Giro pelos Polos: desafios e oportunidades diante da escassez de mão de obra

O setor moveleiro no Brasil é uma das importantes forças da economia, contribuindo significativamente para a geração de empregos e impulsionando o desenvolvimento industrial em diversas regiões do país. Neste Giro pelos Polos, destacamos importantes polos moveleiros: o de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul; Ubá, Grande Belo Horizonte e Carmo do Cajuru, os três em Minas Gerais; e os da Paraíba, cada um com suas particularidades e desafios.

Entretanto, a falta de mão de obra qualificada continua sendo um problema que, inclusive, leva empresas a buscarem profissionais de outras regiões. A situação de insegurança no país e a falta de políticas industriais e econômicas são aspectos que também influenciam na queda da produção. 

Por isso, os sindicatos têm buscado soluções em parcerias com entidades de ensino e projetos de capacitação itinerantes. Além disso, o setor vislumbra a exportação de móveis como uma maneira de expandir sua atuação globalmente.

Neste contexto de desafios e possibilidades, os depoimentos dos representantes dos sindicatos regionais destacam a importância da capacitação da mão de obra, o investimento em energias sustentáveis e a busca por inovação e diversificação de frentes de atuação no mercado moveleiro. 

A seguir, apresentamos uma análise mais detalhada de cada polo e suas estratégias para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades no setor moveleiro brasileiro.

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Sindmóveis – Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves

sindmoveis.com.br
Presidente: Gisele Dalla Costa

Atualmente, o polo moveleiro de Bento Gonçalves conta com cerca de 300 indústrias e emprega mais de 6,5 mil profissionais de diversas áreas, segundo a presidente do Sindmóveis, Gisele Dalla Costa.

Ainda, de acordo com ela, a falta de mão de obra é um problema histórico para as indústrias da região. “Pelo menos nos últimos 10 anos o déficit é um problema recorrente para as empresas moveleiras de Bento Gonçalves, tanto que em alguns momentos as empresas precisaram procurar profissionais de fora da região”, diz.

A principal dificuldade é para atuação nos processos fabris e a principal demanda é por conhecimento básico para entender como funcionam essas atividades. “Quem tem qualificação para assumir essas vagas muitas vezes não quer”, afirma.

“Todos os projetos destinados à qualificação sempre são bem-vindos. É um trabalho constante e quanto mais entidades e órgãos públicos derem atenção a esse assunto, melhor”, acredita. O Sindmóveis apoia iniciativas importantes na região, como cursos promovidos pelo Senai e pelo projeto Qualifica Bento.

Em relação ao aumento com o custo da energia, Gisele lembra  que muitas indústrias do polo aderiram à compra de energia no mercado livre e investiram em geração própria por energia solar. “Sim, há um aumento, mas com menor impacto nas operações”, considera.

A redução no consumo de móveis é uma realidade global. “Essa retração fica evidente quando vemos que as vendas diminuíram no varejo e também nas exportações, então em muitos casos acaba sim diminuindo a produção”, afirma.

“É normal que isso aconteça após o pico elevado de produção e consumo registrado entre metade de 2020 e final de 2021, pois os móveis são bens duráveis e quem já fez suas compras levará alguns anos para adquirir novas peças. Isso não significa que não há demanda, entendemos que neste momento os empresários precisam olhar com atenção para possíveis oportunidades, diversificar as frentes de atuação e estudar as demandas do mercado”, conclui.

INTERSIND – Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá

intersind.com.br
Presidente: Aureo Barbosa

O polo moveleiro de Ubá compreende cerca de 25 municípios, segundo o presidente Aureo Barbosa. “Seguramente são mais de 600 empresas entre pequenas, médias e grandes. Os empregos são mais de 18 mil diretamente”, revela.

De acordo com o presidente do Intersind, hoje mesmo com o mercado em queda de produção, não falta matéria-prima. “Faltou durante o período da pandemia devido a quebra na cadeia produtiva em geral, fruto das paralisações impositivas”, explica.

“Quanto à mão de obra, falta aquela que requer maior conhecimento técnico. Nossa rede de educação não preparou mão de obra para esse novo momento da tecnologia industrial.”

Em relação ao aumento da energia, considera uma “verdadeira loucura”. “Quem está no mercado cativo, enfrenta os aumentos atrelados aos indicadores econômicos, e quem está no mercado livre está navegando em mar sem  bússola, pois no ato da compra em contratos de longo prazo, corremos alto risco de compra mais caro no futuro”, afirma.

Aureo Barbosa atribui a queda da produção também à situação de insegurança vivida no país. “Não temos nenhuma política industrial e econômica que restabeleça a circulação do dinheiro”, conclui.

SINDIMOV-MG – Sindicato das Indústrias do Mobiliário e de Artefatos de Madeira do Estado de Minas Gerais

sindimov-mg.com.br
Presidente: Maurício de Souza Lima  

São 130 empresas representadas pelo SINDIMOV-MG, destacando-se três grandes polos produtores, com a maior concentração no polo da Grande Belo Horizonte, seguido pelo polo de Carmo do Cajuru, Passos, Turmalina e demais cidades. 

Em relação à falta de matéria-prima, o presidente do sindicato, Maurício de Souza Lima, acredita que o problema já esteja resolvido. “Quanto à mão de obra, continuamos com dificuldade na contratação especialmente a qualificada, o que gera transtornos para a produtividade do setor”, diz.

De acordo com o presidente do Sindimov-MG, para tentar amenizar este problema o sindicato tem feito parcerias com prefeituras para a realização do projeto Capacitações Itinerantes. “Este é um projeto em parceria com SENAI CEDETEM, escola voltada totalmente para o setor moveleiro promovendo cursos itinerantes de acordo com solicitação de nossos associados”, informa.

O conceito principal deste projeto é o fortalecimento do Setor de Madeira e Mobiliário no interior do Estado de Minas Gerais através da formação e capacitação da mão de obra. Nele, são realizados cursos com foco no Setor Moveleiro, explorando a formação e aperfeiçoamento.

De acordo com informação das associadas, as empresas não tiveram um aumento significativo no custo da energia. “Vimos uma mobilização em projetos de implantação de painéis solares. E, temos oferecido programa de energia limpa com descontos para o setor, em parceria com a CEMIG SIM. Algumas empresas estão participando do “mercado livre de energia “o que parece proporcionar maior estabilidade dos preços, até o momento”, afirma.

“Depois de cerca de 13 meses de crescimento, os impactos nos custos produtivos de móveis e colchões acabados aumentaram devido ao descompasso na cadeia de abastecimento, com o aumento da inflação e outras questões logísticas e econômicas, impactando no preço ao consumidor final”, disse.

A indústria moveleira mineira, a exemplo da nacional, supriu grande parte da demanda explosiva por móveis residenciais nos dois últimos anos, devido à pandemia. “Temos agora uma carência em outras áreas que poderão ser mobiliadas ou remobiliadas, tais como: escolas, empresas, escritórios, hotéis, bares, restaurantes etc”, sugere.

Segundo Lima, outra oportunidade de geração de negócios e expansão das empresas é a exportação de móveis. “Minas Gerais apresenta um ótimo potencial para exportar em razão de seus vários polose da qualidade dos produtos produzidos no estado”, conta. “No ano passado faturamos US$ 41,1 milhões nas exportações de móveis, para países como Argentina, Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos e Alemanha”, completa.

AMAP – Associação dos Fabricantes de Móveis e Artefatos de Madeira da Paraíba

amappb.com.br
Presidente: Reginaldo Galvão

O estado da Paraíba tem mais de 500 empresas moveleiras e emprega cerca de 6 mil  empregos direta e indiretamente, de acordo com o presidente da Associação dos Fabricantes de Móveis de Artefatos de Madeira da Paraíba (Amap), Reginaldo Galvão. Para ele, a questão da mão de obra tem sido resolvida por meio de parcerias.

“A prática da Amao em apoiar iniciativas de formação de mão de obra, seja pelo poder público ou das organizações não-governamentais, tem se mostrado satisfatória para as atividades básicas dentro da indústria. O problema maior acontece nos níveis mais elevados”, acredita.

Outra vantagem, para ele, é a difusão da energia solar na Paraíba, realidade nas indústrias de todos os setores. “O empresário, independente do porte, tem optado por essa modalidade, o que favorece a produção”, comenta.

O maior desafio, reforça, é a distância dos fornecedores da indústria, que estariam a mais de 3 mil quilômetros de distância. Para isso, conta, já se desenha a possibilidade de convidá-los a colocar clusters de distribuição mais próximos, com o apoio do Governo do Estado e do Banco do Nordeste.

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