Governança corporativa e sustentabilidade – Tendo a sustentabilidade como temática central — “Projetar para o nosso futuro” —, todos os expositores do Salone del Mobile.Milano 2022 foram convidados a pensar nos estandes com critérios sustentáveis. Utilizando-se, portanto, da dimensão e importância do evento para afirmar o papel do design no desenvolvimento de soluções para as causas ambientais, econômicas e sociais que atravancam o presente e o futuro do planeta, bem como demonstrar a necessidade de uma governança mais em sinergia com boas práticas e compromissos responsáveis no mundo corporativo.
Se sustentabilidade, afinal, tornou-se uma dessas palavras e conceitos obrigatórios tanto na criação de produtos como na gestão das empresas, mesmo diante de uma conjuntura repleta de variáveis e transições como a que passamos, algumas certezas no universos dos negócios seguem válidas, como é o caso dos impactos da sigla ESG (Environmental, Social and Governance).
Sigla que despontou com incrível popularidade e trouxe para as agendas corporativas muitas pautas estratégicas que estão orientando empresas em relação ao modo de realizar negócios mais sustentáveis, considerando os parâmetros mais atuais para atingir bom desempenho em relação aos seus impactos no âmbito social, ambiental e econômico; ainda há profundos questionamentos em relação ao G, de “governança corporativa” no meio deste contexto.
Afinal, como a governança corporativa se relaciona com sustentabilidade?
Christie Bechara, consultora de sustentabilidade aplicada na Fundação Espaço ECO, compreende que ao abordar questões sobre governança corporativa, ainda estamos envolvidos em um processo de evolução. Estágio onde ainda há necessidade de construção de análises e conceitos aderentes às diversas relações empresariais.
“Em muitas empresas, o assunto é entendido com devida diligência, uma pauta direcionada para o atendimento às leis e normas, bem como a processos para verificação e auditoria. Mas, para outras empresas, com outras interpretações, governança é mais do que meramente atender ao cumprimento legal, é uma grande questão que envolve desde conceitos morais e éticos até mesmo ações práticas para desdobramentos estratégicos que podem comprometer a reputação e a imagem dos negócios e dos gestores”, fala a especialista.
Os quatro princípios da governança corporativa
Agora em sua quinta edição, o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) consolidou-se como um documento de referência, com recomendações das melhores práticas de governança,objetivando, assim, contribuir para a evolução do tema. O documento aponta quais são os quatro princípios gerais que servem como base estratégica (e inspiracional) para a elaboração de políticas corporativas e definições estratégicas, sendo eles:
- Transparência;
- Equidade;
- Prestação de Contas;
- Responsabilidade Corporativa.
Para alcançar boas práticas de governança corporativa, portanto, também é preciso se atentar para questões de ordem estrutural. Tais quais a exatidão na organização dos documentos; estabelecer boa comunicação; preparar equipes integradas; atuar pela prevenção; e investir em infraestrutura e tecnologia adequadas.
A transparência nos processos faz com que seja possível obter informações e consultar documentos, de modo acessível e claro. A comunicação é importante para que os funcionários e demais stakeholders tenham uma visão clara da hierarquia da empresa e saibam a quem reportar em cada situação.
Promover reuniões com equipes variadas também faz com que todos estejam cientes dos planos e estratégias da empresa. Assim, os processos ficam mais eficientes, além de sustentar a transparência interna e externa. Outra boa prática, em qualquer gestão empresarial, é atuar com foco na prevenção, ao invés de remediação, o que evita gastos de reparação e transparece mais segurança aos seus stakeholders.
Transparência, comunicação e tecnologia aplicadas
Modelos de prevenção necessitam de investimentos, como um programa de Compliance, que demanda a contratação de consultores especializados que auxiliam equipes internas a compreenderem melhor os impactos do tema para, posteriormente, realizarem os processos de due dilligence — análises de riscos, monitoramento e, ainda, procedimentos para auditoria externa, a fim de evitar processos judiciais danosos à imagem da empresa, investigação criminal, multa ou outros problemas derivados de fraude e corrupção, assim como a falta de aderência às leis e normas.
Nesse sentido, a tecnologia pode trazer à governança corporativa maior confiabilidade para a gestão de dados e informações, bem como a facilidade em mecanismos de rastreabilidade. Tornando, dessa forma, todo o sistema de banco de dados menos suscetível à corrupção humana quando geridas de forma automatizada.
“Dessa maneira, empresas que possuem estratégias voltadas para evitar problemas, aderem ao modelo de gestão e de práticas de governança corporativa, reduzindo as chances de algo prejudicial ocorrer”, ressalta Christie Bechara, consultora de sustentabilidade aplicada na Fundação Espaço ECO.
“Havendo mais transparência, comunicação e tecnologia aplicadas, os colaboradores podem melhor canalizar tempo, energia e conhecimento para aplicar a inovação e criação de novos valores, mais sustentáveis, inclusive. Em suma, seja qual for o atual modelo de gestão praticado, a boa governança só se constrói com o auxílio de profissionais especializados e competentes que oferecem todo o suporte para a estruturação das diretrizes, definição de programas e projetos ESG. Bem como a realização de capacitações para as equipes internas”, finaliza.