Inflação e juros altos, falta de mão de obra e de matéria-prima desafiam produção mundial de móveis

Inflação e juros altos, falta de mão de obra e de matéria-prima desafiam produção mundial de móveis

Empresários e executivos do setor veem com pouco otimismo a trajetória do setor produtivo em 2023. Para driblar perdas, repensam estratégias, reavaliam investimentos, realocando esforços para áreas que podem otimizar a produção mundial de móveis e alavancar as vendas.

Nós, da Plataforma Setor Moveleiro, temos acompanhado passo a passo o movimento do mercado e as ações das indústrias do setor diante das projeções para a economia, tanto no âmbito nacional quanto internacional. Com isso, levantamos em dois conteúdos as principais ações e reações que deverão traçar boa parte das atividades e do desempenho do setor moveleiro neste ano. A começar pelo mercado global.

Cenário atual e futuros passos para a produção mundial de móveis

Realizado duas vezes ao ano, o “Barômetro da Indústria de Móveis” é um relatório desenvolvido pela CSIL Milano, empresa italiana de pesquisa e consultoria, que traz um levantamento com industriais moveleiros de diversas partes do mundo. Colaborando, assim, para melhor entendermos o atual cenário e os futuros passos no setor em escala mundial.

Na atual edição, o levantamento contou com a participação de mais de 300 fabricantes de móveis de diversos países. Participaram também fornecedores das áreas de componentes e materiais para o setor moveleiro. Empresários e executivos opinaram sobre as tendências da produção mundial de móveis para os próximos anos.

Entrevistados colocados diante do atual cenário desafiador de mercado

Foram várias as questões propostas aos líderes do setor moveleiro em todo o mundo. Visando, dessa forma, o levantamento de estimativas diante de cenários complexos enfrentados após a crise sanitária da Covid-19. 

Fatores como inflação e juros altos, escassez de matéria-prima e de mão-de-obra, fechamento de fábricas, queda de poder aquisitivo, conflitos sociais e guerra são alguns dos desafios que impactam diretamente a percepção dos respondentes da pesquisa. 

Expectativa dos empresários de acordo com a localização das unidades produtivas e segmento de atuação

Quando perguntados sobre a expectativa para 2023 em relação à produção de móveis em suas empresas comparativamente a 2022, cerca de 54% preveem uma piora no volume de produção. Enquanto aproximadamente 14% apostam numa estabilidade e perto de 32% acreditam num crescimento.

Já quando a pergunta se refere à localização geográfica das indústrias, as respostas traçam expectativas baseadas em desafios locais. No caso do Oriente Médio e África, por exemplo, quase 90% dos respondentes apostam numa piora nos níveis de produção para 2023 e pouco mais de 10% falam em crescimento. Surpreendentemente nestas duas regiões, a categoria “estabilidade” não pontuou. 

A estimativa dos entrevistados muda diametralmente quando a região aferida é a América Latina. Continente onde perto de 62% apostam em crescimento, 25% falam em queda na produção e aproximadamente 13% preveem um período de estabilidade.

A América do Norte, que conta com importantes mercados como Estados Unidos e Canadá, também não é movida pelo otimismo: perto de 55% fala em piora nos níveis de produção; 22% apostam na estabilidade e somente 23% esperam uma melhora.

Já a região compreendida pela Ásia e Pacífico, com o domínio da China em termos regionais e globais, a estimativa de crescimento por parte dos fabricantes é superior a 50%. Cerca de 31% opinam que o momento será de queda na produção, enquanto 16% falam em estabilidade dos números. 

O pessimismo também predomina entre os empresários europeus do setor moveleiro: cerca de 57% falam em queda de produção; 29% falam em crescimento e próximo a 14% apostam num momento de estabilidade.

Expectativa para a produção em 2023

Fabricantes não esperam crescimento na produção mundial de móveis em 2023

Em escala global, ou seja, na média aferida nas diferentes partes do mundo, no caso dos produtores de móveis para escritórios, a estimativa geral de queda gira em torno de 74%, enquanto a de crescimento chega a 17% e a de estabilidade não ultrapassa 9%.

Já a estimativa de crescimento entre os fabricantes de colchões é 47%, a de piora na produção é de 35%, enquanto o índice de estabilidade chega a 18%.  

Quanto aos fabricantes de estofados, a estimativa de piora cresce para níveis de 53%, a de crescimento vai a aproximadamente 38%, ficando a expectativa de estabilidade de fica em 9%. 

Para os empresários e executivos do setor de móveis para sala de jantar, living e dormitório, o índice de piora vai a cerca de 58%, o de melhora chega a 32% e o de estabilidade fica em 10% para os entrevistados. 

Também os fabricantes de móveis para cozinha não estão otimistas: cerca de 58% acreditam no decréscimo da produção, 25% estimam um crescimento e 17% apostam na estabilidade. 

Incertezas no cenário internacional impactam estimativas de produção, preços e vendas

Para fabricantes de móveis e fornecedores para a indústria moveleira, a estimativa de produção e vendas para 2023 varia. Entre fornecedores de componentes e materiais, 39% apostam no crescimento de produção e vendas; 41% temem pelo decréscimo e 20% falam em estabilidade. Já entre os fabricantes de móveis, 58% falam em diminuição, enquanto 30% esperam crescimento e 22% estimam uma estabilidade. 

A estimativa de preços também foi apontada pelos entrevistados na pesquisa realizada pela CSIL. Quando perguntados pelas variações percentuais esperadas dos preços dos móveis em 2023 em relação a 2022: para 9% prevalecerá a estabilidade; 43% opinam pelo aumento entre 0,1% e 5%; outros 27% apostam na alta entre 5,1% e 7,5%; um grupo formado por 12% estimam alta entre 7,6% e 10%, enquanto 7% veem a possibilidade de uma alta acima de 10% nos preços. 

Diante dos desafios e gargalos do setor, lideranças respondem sobre estratégias de ação

Quanto aos desafios que o setor moveleiro enfrentará em 2023, os participantes do estudo apontam: aumento do custo da energia (33%), lentidão no crescimento da demanda por móveis (24%), inflação (17%), falta de matéria-prima (15%) e escassez de mão-de-obra (9%).

Além de compartilharem os desafios e os motivos de gargalos na produção e vendas, empresários e executivos foram convidados a apontar quais são as estratégias que deverão pôr em prática para enfrentar o contexto de alta incerteza, alta inflação e uma possível estagnação/crescimento lento nos próximos meses. 

Na ordem citada acima, foram enumeradas as seguintes ações estratégicas: revisão do processo de produção (16,5%), investimentos em pesquisa e inovação de produtos (16,2%), busca por canais alternativos de venda (14%), revisão de produto (12%), investimentos em tecnologia (10,7%), busca por canais alternativos de fornecimento (10,5%), investimento em sustentabilidade (10,5%), investimento para gestão eficiente e sustentável de energia e transporte (10,5%).

Empresas optaram pela diversificação da cadeia de suprimentos, a fim de garantir sequência da produção

Como consequência de interrupções ocorridas ao longo de toda a cadeia de valor nos últimos dois anos, o estudo perguntou se as empresas e lideranças viram-se obrigadas a repensar estratégias

Uma das opções apresentadas foi: aumentar o número de fornecedores nos últimos dois anos (25%) ou aumentar em 2023 (35%). Para a alternativa sobre a redução da cadeia de suprimentos, a resposta foi a mesma (25%) tanto por parte de quem agiu nos últimos dois anos, como por aqueles que o farão em 2023. 

Já para a alternativa para a manutenção de grandes estoques, 27% o fizeram nos últimos dois anos e 14% o farão em 2023. Mudar a produção para local próximo do mercado (nearshoring) representa boa estratégia para 16% (nos últimos dois anos) e para 19% (em 2023). 

Por fim, para o tema da diversificação da presença fabril com o início da produção no exterior, apenas 6% responderam que tomaram a iniciativa nos últimos dois anos, enquanto outros 6% farão o mesmo em 2023. 

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