Em maio deste ano, diversos veículos noticiaram que o Brasil começaria a testar a semana de trabalho de quatro dias (4 day week). A jornada de trabalho reduzida teve início na Nova Zelândia. A proposta é consequência de uma série de mudanças no mundo corporativo, trazidas, principalmente, pela pandemia da covid-19.
Muitas empresas perceberam, durante o período de isolamento social, a oportunidade de reduzir estruturas físicas para atividades que podem ser feitas a distância. Isso aconteceu, também, graças à tecnologia, que permite uma comunicação rápida e fácil, trabalho e entregas colaborativas mesmo em espaços diferentes.
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O experimento que propõe a semana de quatro dias, em curso no país, segue até o final do ano e faz parte de uma parceria da organização sem fins lucrativos 4 Day Week e da Reconnect Happiness at Work, empresa especializada em felicidade no trabalho. Entre os benefícios citados pelas organizações estariam, além da qualidade de vida, o aumento da produtividade.
Países como Bélgica, Islândia, Suécia e Reino Unido já testaram a proposta de redução da jornada de trabalho. Nos Emirados Árabes Unidos, primeiro país a adotar a jornada de trabalho reduzida, funcionários públicos atuam por 36 horas semanais, divididas em quatro dias úteis.
O projeto piloto
De acordo com a diretora da Reconnect, Renata Rivetti, o projeto piloto segue com treinamentos e informações ainda durante o mês de julho. As empresas inscritas pelo site da 4 Day Week começarão a aplicar o modelo, efetivamente, em setembro.
Na prática, acontece a redução de 20% do período de trabalho, com manutenção do salário, seguindo a metodologia da Boston College. “Para aplicar a metodologia, será preciso redesenhar processos e preparar a empresa. Não é apenas tirar um dia da semana”, alerta a diretora, em uma participação no podcast do Jornal da Record.
Renata reforça que no piloto realizado no Reino Unido houve redução dos índices de estresse e burnout (síndrome do esgotamento profissional) entre os colaboradores e, para as empresas, o processo resultou em mais produtividade e aumento de receita. “Houve ainda a redução do turnover (taxa de rotatividade de funcionários) em 57%”, comenta.
Portanto, a adoção da jornada reduzida de trabalho também pode ser uma forma de reter talentos, segundo indicam as pesquisas.
Jornada de trabalho reduzida não é consenso
No entanto, para o presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH Brasil), Paulo Sardinha, o tema é controverso. Uma semana de trabalho de quatro dias poderia trazer implicações para as empresas e também para a competitividade do país.
“Quatro dias de produtividade ainda será algo menor do que cinco dias com a mesma produtividade, do ponto de vista da competitividade, principalmente no âmbito internacional”, aponta o presidente.
Eliane Ramos, presidente do Conselho Deliberativo da ABRH, acrescenta que para a adoção do modelo é necessário, inicialmente, analisar a cultura e o segmento da empresa. “E não é simplesmente tirar um dia da jornada, tem que redesenhar o modelo de trabalho, rever processos do dia a dia”, reforça.
No setor moveleiro
O especialista em varejo e indústria de móveis, Paulo Pacheco, acredita que a jornada de trabalho reduzida pode ser aplicada ao setor moveleiro, assim como outros tipos de inovação que vêm sendo observados.
“A indústria 4.0, por exemplo, que já é uma realidade, vem ao encontro da semana de quatro dias, dependendo do prisma através do qual olhamos”, explica. “Se for o do bem-estar e da produtividade, é positivo; se formos olharmos olhar para custos única e exclusivamente, a miopia nos fará ver só questões negativas”, completa.
Por isso, Pacheco recomenda que o assunto seja tratado de forma criteriosa, com os estudos e análises bem feitas, incluindo a legislação trabalhista.
“Para mim, esse é um tema bem instigador, que pode ser muito positivo, um caminho para novas relações de trabalho, gerador de maior produtividade e qualidade, até chegar numa nova cultura empresarial”, finaliza.