Novas restrições nacionais foram anunciadas no Reino Unido no início do mês de novembro, em um movimento para diminuir a taxa de infecção durante a segunda onda de Covid-19 na região. Entre as normas estabelecidas pelo novo lockdown, vigora o fechamento de todas as lojas consideradas “não-essenciais” em território inglês pelo período de quatro semanas (5 de novembro a 2 de dezembro).
A orientação do governo atualmente afirma que lojas de alimentos, supermercados, centros de jardinagem e alguns outros varejistas que fornecem bens e serviços essenciais podem permanecer abertos. Já o varejo não-essencial poderá permanecer aberto apenas no sistema de entrega ou de pontos de retirada. Com este último, aparentemente sendo uma boa vantagem para o varejo moveleiro nesse novo lockdown, comparando-se à ocasião anterior – em que foram completamente impossibilitados de trabalhar.
Representantes do varejo questionam a efetividade do fechamento das lojas
Em resposta ao anúncio do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, a executiva-chefe do British Retail Consortium (BRC), Helen Dickinson, disse: “O varejo enfrenta um pesadelo antes do Natal. Com o governo propondo o fechamento de milhares de estabelecimentos comerciais sob este novo bloqueio nacional. Negando aos clientes o acesso a muitas de suas lojas e marcas favoritas. Isso causará danos incalculáveis no período que antecede o Natal. Custará inúmeros empregos e retardará permanentemente a recuperação da economia em geral. Resultando apenas num efeito mínimo sobre a transmissão do vírus.”
Tal justificativa dada pela executiva baseia-se num relatório recente divulgado pela Sage [empresa britânica no setor de tecnologia], que afirma que o fechamento do varejo “não-essencial” teria impacto mínimo na transmissão da Covid-19. Isso, segundo o relatório, se deve às centenas de milhões de libras que os varejistas gastaram para tornar suas lojas seguras para clientes e colaboradores.
Lockdown no Reino Unido e prejuízos à economia
Segundo Helen, o lockdown anterior custou às lojas não-essenciais um prejuízo de cerca £ 1,6 bilhão por semana em vendas perdidas. Agora que estamos entrando no importantíssimo período de compras de Natal, essas perdas certamente poderão ser muito maiores.
“Não temos dúvidas de que os varejistas cumprirão as regras e farão sua parte para garantir que o público britânico possa permanecer seguro e ter acesso aos produtos de que precisa. No entanto, o governo também deve fazer a sua parte. Portanto, dando apoio às empresas que serão forçadas a fechar. Caso contrário, as consequências para o varejo local serão terríveis”, reforça a representante da BRC.
A Springboard – líder no fornecimento de dados e inteligência sobre a atividade do consumidor na região – revisou suas previsões para as seis semanas entre 22 de novembro e 26 de dezembro. A instituição agora prevê que a movimentação em todos os destinos de varejo do Reino Unido será de -62%. Uma mudança drástica em relação à previsão original de -32,7%.
A empresa de inteligência de varejo acredita que entre 5 de novembro e 2 de dezembro, a movimentação em toda a Inglaterra está definida para uma média de -78,8%. Podendo, no entanto, chegar a -87,3% nas principais lojas físicas. O relatório alerta que se o lockdown for estendido ao longo de dezembro, o número de consumidores poderá cair em mais 80%. Atingindo, assim, a magnitude do declínio no auge da pandemia em abril.
E o Natal?
Os dados da Springboard de 2017 a 2019 destacaram que os varejistas começam a sentir um aumento no ritmo de compras de Natal na primeira semana de novembro. Aumento que sobe em média 3% por semana até a grande data. No entanto, reconhece que o maior aumento na pegada é geralmente visto em dezembro. Com crescimento médio de 11,4% na semana 51 do ano. É fundamental, então, que todas as lojas – essenciais ou não – estejam abertas na semana que antecede o Natal.
Antes do anúncio do bloqueio, uma pesquisa com mil compradores em toda a Inglaterra, identificou que 61,2% dos consumidores pretendem gastar mais on-line. Enquanto apenas 20,4% disseram pretender gastar mais em lojas físicas. Com as últimas restrições, os varejistas ingleses verão as compras virtuais como a única opção para os consumidores durante todo o mês de novembro.
A Springboard também descobriu que 63,5% dos consumidores pretendem gastar menos no Natal deste ano do que no do ano passado. Em 2020, o dia de Natal cai em uma sexta-feira e o Boxing Day – muito tradicional na região – em um sábado. O que deverá intensificar ainda mais a tendência de queda nas vendas. O que piora ao considerarmos o crescimento nos gastos on-line e a mudança de mindset para investimento com viagens baseadas no lazer neste dia, em vez de viagens focadas em compras.
Outro ponto é que, devido à atual “regra dos seis” – limitando o tamanho das reuniões sociais -, prevê-se que o declínio será proporcionalmente maior. Já que é provável que o fim de semana do Boxing Day seja usado por muitas famílias para se encontrarem com aqueles que não puderam ver no dia de Natal. O fato de um terço dos consumidores apontarem que pretendem gastar mais em alimentos e mantimentos este ano reflete a tendência.
Recuperação
Após o Boxing Day, diz a Springboard, é provável que o número de visitas ao varejo se recupere. Pois será a primeira oportunidade para muitos compradores de irem às lojas depois de passarem um tempo com suas famílias. Isso levará a uma melhora marginal no ritmo de vendas na semana que começa no domingo, 27 de dezembro.
Diane Wehrle, diretora de insights da Springboard, comenta: “O lockdown fará com que nossos varejistas em dificuldades percam o início das semanas essenciais do comércio de Natal, incluindo o fim de semana da Black Friday, já que o varejo não-essencial permanece fechado até, pelo menos, 2 de dezembro.” Ela continua: “Embora as restrições possam diminuir em dezembro, isso não é de forma alguma garantido. Pois, com a segunda onda da Covid-19 em todo o Reino Unido, a maioria dos consumidores provavelmente terá realizado uma grande quantidade de compras on-line com antecedência. Além de poderem ter medo de voltar às lojas tradicionais. No entanto, os varejistas precisam ter a oportunidade de reabrir antes do Natal”, finaliza.