Lojas Americanas: o que o setor moveleiro pode aprender com o caso?

Em meio a resultados mornos do varejo, o mercado acompanha atento a crise das Lojas Americanas e as últimas revelações sobre o esquema que culminou no pedido de recuperação judicial da empresa. 

A varejista passou de player importante e patrocinadora de reality shows a protagonista de manchetes sobre inconsistências contábeis nos principais jornais, no caso que já é conhecido como uma das piores fraudes já vistas no segmento.

De acordo com a própria companhia, conforme comunicados feitos no final da última semana, teria havido falsificação de contratos de verba de propaganda cooperada (VPC), fechados, em geral, entre varejistas e fornecedores. Esse instrumento garante um valor extra para que os produtos fiquem em evidência.   

Os contratos falsos somariam mais de R$21 bilhões entre meados de 2016 e o terceiro trimestre do ano passado. Os valores registrados encobriram resultados operacionais ruins das Lojas Americanas e impulsionam balanços em R$25 bilhões, incluindo os juros das operações financeiras.

Também, para gerar caixa para continuar operando no mercado, a diretoria anterior das Lojas Americanas contratou financiamentos com instituições financeiras, sem que houvesse aprovação societária. 

Os documentos que deram origem ao relatório, segundo a Americanas, demonstram os esforços da diretoria anterior das Americanas para ocultar do conselho de administração e do mercado em geral a real situação de resultado e patrimonial da companhia.

Em sua coluna no Money Times, o especialista em investimentos Daniel Abraão classificou a fraude como “uma das maiores já registradas no Brasil”. “Esse caso de fraude contábil na Americanas é um alerta da importância da transparência, ética e responsabilidade na gestão das empresas”, escreveu.

A lista de credores da companhia foi atualizada no último dia 14 de junho. Em janeiro, de acordo com informações divulgadas pelo jornal Folha de São Paulo, eram quase 8 mil credores, divididos entre dívidas trabalhistas, com bancos e fornecedores, compostos por empresas de diversos portes. 

Lições para o setor moveleiro

Para o especialista em varejo e indústria de móveis, Paulo Pacheco, o caso das Americanas afetou o mercado brasileiro e a credibilidade do mercado varejista como um todo. 

“A companhia, até então, era uma referência. E agora as pessoas se perguntam: se aconteceu com a Americanas, como estarão as outras empresas? O preço disso é ruim para todo mundo – dos consumidores aos fornecedores”, avalia.

No entanto, uma forma de se proteger, no setor moveleiro, é diversificar o atendimento de clientes e distribuir os produtos em diversos níveis, aconselha Pacheco. De acordo com o especialista, também é fundamental ter limite para clientes de grande porte, com forte poder de barganha e de compra, em termos de volume, por mais “encantador que seja o canto da sereia”.

“Minha sugestão é não ficar preso a um ecossistema e buscar mais capilaridade no fornecimento, atendendo diversos níveis de cliente: pequenos e médios varejos, redes médias, grandes redes e exportação, sejam canais físicos ou online”, explica. 

Pacheco lembra que os instrumentos usados para maquiar os números dos resultados das Lojas Americanas são bem conhecidos do setor moveleiro: “a VPC, que vem em forma de desconto, além da negociação espremida e dos longos prazos de pagamento; e no financiamento de compras, as famosas antecipações”. 

“São situações que já fizeram muitas empresas murcharem e, até mesmo, desaparecerem”, alerta. “Se o encanto for grande, acabam fornecendo acima do limite do razoável, comprometendo a distribuição estratégica para mais clientes, com seus custos já comprometidos por uma negociação forte”, completa.

Além de problemas como o das Lojas Americanas, esse tipo de cuidado protege as empresas fornecedoras também de outras questões, como fins de relacionamentos comerciais, problemas macroeconômicos, alterações de diretoria e societárias, entre outros. 

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