Madeira plástica: uma alternativa sustentável para a indústria moveleira

No setor moveleiro, a busca por materiais alternativos tem se destacado nos últimos anos, impulsionada pela necessidade de reduzir o desperdício de resíduos e promover a sustentabilidade. Afinal, uma grande quantidade de resíduos é produzida durante a serragem da madeira que, em sua maioria, é utilizada para a produção de energia (queima).

Na contramão desse processo, a indústria de painéis aglomerados tem reaproveitado de forma mais abrangente esses resíduos, com um crescimento de cerca 4,7% ao ano no Brasil, segundo dados da Agência UFPB de Inovação Tecnológica (INOVA-UFPB). A Universidade Federal da Paraíba, por exemplo, pesquisou, desenvolveu e vem apresentando ao setor a invenção de “Painéis de madeira aglomerada produzidos com pó de madeira e polímeros de glicerol” utilizando adesivos biodegradáveis e livres de formaldeído.

A América do Norte é responsável pela maior participação de mercado de madeira plástica.

A madeira plástica, também conhecida como WPC (Wood-Polymer Composite), é um exemplo promissor que vem ganhando popularidade em muitos países com poucas árvores, sendo produzidos em larga escala como forma de evitar o desmatamento.

O mercado global de madeira plástica está em ascensão, com um valor estimado de US$ 4,77 bilhões e uma projeção de expansão de 8,57% até 2027, chegando a US$ 9,03 bilhões. Atualmente, os decks de madeira plástica representam 55,55% desse mercado, totalizando US$ 2,65 bilhões, seguidos pelo setor automotivo, corrediças e cercas, aplicações técnicas, móveis, bens de consumo e outros.

Benefícios da madeira plástica na indústria moveleira

Segundo o técnico de laboratório da Universidade Federal da Paraíba, Dr. Lucas Figueiredo, com tese de doutorado em adesivos de polímeros biodegradáveis, o LAMAB Laboratório de Materiais e Biossistemas da INOVA-UFPB trabalha com materiais alternativos, reciclagem e materiais provenientes de fontes renováveis.

A recente descoberta dos pesquisadores, por exemplo, apresenta um processo inovador para a produção de painéis aglomerados utilizando resíduos de madeira e polímeros de glicerol, um subproduto do biodiesel. Essa abordagem reduz a necessidade de resinas sintéticas, como o formaldeído, tornando os produtos mais seguros e ambientalmente amigáveis.

“A cada 10 litros de biodiesel, a gente tem uma sobra de mais ou menos 1 litro de glicerol. Então, com o aumento do biodiesel no mundo nos últimos anos, se gerou um excesso de glicerol. E, com isso, foram desenvolvidas novas pesquisas. Entre elas, a gente trabalhou com esses polímeros de glicerol, fazendo esse reaproveitamento e geramos uma patente com MDF ou MDP”, disse.

Essa alternativa sustentável pode substituir os aglomerados convencionais, reduzindo a dependência de materiais com formaldeído. Além disso, de acordo com o pesquisador, a madeira plástica oferece uma solução para a indústria moveleira, que movimenta cerca de R$ 63,2 bilhões no mercado interno e US$ 650 milhões em exportações, especialmente no segmento de MDF. “O que é um problema para a indústria para nós vai ser sempre motivo de pesquisa”, afirmou o pesquisador referindo-se às sobras de materiais.

Colaboração entre pesquisa e indústria

O presente invento apresenta como vantagem a utilização de adesivos de glicerol livres de formaldeído, oriundos de fontes biodegradáveis e renováveis, além de agregar valor ao glicerol devido a sua conversão em um produto. De acordo com os pesquisadores da UFPB, a única desvantagem que poderá existir é o preço do produto que será um pouco mais elevado que o preço dos produtos existentes no mercado.

A INOVA é o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da Universidade Federal da Paraíba tem desempenhado um papel fundamental na promoção da interação entre a pesquisa acadêmica e o setor produtivo moveleiro. Através de visitas técnicas, eventos e reuniões com empresas e representantes do setor, busca-se estimular parcerias para transferência de tecnologia.

​​Em recente reunião promovida pela Associação dos Fabricantes de Móveis e Artefatos de Madeira da Paraíba (AMAP) foi possível dialogar sobre inúmeras possibilidades e ações conjuntas. Participaram do encontro online, Reginaldo Galvão, presidente da AMAP; Jamaci Damasceno, assessor especial de assuntos estratégicos e relações institucionais da AMAP; José Sávio, coordenador PRODETER/BNB; a diretora-presidente da INOVA, Profa. e Dra. Kelly Gomes, o agente de inovação José Bezerra e os pesquisadores-inventores Dr. Eliton Souto de Medeiros, Drª Amélia Santos e Dr. Lucas Ricardo Fernandes Figueiredo.

“Nossa Agência tem atuado fortemente na interação com o setor produtivo paraibano e nacional para viabilizar inovação tecnológica, seja a partir de transferência tecnológica ou pesquisa e desenvolvimento”, disse José Bezerra, Professor e Agente de Inovação.

De acordo com a diretora presidente da INOVA, Kelly Gomes, realizar reuniões com o mercado junto com os inventores e os pesquisadores é um dos caminhos para promover a interação entre os atores, e fomentar novas soluções tecnológicas. “Como no caso de desenvolvimento de novos materiais e novas tecnologias que agreguem valor e atendam demandas específicas de mercado e possibilitem a circulação da economia”, disse.

“Foi uma reunião bastante interessante onde a gente pode estreitar os laços da indústria com a parte acadêmica e eu acho que é um pequeno passo que estamos dando para um grande avanço futuramente”, conclui o pesquisador Dr. Lucas Figueiredo.

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