Na última semana publicamos aqui na Plataforma Setor Moveleiro uma reportagem sobre o fechamento temporário de importantes portos e aeroportos de contêineres chineses devido a passagem do tufão In-Fa pelo país (leia o conteúdo clicando aqui). Além do fenômeno natural, o texto pontuava outros problemas que já vinham causando entraves e atrasos na cadeia de abastecimento global. Apontando, então, que deveríamos “observar uma oferta de serviços de transporte, especialmente os portuários, mais restrita que a atual já nas próximas semanas”. Passados poucos dias, as notícias não são animadoras… nem na esfera dos negócios, tampouco na pessoal, com uma nova onda de Coronavírus, ainda mais infecciosa, se aproximando.
O maior porto de embarque do mundo em tonelagem de carga, Ningbo-Zhoushan, fechou um de seus principais terminais após um caso confirmado de Covid-19. Colocando ainda mais pressão sobre a indústria de transporte marítimo e interrompendo as cadeias de abastecimento global. As autoridades portuárias bloquearam a área do terminal de Meishan, incluindo o terminal e entreposto aduaneiro, suspendendo suas operações indefinidamente, de acordo com um comunicado divulgado pelo governo local em Ningbo, província de Zhejiang.
Tempo de espera dos navios no porto pode chegar a nove dias, sem considerar quarentena
Meishan é um dos terminais mais movimentados de Ningbo, atendendo aos principais destinos de comércio na América do Norte e Europa. No ano passado, o porto movimentou 1,17 bilhão de toneladas de carga. Já no primeiro semestre de 2021, foram 623 milhões de toneladas. Com o comércio exterior representando 46% desse total, de acordo com o Ministério dos Transportes Chinês.
É importante ressaltar, porém, que o porto de Ningbo-Zhoushan, que também é um dos mais movimentados do mundo em termos de tráfego de contêineres, permanece aberto. Ou seja, as remessas de Meishan podem ser redirecionadas para outros terminais. O tempo médio de espera pelos navios no porto, no entanto, que era de um a três dias, pode atrasar para um intervalo de sete a nove dias, segundo especialistas na área logística. A situação deixa os proprietários de fábricas sem onde colocar os produtos e os preços das matérias-primas e insumos estão, mais uma vez, subindo.
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Quarentena de tripulantes já é realidade
Quando um novo surto de Coronavírus foi detectado no Porto de Yantian no final de maio deste ano, as operações no principal centro de exportação do sul da China foram reduzidas em 70% na maior parte de junho. Os casos positivos de Covid-19 recentemente relatados em pelo menos metade do país, forçaram o governo local a reintroduzir restrições para conter a disseminação do vírus.
A China está atualmente realizando testes em massa para combater a propagação da variante Delta, altamente infecciosa. Justamente para a qual as autoridades de Ningbo disseram que o trabalhador de Meishan testou positivo. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Ningbo acredita que o trabalhador possa ter contraído o vírus em suas interações com tripulantes estrangeiros de cargueiros que ele embarcou no porto. A vigilância por vídeo mostrou que ele tinha contato próximo com as equipes.
A maioria dos portos chineses está exigindo um teste de ácido nucléico (NAT) para toda a tripulação. Com os navios sendo forçados a permanecer fundeados até que resultados negativos sejam confirmados. Muitos locais também estão exigindo que os navios fiquem em quarentena por 14 a 28 dias. Isso, caso tenham atracado anteriormente na Índia ou caso tenha feito uma troca de tripulação dentro de 14 dias após sua chegada à China.
Cadeia de abastecimento global em risco
Mesmo antes do caso de Coronavírus no terminal de Meishan, o congestionamento já havia piorado consideravelmente no Porto de Ningbo-Zhoushan e no Porto de Xangai desde 21 de julho. É o que revela o último relatório semanal publicado no domingo pela Sea-Intelligence, um provedor de dados do setor de transporte de contêineres. Entre os motivos citados pelo relatório está o acúmulo de novas restrições relacionadas à pandemia e o impacto do tufão In-Fa no delta do rio Yangtze no mês passado, bem como interrupções na cadeia de abastecimento global como um todo.
Em comunicado recente, a empresa Blu Logistics já pontuava também que os impactos da nova onda da variante Delta podem gerar consequências negativas não só no frete, mas também na manufatura chinesa. “Os riscos considerados agora são de restrições mais abrangentes pelos próximos dias ou semanas, ainda que nada oficial. O mercado, no entanto, já espera por movimentações de carga possivelmente paralisadas ou reduzidas em breve. Gerando disruptura na cadeia mundial de abastecimento.”
De fato, a interrupção em Ningbo pode agravar os atrasos existentes no transporte marítimo global. Considerando que o impacto na produtividade no porto provavelmente terá um efeito indireto em praticamente todo o globo. Continuaremos acompanhando.