Matéria-prima para a indústria moveleira: Crise de abastecimento e aumento nos preços

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Não há como se pensar em outro assunto. A pauta do momento entre os industriais moveleiros é, incontestavelmente, a escassez de matéria-prima. Também pudera, com uma demanda pontual superaquecida, a oferta reprimida de insumos produtivos chega como uma tempestade de água fria no setor – um balde seria muito pouco para retratar tamanha frustração.

De painéis de madeira, passando pelas espumas e ferragens até as embalagens… Essa falta generalizada de suprimentos escancara alguns dos gargalos mais limitantes na cadeia madeira e móvel no Brasil. Questão que já vinha sendo apontada por moveleiros ao longo dos anos. Mas que era mais facilmente contornada em situações de regularidade de mercado.

“O que vemos hoje é uma perspectiva positiva da demanda. Mas que já vem sendo limitada devido à escassa oferta de matéria-prima e o aumento nos preços de fornecedores, que terão de ser repassados para a ponta. Criando, assim, diversos obstáculos no mercado”, pontua Carlos Bessa, CEO da Plataforma Setor Moveleiro. “E, claro, é natural que com a possibilidade de se ter mercado versus a impossibilidade de produzir por falta de suprimentos, enfrentemos um retrocesso generalizado na cadeia.”

Porém, onde está, então, a raiz do problema? A gente chega lá!

Contexto atual

O primeiro passo, portanto, é entendermos o contexto atual. Com a demanda extremamente reprimida por meses e o isolamento social aumentando o vínculo dos consumidores com seus lares, é sabido que o boom da procura por móveis e colchões resultou numa retomada meteórica e exponencial das atividades industriais no setor. O que pegou a todos os elos da cadeia, inclusive à própria indústria, de surpresa. Culminando, assim, numa verdadeira corrida para atender a demanda acelerada. Com o varejo de móveis batendo recordes históricos de vendas nos últimos meses. Mas a indústria – tanto os fabricantes quanto os fornecedores – perdendo o fôlego por não conseguir acompanhar ao ritmo do consumo.

Nesse cenário, claro, não havia lacuna para se pensar em estoque. Estoque que,  pelo motivo contrário, já vinha desabastecido durante os meses de restrição das lojas físicas. Quem aponta esse e outros problemas é a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em seu relatório “Matérias-primas: Oferta na recuperação da economia”.

Os obstáculos na oferta de matéria-prima para a indústria

Apesar de não ser voltado ao setor moveleiro, o relatório nos fornece um panorama industrial bastante interessante para nos ajudar a melhor interpretar a atual situação. Segundo o observado pela instituição, entre os elementos que vêm afetando negativamente à oferta de matéria-prima nos mais variados setores industriais estão:

  • Redução da demanda que provocou um ajuste da produção e, com isso, redução de estoques de matéria-prima nos setores consumidores durante a pandemia.
  • Desvalorização cambial: Na crise houve “represamento” dos reajustes em função da valorização do Dólar. Agora, os grandes fornecedores procuram ajustar os preços.
  • Forte retomada da economia chinesa pressionando o mercado de matérias-primas mundial.
  • Descompasso entre oferta e demanda na retomada da atividade (retomada em V).
  • Canal de aquisição: Na tentativa de recomposição de estoques, muitas empresas recorreram a distribuidores, que normalmente praticam preços maiores e mais instáveis do que seus fornecedores formais.
  • Portfólio de produtos: Os reajustes de preços para itens específicos de cada grupo de matéria-prima podem ser maiores do que as variações de preços médios, medidos pelo IPA FGV (Índice de Preços no Atacado) E IPP IBGE (Índice de Preços ao Produtor)

Leitura de cenário

Para entender e contextualizar um pouco mais esses dados e informações, Laércio Comar, CEO da ADDE – Indicadores de apoio à gestão, compartilha uma leitura bastante interessante sobre o relatório. Veja o vídeo:

 

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