Como expandir negócios moveleiros para o mercado internacional?

O momento atual é favorável para as exportações e a expansão dos negócios do setor moveleiro no mercado internacional. Apesar das dificuldades de produção no Brasil, as exportações estão se consolidando como uma estratégia de diversificação. Além da possibilidade de aumento das perspectivas de lucro em moeda forte. Mauricio de Souza Lima, presidente do SINDIMOV-MG, compartilha da mesma opinião. “O comércio internacional está se normalizando após sucessivas interrupções. Neste sentido os mercados estão novamente abertos e os preços de fretes voltaram aos seus valores tradicionais”, considera.

Segundo o presidente do Sindimov-MG, uma das razões que impulsionam as exportações é a necessidade de diversificar clientes e mercados, evitando a dependência exclusiva do mercado nacional. Durante crises econômicas no Brasil, como inflação e recessão, as empresas que exportam se sentem mais seguras ao atender mercados diversificados.

O Brasil apresenta boas perspectivas para a indústria moveleira, que utiliza diversas matérias-primas no processo produtivo, com ênfase na diferenciação e customização. “O mercado internacional pode ser mais explorado pelas empresas brasileiras em nichos que considerem o design, a qualidade e a sustentabilidade como característica da indústria”, afirma Mauricio de Souza Lima.

Sindicatos abrem mercado internacional para associados

O presidente do Sindimov-MG considera que exportar não é mais “um bicho de sete cabeças”, inclusive para pequenas e médias empresas. Hoje diversas instituições parceiras promovem cursos e reuniões de capacitação em comércio exterior. A FIEMG, por meio do CIN (Centro Internacional de Negócios), o PEIEX (Programa de Qualificação para Exportação) e Projeto Setorial Brazilian Furniture, com apoio da ABIMÓVEL. 

Mauricio de Souza Lima, presidente Sindimov-MG
Mauricio de Souza Lima, presidente Sindimov-MG

“Nossos associados, através destas entidades parceiras, têm uma ampla e completa visão dos processos de exportação em termos de procedimentos a serem adotados, documentação, pagamentos e câmbio e os termos utilizados na negociação comercial”, afirma.

Além disso, o Sindimov-MG e outros sindicatos moveleiros do Brasil podem auxiliar as empresas na prospecção de mercados internacionais. Isso é possível por meio de estudos realizados por essas parcerias. Esses estudos identificam potenciais compradores e distribuidores de móveis nos principais mercados da Europa, Ásia e Américas. Os sindicatos também fornecem suporte às exportações, oferecendo serviços de certificação de origem digital para todos os países. Além da análise do potencial de venda, requisitos técnicos, principais concorrentes e estrutura de distribuição.

Exportação de móveis pode aumentar

De acordo com dados do Sindimov-MG, o Brasil exportou mais de US$ 1 bilhão em móveis e artefatos no ano passado. Desse total US$ 962 milhões correspondem a móveis e suas partes; roupas de cama, colchões, suportes de colchão, almofadas e itens similares. “Além disso, exportamos mais de US$ 28 milhões em construções pré-fabricadas e US$ 18 milhões em luminárias e acessórios”, informa.

Os cinco maiores e principais mercados de destino para o móvel brasileiro em 2022 foram Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Chile e Reino Unido, respectivamente.

“No ano passado faturamos US$ 41,1 milhões nas exportações de móveis. Os principais mercados compradores de móveis de Minas foram Argentina, Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos e Alemanha. Juntos responderam por mais de 50% das vendas externas do estado”, afirmou.

Orlando: um centro de distribuição em expansão

Linha Itatiaia para garagem americana. "Com a capacidade ociosa na fábrica de aço, desenvolvemos juntos este produto para o mercado americano", Michel Pires.
Linha Itatiaia para garagem americana. “Com a capacidade ociosa na fábrica de aço, desenvolvemos juntos este produto para o mercado americano”, Michel Pires.

A MUSA Furniture é uma empresa sediada em Orlando, na Flórida (EUA), presidida pelo brasileiro Michel Pires. Fundada em 2020, durante a pandemia, a empresa surgiu para suprir a necessidade dos moradores locais, já que as relações de importação e exportação com outros países estavam interrompidas. Com a China fechada e os portos e aeroportos paralisados, a escassez de móveis, especialmente sofás, mesas e cadeiras, era acentuada dentro do país. Foi nesse contexto que Michel Pires decidiu ajudar amigos a importar móveis do Brasil, aproveitando sua experiência como empresário no setor moveleiro e como ex-presidente do Intersind, em Ubá (MG).

Atuando há três anos no mercado americano, a MUSA Furniture alcançou um bom volume de vendas. Contudo, ainda enfrenta desafios para expandir seus negócios para outras empresas nos Estados Unidos.

Michel Pires relata que, inicialmente, acreditava que a oferta de produtos de qualidade, preços competitivos e entrega imediata seriam suficientes para superar as barreiras do mercado americano e mundial. No entanto, ele descobriu que o mercado americano é muito dependente de parcerias. Empresários nos Estados Unidos, especialmente grandes redes em relação a novas empresas, são desconfiados e costumam questionar o tempo de atuação de uma empresa. “Então o americano é bem rígido com isso, mesmo que ele precise do produto, mesmo que você tenha um bom preço e qualidade, ainda assim, eles preferem aguardar ao menos cinco anos para ter certeza de que a empresa não desaparecerá antes de iniciar qualquer negócio”, afirma.

EUA: os desafios do mercado americano

“A gente achava que tendo produto, preço, qualidade e entrega imediata a gente romperia essa barreira, mas o mercado americano, assim como o mercado mundial, é muito de parcerias”, disse Michel Pires.

No entanto, Michel ressalta que não têm pressa para expandir. Eles estão dispostos a dar um passo de cada vez, seguindo o ritmo “bem mineiro”, típico de Minas Gerais, para atingir seus objetivos. A MUSA Furniture é atualmente distribuidora das cozinhas Itatiaia e planeja construir um galpão de cerca de 2 mil metros quadrados. Muito mais do que funcionar para armazenamento de produtos, deverá atuar como um centro logístico. Dessa forma, poderá atender grandes redes de distribuição de móveis nos Estados Unidos, como Amazon, Walmart e The Home Depot.

Honestidade e respeito à cultura do país

De acordo com Michel Pires, Orlando está se tornando um grande centro de distribuição na região industrial Boulevard, devido principalmente ao clima favorável. “Na época de dezembro a janeiro que a maioria das indústrias param do Norte por causa das nevascas, em Orlando continuam funcionando normalmente”, afirma. 

“Sempre vai existir dificuldade por sermos de outro país, mas a gente vai vencer isso com o respeito aos costumes daqui e trabalhando honestamente. Então, oferecemos a nossa experiência e tudo o que a gente já passou e desbravou, aos nossos parceiros e clientes aí do Brasil para que todos realmente possam ter sucesso em conjunto”, disse.

Trajetória de sucesso no mercado internacional 

Fundado em 1995, o Grupo K1, com 27 anos de atuação, é atualmente o maior grupo do segmento da América Latina, segundo o vice-presidente, Celso Theisen. “Além da forte atuação em todo o Brasil, já chegamos a exportar nossos produtos para 68 países, atualmente são 47 ativos, em todos os continentes”, afirma.

A expansão internacional do Grupo K1 teve início em 1998, com o Uruguai. Essa parceria foi acompanhada por conquistas significativas, como o Prêmio Exportação RS, recebido consecutivamente por nove anos, desde 2022. O vice-presidente Celso Theisen, atribui esse crescimento e reconhecimento sendo frutos do trabalho e dedicação dos colaboradores, das intensas participações em feiras e viagens de prospecções. “Sempre com o intuito de proporcionar que todas as pessoas vivam no lar dos seus sonhos, assim como oferecer soluções de qualidade ao consumidor”, disse.

Celso Theisen, vice-presidente do Grupo K1.
Celso Theisen, vice-presidente do Grupo K1.

O grupo se destaca por desenvolver produtos alinhados a estudos e tendências mundiais, buscando sempre oferecer o melhor do segmento e garantindo um diferencial competitivo. No entanto, Celso Theisen também acredita que o mercado apresenta alguns fatores que dificultam as exportações. Obstáculos como a volatilidade cambial, mudanças nos preços das matérias-primas, altos impostos brasileiros e obstáculos logísticos. Além de limitações como a falta de janelas de embarque no porto, e a falta de incentivos. “Entretanto, quanto mais empresas explorarem o mercado externo e ofertarem seus produtos, mais plural será a economia”, afirma.

Internacionalização da marca

Em 2020, visando expandir sua atuação no mercado internacional, o Grupo K1 deu início à internacionalização da marca, estabelecendo um centro de distribuição próprio em Miami, nos Estados Unidos.

Segundo Celso Theisen, vice-presidente do grupo, é encorajador ver o potencial de crescimento brasileiro no mercado internacional. “Sendo o setor de móveis o 8º setor da cadeia produtiva que mais emprega no Brasil, temos um amplo espaço para expandir”, considera.

Ao longo dos 25 anos de exportação, o Grupo K1 estabeleceu parcerias importantes que contribuíram para seu reconhecimento no mercado internacional. “A exemplo disso, temos os Estados Unidos, o Peru e os Emirados Árabes, que são hoje os países que mais compram os móveis da marca Kappesberg”, afirma. Além disso, a linha de colchões é exportada, principalmente, para o Paraguai e a Bolívia. 

Theisen acredita que, além do fortalecimento da marca, essas parcerias tornam o Grupo K1 uma referência internacional. Isso possibilita novas expansões, como a entrada no mercado europeu. “Por isso, seguimos em busca de novidades e lançamentos, a fim de estar sempre um passo à frente, entregando as melhores soluções aos nossos clientes”, disse.

Linha exportação da Móveis Kappesberg
Linha exportação da Móveis Kappesberg.

 

Cultura exportadora de móveis 

A cultura exportadora da Politorno Móveis, localizada em Bento Gonçalves (RS), remonta aos primórdios da empresa, que começou a fabricar móveis de madeira sólida (pinus), em 1985. Segundo Cesar Nepomuceno, gerente comercial (export manager), em 2002 a empresa decidiu criar um setor de exportação. A mudança deu-se em virtude da sua linha de produtos para móveis em MDP com o conceito “monte você mesmo”, direcionado à venda em supermercados e home centers.

Cesar Nepomuceno, gerente comercial | export manager da Politorno.
Cesar Nepomuceno, export manager da Politorno.

Desde então, a empresa tem estabelecido sua presença no exterior como uma marca de qualidade, confiabilidade e responsabilidade, com parceiros comerciais em mais de 30 países. “Alguns desses parceiros comerciais estão conosco há mais de 15 anos, atuando em lojas físicas, por departamento, supermercados, home centers e lojas online”, afirmou Nepomuceno.

De acordo com Nepomuceno, a Politorno também enfrentou vários desafios, incluindo instabilidade cambial, gargalos logísticos, custos mais altos em comparação com outros países exportadores e barreiras não tarifárias impostas por  questões políticas e de salvaguarda, em determinados países. 

No entanto, esses desafios fizeram a empresas perceber que, para exportar, “não basta apenas ter uma linha de produtos e lista de preços em dólar, mas também é necessário ser resiliente para entender os mercados, suas culturas, modelos de negócios, design, cores e dimensões”, afirma.

Além de exportar para quase todos os países vizinhos e outros da América do Sul, a Politorno Móveis se destaca por suas exportações para países da América Central, América do Norte, Europa, África, Oriente Médio e Ásia, com destaque para Peru e Estados Unidos.

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