A nova fase do programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, anunciada nos últimos dias, vem com a expectativa de aceleração do mercado imobiliário. Isso pode significar, consequentemente, um aquecimento também do mercado moveleiro?
Para o head da Fundação de Dados, Newton Guimarães, sim, e um primeiro impacto pode ser sentido já neste segundo semestre, quando o Governo Federal anuncia a prioridade de finalizar 186 mil unidades habitacionais. Conforme análise recente do especialista aqui na Plataforma Setor Moveleiro, novas residências costumam favorecer a compra de móveis.
Um cenário mais positivo, no entanto, seria esperado apenas para os próximos anos. Pois, reforça Guimarães, o objetivo do governo é entregar, até 2026, dois milhões de moradias, sendo que metade, deverá se encaixar na Faixa 1, ou seja, imóveis voltados para famílias com renda bruta de até R$ 2.640,00
“Com isso, há perspectivas positivas para o setor [moveleiro], abrindo novas possibilidades de vendas para o consumidor de baixa renda, paralelamente à desinflação e redução da taxa básica de juros, tornando o crédito mais barato”, explica. O Comitê de Política Monetária do Banco Central já sinalizou que a taxa básica de juros deve começar a cair em agosto, favorecendo o crédito.
Programa não é necessariamente a solução
Já para o diretor da Marketscape, empresa de inteligência comercial, Marco Kumura, o impacto para o setor moveleiro não é garantido e não deve ser sentido, pelo menos, pelos próximos seis meses. Ele lembra o recente estímulo do governo federal para a indústria automobilística, que não estaria tendo o resultado esperado.
“Não podemos depender apenas de ações isoladas de governo e sim assumirmos que é preciso mudar forma e conteúdo do setor moveleiro. O Minha Casa, Minha Vida ajuda um pouco, mas não é isso que vai virar o jogo e salvar a indústria, o problema não está aí”, avalia.
E o que está errado? De acordo com Kumura, uma melhoria nos números da indústria e varejo de móveis está diretamente relacionada a uma mudança na forma de encarar o setor, seguida por uma reestruturação na operação comercial. A sobrevivência, reforça, “depende da capacidade de adaptação”.
Adaptação essa, que começa pelo comportamento do consumidor, que mudou a sua relação com a compra de móveis nos últimos anos, mas a venda continuaria sendo feita da mesma forma – tanto na loja como na indústria – com base em preço. E o foco deve ser em valor, conforme explica Kumura.
“O varejo tem que comprar o que o consumidor deseja, formar o mix de produtos adequado, ter um portfólio coordenado com o desejo desse consumidor. Mas a orientação do comprador é só pelo preço. E a indústria também oferta preço e não valor”, detalha.
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Mudanças do Minha Casa, Minha Vida
Entre as mudanças que podem aumentar tanto a oferta quanto a procura de imóveis populares, estão o limite maior para os imóveis financiados, redução da taxa de juros para para famílias de baixa renda, e o aumento no subsídio para as duas faixas de menor renda do programa (de R$ 47,5 mil para R$ 55 mil).
Segundo o governo, o aumento do teto para operações com famílias dessa faixa gera um potencial de incremento das contratações de cerca de 57 mil unidades habitacionais, sendo 40 mil ainda em 2023.
E o Minha casa melhor?
Cerca de 10 anos atrás, o varejo de móveis e eletrodomésticos contava com o reforço do cartão Minha Casa Melhor, que dava direito aos beneficiários do Minha Casa, Minha Vida a uma linha de crédito para a compra de itens para a casa. O cartão permitia aos beneficiários comprarem produtos em estabelecimentos credenciados, com condições facilitadas de pagamento.
Em função da grande inadimplência, no entanto, o programa foi encerrado pelo governo federal no final 2014. Durante esse período, a Caixa Econômica Federal informou que as 640 famílias que pegaram o cartão do programa usaram R$2,92 bilhões, ou seja, 15,6% do valor total prometido pelo governo.
No total, o banco recebeu R$8 bilhões, dos quais R$3 bilhões foram direcionados para o programa – o resto foi usado para capitalizar o banco. O governo disse que esperava atender 3,7 milhões de famílias. Ainda não houve sinalização de relançamento de alguma medida semelhante.