O que esperar para o futuro da economia brasileira e global?

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“Com o mundo fragmentado por questões políticas e pela Guerra da Ucrânia, choques nos preços das commodities, início de recessão, estresse no mercado financeiro e um movimento em direção à desglobalização”, como apontam especialistas financeiros, a persistente crise na saúde pública devido à pandemia global de Covid-19, que muito prejuízo causou em todas as esferas econômicas e sociais, provocando ou acelerando muitos desses problemas, agora parece ter passado para um segundo plano. Pelo menos é o que deu a entender a agenda pública das reuniões anuais do Banco Mundial e do FMI (Fundo Monetário Internacional), que ocorreram neste mês de outubro.

Com o resultado da Eleição Presidencial, que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva como Presidente do Brasil, é tempo de lançarmos um olhar no atual cenário econômico e industrial global a fim de desenharmos novas perspectivas e estratégias para o futuro do nosso País. 

Num mundo que em pleno processo de recuperação de um dos episódios mais abrasivos da história, lida agora também com um conflito de impacto econômico global, com diversas sanções em curso; além de questões climáticas urgentes para a manutenção da vida e das mais diversas cadeias de produção e consumo; novas e velhas pautas voltam a ganhar a cada dia mais espaço na agenda de prioridades dos governos e, consequentemente, do setor produtivo. 

Mudanças climáticas, segurança alimentar, inflação, comércio, abastecimento e, mais recentemente, inclusão econômica e moedas digitais são alguns dos assuntos da vez. Devendo, então, serem foco de atenção do novo governo e também entre os empresários brasileiros, com forte impacto no setor moveleiro. 

Inflação e taxas de juros ainda amedrontam

A pandemia “ainda não saiu de cena”, disse a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva. Porém, ela aponta que as prioridades atuais das autoridades econômicas globais são controlar a inflação, melhorar a política fiscal após gastos maciços no início da pandemia e encontrar maneiras de proteger os países em desenvolvimento contra o aumento global das taxas de juros. Estratégia, como sabemos, utilizada também pelo atual governo brasileiro para conter o aumento da inflação. “Se não retomarmos a estabilidade dos preços, iremos prejudicar as perspectivas de crescimento”, ressaltou.

No início do mês, Kristalina apontou que a situação mundial, potencializada pelo aumento da inflação, “ainda vai piorar antes de melhorar”. Reconhecendo, então, que a invasão da Ucrânia levou pelos ares as previsões da entidade.

Dessa maneira, a entidade baixou novamente suas previsões para a economia global: chegando agora a  3,2% para 2022 e 2,9% para 2023.

Para o mercado brasileiro, contudo, a projeção vem aumentando

Em seu relatório “Perspectiva Econômica Global”, divulgado há poucos dias, o Fundo passou a ver expansão do Produto Interno Bruto do Brasil em 2022, que agora é projetado em 2,8%. O número está 1,1 ponto percentual acima da estimativa anterior, feita em julho.

Para 2023, entretanto, a atividade deve registrar forte desaceleração. Com crescimento, então, de apenas 1%, de acordo com o FMI, que fez um ajuste de 0,1 ponto para baixo em sua estimativa para o ano.

A mudança para o Brasil no relatório do FMI veio em linha com revisões para a região da América Latina e do Caribe, cuja estimativa de crescimento em 2022 melhorou em 0,5 ponto, para 3,5%. Para 2023, a estimativa é de expansão de 1,7%, 0,3 ponto a menos do que no relatório anterior. A atividade superior ao esperado no primeiro semestre para a região deve-se, segundo o próprio FMI, a “preços favoráveis de commodities, condições de financiamento externo ainda oportunas e a normalização das atividades em setores dependentes de contato”.

O Fundo Monetário Internacional alertou, no entanto, que o crescimento na região deve desacelerar no final de 2022 e prosseguir em ritmo mais lento em 2023. Isso, diante do enfraquecimento de parceiros comerciais, do aperto das condições financeiras e do alívio nos preços de commodities.

“O ambiente externo já é bastante desafiador para muitos mercados emergentes e economias em desenvolvimento. A forte apreciação do dólar amplia de forma significativa as pressões domésticas de preços e a crise do custo de vida para esses países”, apontam. 

Destaca-se, em tempo, que os fluxos de capital não se recuperaram e que muitas economias de baixa renda e em desenvolvimento continuam com problemas de dívida pública. O que, no caso do Brasil, deve ficar na faixa de 88,2% do PIB neste ano, e atingir 88,9% em 2023. 

A dívida brasileira estava em 60,2% do PIB em 2013, e foi subindo continuamente ao longo da década passada. Em 2020, bateu em 98,7%. Desde então, vem recuando, mas ainda apresentando números altos. No ano passado fechou em 93%.

Lembrando, contudo, que as projeções  do FMI podem ser alteradas (não sendo exatamemente nossa opinião),  inclusive porque o FMI não acertou exatamente nenhuma projeção sobre o crescimento da economia do Brasil em 2021 e 2022. 

Cadeia de abastecimento e o futuro da economia

Outro ponto de alerta para autoridades públicas e investidores privados, segundo a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, se dá em relação à prioridade de garantir a “segurança das cadeias de abastecimento” em vez de pensar apenas no preço, apontando para os problemas com as interrupções dos últimos tempos. Ela vê um possível aumento da fragmentação mundial com preocupação.

“Vamos assistir a alguma diversificação no fornecimento. Estamos, porém, muito mais cientes, com as interrupções [a que se tem assistido], que é preciso pensar em cadeias de abastecimento de forma a que tenham mais em conta a segurança do fornecimento”, indicou. 

A falta ou o alto custo da matéria-prima se mantém há mais de dois anos como o maior problema enfrentado pelo setor industrial brasileiro, de acordo com a CNI (Confederação Nacional da Indústria). No terceiro trimestre de 2022, entretanto, o problema foi bem menos sinalizado pelos empresários, atingindo 38,1% das respostas das empresas, 14,7 pontos porcentuais abaixo do segundo trimestre, quando atingia 52,8% das empresas.

“Apesar da desaceleração da produção em setembro e das expectativas menos otimistas, a normalização da cadeia de suprimentos é um elemento central para a retomada do ritmo de produção industrial”, afirma a economista da entidade, Larissa Nocko

O indicador de evolução do preço de matérias-primas ficou em 56,2 pontos entre julho e setembro deste ano, uma queda de pouco mais de dez pontos em relação a abril e junho, quando registrou 66,9 pontos. O dado reforça a percepção da indústria de normalização, ainda que parcial, da cadeia de suprimentos.

A elevada carga tributária se manteve na segunda colocação entre os principais problemas apontados pelo setor industrial, atingindo 32,8% das empresas no terceiro trimestre de 2022. As taxas de juros elevadas e a demanda interna insuficiente vem logo depois, atingindo 24,9% e 24,7% das empresas, respectivamente.

O que podemos esperar, então, e, ainda mais importante, o que devemos cobrar do próximo governo em termos de prioridades para a indústria nacional? 

 

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