Como o setor moveleiro nacional vem se comportando desde 2015 e quais os impactos no futuro das vendas de móveis e colchões no mercado interno e externo?
Bem, comecemos de trás para frente. Falando especificamente do consolidado de 2020 na comparação com 2019, dado mais recente, a produção de móveis e colchões no País apresentou retração de cerca de 1,5% em volume. O que, para a ABIMÓVEL (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), “frente aos efeitos negativos da pandemia sobre a produção e o comércio na primeira metade do ano passado, confirma uma retomada significativa da indústria e do varejo do setor no segundo semestre”.
Em valores nominais, ainda, foi observada uma expansão de 2,2% no último ano. Isto, quando verificada a variação em reais (R$), sem descontar a inflação.
Os números foram revelados no estudo “Do Brasil para o Mundo”, lançado pela ABIMÓVEL e a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). Desenvolvido pelo IEMI – Inteligência de Mercado, exclusivamente para os associados do Projeto Setorial Brazilian Furniture, que podem acessar o material na íntegra na área restrita do site ( brazilianfurniture.org.br/intranet ), o estudo reúne informações e resultados consolidados do período de 2015 a 2020. Destacando, então, análises e comentários para o apoio à gestão e ao planejamento das empresas brasileiras do setor moveleiro interessadas na promoção de suas exportações.
Mas, afinal, quais foram os principais resultados deste período e como eles poderão impactar o futuro do setor moveleiro?
PRODUÇÃO DE MÓVEIS NO BRASIL
Quando analisado o período do estudo como um todo, de 2015 até 2020, porém, a produção apresentou queda ainda mais acentuada do que durante a pandemia, cerca de -6,9%. Recuo marcado especialmente pela forte crise econômica brasileira ocorrida nos anos de 2015 e 2016. Ainda assim, quando falamos em valores nominais, no período de seis anos foi possível inferir um aumento de aproximadamente 21,2% no valor da produção, em reais e sem descontar a inflação.
PERFIL DE QUEM PRODUZ MÓVEIS NO BRASIL
A indústria moveleira está presente em todas as regiões do País, mas com grande concentração no Sul e no Sudeste, com as empresas e os empregos estando distribuídos em 11 polos produtores localizados nestas regiões.
Por meio das análises levantadas a partir do estudo, ainda segundo a ABIMÓVEL, é possível afirmar que apesar dos ciclos econômicos e flutuações macroeconômicas, essas empresas continuam a demonstrar resiliência. Agora, porém, buscando maior eficiência a partir da adoção de processos produtivos mais enxutos para que consigam sobreviver.
É importante apontar, no entanto, que apesar da adaptabilidade desses negócios, o número de empresas moveleiras no Brasil apresentou uma queda de 2,5% entre 2019 e 2020; e o número do pessoal ocupado também recuou 1,5% no último ano. Em número de unidades produtivas ativas no setor, pode ser verificado que tal retração foi contínua ao longo dos anos, caindo 12,3% entre 2015 e 2020.
No total, considerando-se as cinco regiões do País, o número de empresas ativas na indústria de móveis e colchões nacional em 2020 foi de 18,1 mil empresas. A produção do setor foi de 431,6 milhões de peças. Gerando, assim, uma receita bruta de R$ 71,5 bilhões.
Consumo de móveis no mercado interno e externo
Quando falamos no consumo interno, o chamado consumo doméstico aparente, este sofreu uma redução de 2,1% no último ano, quando verificado o número de peças. Enquanto em valores (US$), a variação foi negativa em aproximadamente 22,3% entre 2019 e 2020, em função, sobretudo, da desvalorização do real (R$).
Se considerarmos os valores ofertados ao mercado pelos produtores locais e pelos importadores, excluídas as exportações, o estudo revela que chegamos a um consumo interno de móveis de aproximadamente 424 milhões de peças em 2020. Em valores esse consumo foi de cerca de US$ 13 bilhões, a preços de fábrica/atacado (sem o markup do varejo).
“Mais uma vez demonstrando uma reação surpreendente ao relembrarmos o desempenho do setor no terceiro trimestre do ano, devido às restrições físicas e econômicas relacionadas à pandemia de Covid-19”, reafirma a ABIMÓVEL.
Do total de peças produzidas, 3,9% são destinadas à exportação. No entanto, embora o Brasil seja o sexto maior produtor mundial no setor, o País ocupa a 27ª posição no ranking dos maiores exportadores globais na área. Com participação de apenas 0,5% no comércio internacional.
Panorama que é considerado abaixo do seu real potencial, com campo considerável para o crescimento da participação dos móveis e colchões brasileiros no mercado global. O que deve ser arquitetado a partir da diversificação do mix de oferta, da integração do design à indústria e da agregação de valor por meio do melhor aproveitamento de nosso potencial criativo e da riqueza de matérias-primas, técnicas e estilos originalmente brasileiros. Desmistificando, assim, a ideia de que o Brasil produz apenas móveis baratos e de baixo valor agregado, e ampliando as possibilidades de públicos e mercados-alvos.