“Angústia, dificuldade, desespero, cansaço. Mas, sobretudo, resiliência.” Essas foram algumas das palavras usadas para descrever os impactos e comportamento do setor moveleiro no primeiro mês de pandemia no Brasil, durante mais um Webinar Setor Moveleiro. E, sim, como tudo pode mudar em questão de dias! “A sensação é de que tudo o que sabíamos de economia e previsões de mercado foi por água abaixo”, diz Laércio Comar, CEO da ADDE – Indicadores de apoio à gestão – e um dos participantes da discussão. De fato, tal comentário não poderia fazer mais sentido neste momento.
Complementando nossa série “Setor Moveleiro – Overview 2020: Aquecimento em meio à pandemia”, essa edição – bastante especial – do projeto webinar trouxe olhares de dentro da indústria para desvendarmos um pouco mais sobre o processo da queda à ascensão meteórica do mercado moveleiro em meio à crise da Covid-19. Afinal, das incertezas do início da quarentena no Brasil à euforia do agora, pouco foi o tempo, mas muitas foram as emoções sentidas e as atitudes tomadas.
As incertezas
Para entendermos as informações e os números apresentados pelos profissionais, porém, primeiro temos de compreender os cenários em que eles se desenvolvem. Lojas suspendendo atividades; avalanche de solicitações de prorrogação de pagamentos; abuso de alguns clientes versus a antecipação de outros; dificuldade da indústria moveleira em prorrogar seus títulos; dificuldade no acesso às linhas de crédito; interrupção na entrada de caixa versus aumento na saída; disparo na inadimplência; entre tantas outras questões que deixam clara a conjuntura bastante confusa e pouco favorável entre março e maio de 2020.
Com altos custos operacionais, sem fluxo de caixa e experimentando uma queda na produção que chegou a índices históricos em abril, três áreas fundamentais das indústrias sofreram e muito! São elas: a área financeira – fluxo de caixa; produtiva – colaboradores e estoque; comercial – faturamento. Com empresas chegando a fechar suas portas ou cortarem turnos inteiros de produção.
A euforia
Diante de uma crise que parecia que se estenderia por um considerável tempo, começam, então, a serem tomadas as medidas protetivas. Enquanto o governo trabalhava em alavancar a economia, empresários buscavam soluções internas para contornar a produção oscilante. Sem demanda, chegaram então as demissões, cortes de salários / jornadas e férias coletivas em massa. Atitudes difíceis, mas necessárias naquele momento.
Em junho, a surpresa! Com o índice de volume de vendas de móveis em junho deste ano revertendo com sobra a variação negativa de maio. Representando, assim, a maior taxa de crescimento desde 2012. Isso porque na comparação com junho do ano passado, segundo dados do IBGE, a variação chegou a 21,7% positivo – com boas chances de continuidade nos meses seguintes. Perceba que sequer usamos a expressão “previsão”, para não correr o risco!
As incertezas em meio à euforia
Nesse “cenário novo de novo”, industriais agora correm contra o tempo na busca pela contratação e recontratação de funcionários. Num momento que já é chamado de “apagão da mão de obra” no setor moveleiro. Com empresas, então, não dando conta de atender ao prazo-demanda de lojistas em todo o Brasil. Não só porque demitiram. Mas porque de fato a produção subiu muito mais do que o esperado – e até sonhado! -, mesmo num contexto regular. Isso, sem contar a falta de profissionais especializados no mercado.
E esse não é o único problema. O momento escancara também a escassez de suprimentos para a indústria moveleira. Painel, ferragens, espelhos, parafusos… a indústria testou todos os limites de seus fornecedores neste período. Estes que, por sua vez, também se agilizam na busca por adequarem sua capacidade produtiva e de distribuição às necessidades pontuais do mercado – num cenário de prazos oscilantes, em que, claro, relacionamento, histórico e jogo financeiro entre ambas as pontas poderá ser decisivo nessa corrida contra o tempo (prazo-demanda).
Até quando?
Ao testar os limites da indústria de suprimentos + mão de obra, percebemos, então, as barreiras de todo o setor. Que, apesar das potencialidades de crescimento, pode ficar a mercê da limitação de insumos – e toda a burocracia, concorrência internacional, supertributação etc. etc.
Por fim, sabemos estar vivendo um grande momento para o setor moveleiro. Não só no Brasil, como no mundo. Com questões como os auxílios governamentais e o isolamento social tornando a casa o espaço central da vida. Colocando o mobiliário num status de essencialidade nunca antes visto na história contemporânea. Apesar da euforia do momento – muito bem-vinda, é claro -, uma pergunta começa a pulsar na cabeça de todos os empresários ligados ao setor: Até quando? Bem, não sabemos!
O que podemos afirmar é que, infelizmente, sim, a euforia passa. Com o fim do auxílio emergencial no Brasil, o desemprego em outros vários setores e a “ressaca” do aquecimento no consumo de móveis e artigos para o lar, estima-se um aumento na inadimplência no varejo e uma queda considerável na busca por esses itens. Fatores que, obviamente, irão respingar, mais uma vez, na indústria e em todo o restante da cadeia, que já experimenta aumento de preços em todas as pontas.
Como já falamos uma vez, o momento, porém, é de aprender – agora com mais calma – com os erros e acertos deste período tão conturbado. Mantendo os pés no chão e agindo com assertividade para iniciarmos o próximo ano se não eufóricos, que seja, então, otimistas!
Webinar Setor Moveleiro
Quer ver ou rever essa discussão tão rica para nosso setor? Assista abaixo o Webinar “Das incertezas da pandemia à euforia”, com participação de Giancarlo Bega Pizza – diretor-presidente da Madetec Móveis; Marcelo Ariotti – diretor-presidente da Telasul; Maurício Manzano – CEO da Patrimar Móveis; e Laercio Comar – CEO da ADDE.