Após as famílias de maior poder aquisitivo terem equipado seus lares para uma nova realidade pessoal e profissional nos últimos dois anos; bem como os consumidores de classes mais baixas, impulsionados, sobretudo, pelo Auxílio Emergencial, terem atenuado a precariedade de seus lares, tanto reformando como comprando móveis e eletrodomésticos; a partir de 2022, então, o que deverá determinar o desempenho comercial do setor e o consumo de móveis a partir de agora?
Bem, fundamentalmente, acredita-se que a resposta esteja no nível de emprego e renda da população, e o consequente impacto na confiança do consumidor. É o que indicam os resultados compartilhados na palestra “Perspectivas 2022: Indústria, Varejo e Consumo de Móveis”, baseada em pesquisa divulgada pela Eucatex.
A palestra fez parte da programação do 1º PAINEL SETOR MOVELEIRO, que ocorreu no último dia 02 de fevereiro, em formato presencial no polo moveleiro de Arapongas (PR) com transmissão ao vivo pelo youtube.com/setormoveleiro.
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Os resultados foram apresentados e comentados por Newton Guimarães, Head da Fundação de Dados e responsável pelo levantamento dos indicadores e a realização de entrevistas com consumidores que reformaram e compraram móveis no segundo semestre de 2021. Trazendo, assim, um panorama tanto dos tipos de móveis consumidos como dos meios utilizados para pesquisas e os efetivos canais de compra.
Também participou da mesa-redonda promovida após a apresentação, Andrea Krause, consultora de marketing da Eucatex — patrocinadora do evento — e responsável por coordenar a pesquisa e divulgá-la junto aos clientes da marca.
Poder de compra e consumo de móveis em queda no Brasil
O poder de compra do consumidor brasileiro foi um dos principais pontos de atenção da palestra. Mesmo com o desemprego em queda e a taxa de ocupação subindo no início do ano, a inflação, bastante descolada do centro da meta, vem devorando os salários das famílias. Além disso, o fim do Auxílio Emergencial, que injetou cerca de R$ 300 bilhões na economia brasileira em 2020 e mais R$ 60 bilhões em 2021, também indica menos dinheiro circulando no mercado de consumo.
Iniciativas como o Auxílio Brasil, programa substituto ao Bolsa Família, que deverá inserir cerca de R$ 90 bilhões na renda das famílias mais pobres em 2022, deverão compensar, mas não substituir o grande impacto dos benefícios sociais promovidos durante a pandemia, com grande parte destes montantes tendo sido revertidos na compra de móveis e outros artigos para a casa durante o ano passado e retrasado.
Dessa forma, a queda das vendas no setor moveleiro, um dos que mais se destacaram durante o isolamento social, parece iminente — tanto pelo menor volume de dinheiro disponível para os consumidores brasileiros quanto pelo fato de grande parte já ter equipado suas casas. Mas, então, como manter os consumidores interessados na compra de móveis em 2022?
A diversificação, tanto de produtos como dos canais de vendas, pode ser uma das alternativas.
Consumidores usam o site dos fabricantes para fazerem pesquisas antes de decidirem pelo móvel que irão comprar
Além do poder de compra do consumidor, que começa o ano corrompido pela inflação, surgem, paralelamente, alterações comportamentais, como a expansão da utilização dos meios digitais para consultas e compras de móveis. Também, claro, novos perfis de consumo e canais que podem ser mais bem explorados pelas indústrias e pelo comércio no setor moveleiro.
Mais do que nunca, os consumidores vêm buscando a Internet como forma de pesquisarem pelo mobiliário ideal para suas casas — muitas delas recém-reformadas, tendo as cozinhas como os ambientes mais impactados no período. Entre os consumidores que acabaram de reformar, aliás, e estão buscando por móveis novos, os sites dos magazines e, surpreendentemente, os sites dos fabricantes são os mais consultados.
“Invistam no site de vocês, industriais. Ele é tão importante para os consumidores quanto os sites dos magazines”, ressalta Newton Guimarães. “Busquem meios de conversar tanto com os varejistas quanto com o consumidor final. Esta é não só uma forma de vender mais como de consolidar sua marca.”
Omnicanalidade, muito mais do que uma expressão da moda
Mas, claro, isso não significa que o fabricante precise investir agora num canal de vendas online. É aí que a integração de ominicanalidade se torna uma grande aliada, sobretudo para as marcas.
Outra surpresa indicada pelo mais recente estudo divulgado pela Eucatex é que, dos entrevistados, 63% daqueles que compraram móveis em e-commerce, foram, antes do clique final, até uma loja física para a tomada de decisão (olhar, tocar…) no segundo semestre de 2021. Este número era de em média 50% nos dois semestres anteriores. Ou seja, tem crescido, especialmente entre a classe A, além da B e C, com destaque para o consumidor jovem e jovem maduro, como é possível observar no gráfico abaixo.
Dessa forma, no que tange à aceleração digital, ao contrário do senso comum, as lojas físicas ganham ainda mais importância no processo de tomada de decisão do consumidor atualmente. Funcionando, assim, como centro de experiências sensoriais antes do clique final de compra em um e-commerce. “A pesquisa dimensiona esse comportamento, cujas palavras de ordem são sinergia, complementação e integração”, reforça o palestrante.
O que quer dizer, então, que mais do que se fazer presente em diferentes canais, é preciso integrá-los, para que conversem e respondam às necessidades de consumidores que optam por processos de compra cada vez mais híbridos.
Venda afetiva
Além de tudo isso, mesmo no cenário conjuntural complexo de 2022, a valorização do lar, principalmente pelos consumidores de maior poder aquisitivo, pode ser ainda um fator favorável para minimizar a retração das vendas. Isto, claro, desde que explorada com inteligência pelo setor.
Isso porque a pandemia incentivou esse olhar e esse sentimento de cuidado por nossas casas, que nos abrigaram e protegeram em um dos períodos mais sensíveis da história contemporânea. Quando questionados se sentem mais conectados com seus lares a partir da pandemia, 84% dos entrevistados disseram que sim.
De acordo com esses consumidores ouvidos pela Eucatex e pela Fundação de Dados, ainda, “segurança e bem-estar” são as palavras-chaves (literalmente!) para definir o que entendem como “lar”. Palavras, estas, que não só podem como devem ser utilizadas para um bom argumento de vendas, seja em pontos físicos ou virtuais, na campanha ou na identidade da marca.
Afinal, saber ativar os fatores humanos que levam à decisão de compra do consumidor, fornecendo não só praticidade no processo de compra e assertividade na diversificação dos produtos e canais ofertados, mas também respostas para questões afetivas e emocionais, pode ser justamente o que irá diferenciar o seu produto e a sua marca em um mercado cada vez mais competitivo e de menor poder aquisitivo.
No final das contas, todos queremos sentir como se estivéssemos ganhando valor pelo nosso dinheiro, especialmente em um momento desafiador como o atual.
Assista a apresentação da pesquisa na íntegra em: https://youtu.be/H2Hevd5o6OM