A soma das riquezas produzidas pelo País caiu 0,1% no terceiro trimestre de 2021, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O Produto Interno Bruto, no período, somou R$ 2,2 trilhões. Representando, assim, a segunda queda consecutiva do PIB nacional, o que leva o País à chamada “recessão técnica”. O termo é usado como um sinal de alerta econômico quando há recuo do PIB por dois trimestres consecutivos.
Além da queda entre julho e setembro deste ano, o IBGE revisou também o resultado do segundo trimestre, que passou, então, de -0,1% para -0,4%. A última recessão no Brasil havia sido no ano passado, durante os picos da pandemia de Coronavírus no País, quando o PIB caiu 2,3% no primeiro trimestre e 8,9% no segundo, fortemente sob influência da situação.
Indústria tem variação nula; agropecuária puxa o PIB para baixo
O cenário mais preocupante, de acordo com especialistas, se dá, no entanto, quando esse encolhimento da economia, com redução da produção, estende-se por um período prolongado, passando a afetar diversos setores econômicos.
Até o último levantamento, porém, o setor com maior influência negativa foi o da agropecuária, que encolheu 8% em relação ao segundo trimestre e 9% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado. Puxando, assim, o Produto Interno Bruto para baixo. Segundo a pesquisadora Rebeca Palis, do IBGE, o resultado foi impactado pelo encerramento da safra de soja — principal commodity brasileira —, que fica tradicionalmente mais concentrada no primeiro semestre do ano.
Dessa forma, nem mesmo a alta de 1,1% no setor de serviços, que responde por mais de 70% do PIB brasileiro, mas vinha de uma base comparativa bastante baixa, foi o suficiente para compensar outros resultados insatisfatórios da economia entre julho e setembro de 2021.
A indústria, por sua vez, manteve-se estável em relação ao segundo trimestre, com variação nula (0%). Fator que não é, infelizmente, o indicativo esperado, crescendo apenas 1,3% em um ano. Entre as atividades industriais, a construção civil apresentou o melhor resultado, crescimento de 3,9%, evitando uma queda também no setor industrial.
Recessão técnica: Comportamento dos componentes do PIB
Sob a ótica da demanda, a formação bruta de capital fixo, isto é, os investimentos, caiu 0,1%. Já o consumo das famílias cresceu 0,9%; enquanto o consumo do governo subiu 0,8%.
No setor externo, ainda segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, houve queda tanto nas exportações (-9,8%) quanto nas importações (-8,3%) de bens e serviços.
Houve expansão, porém, em relação a igual período no ano passado
A expectativa de analistas ouvidos pela agência de notícias Reuters era de estabilidade da economia no terceiro trimestre deste ano, com perspectiva de alta de 4,2% em relação a igual período no ano passado. Apesar de não bater o número prospectado, o resultado ficou próximo, com expansão de 4% na comparação.
Neste cenário, o PIB brasileiro se apresenta, segundo o IBGE, no mesmo patamar do fim de 2019 e início de 2020, período pré-pandemia; mas 3,4% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014.
O IBGE também divulgou uma revisão do desempenho do PIB em 2020. A taxa de queda de 4,1%, informada anteriormente, foi corrigida para um decréscimo de 3,9%.
Recessão técnica é alerta para a indústria
Para Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados,ouvido pela Folha, “os resultados deveriam ser mais vistosos, especialmente no setor de serviços. Isso não aconteceu. Temos, portanto, um processo de desajuste na economia, que é a inflação, respingando também na indústria”.
Ele também ressalta que a recuperação do emprego tem sido baseada na informalidade, o que torna a capacidade de retomada do consumo baixa com a inflação acelerada e os juros elevados.
O comércio, que integra o setor de serviços no cálculo do PIB, ficou no vermelho, com retração de 0,4% frente aos três meses imediatamente anteriores.
Segundo o IBGE, ainda, a indústria também sente os efeitos da desarticulação das cadeias produtivas durante a pandemia. Desarranjo que vem provocando escassez de insumos e alta nos preços de matérias-primas.