No cenário corporativo da atualidade, a sigla ESG (Environmental, Social and Governance) ganha cada vez mais relevância, sobretudo em setores como a indústria moveleira, na qual a sustentabilidade e a responsabilidade social são pontos essenciais. ESG, por sua vez, se refere a práticas empresariais que focam em três pilares fundamentais: ambiental, social e governança, abrangendo desde a redução do impacto ambiental até a promoção de condições de trabalho justas e transparentes. Na matéria abaixo, você vai saber mais sobre a sigla, bem como sobre as principais práticas e como aplicá-las na indústria moveleira. Boa leitura!
Em um mundo cada vez mais consciente dos desafios ambientais e sociais, a adoção de práticas sustentáveis se tornou essencial para qualquer setor, incluindo a indústria moveleira.
Com consumidores mais exigentes e regulamentações cada vez mais rigorosas, as empresas precisam ir além da busca por lucro e incorporar uma abordagem completa, que abranja a responsabilidade ambiental, a responsabilidade social e responsabilidade de governança.
ESG
Esse movimento, conhecido como ESG (Environmental, Social, and Governance, em inglês), está redefinindo os padrões de atuação corporativa e influenciando decisões de investidores e clientes.
No setor moveleiro, a aplicação de práticas ESG vai além de uma simples tendência, já que se trata de uma necessidade estratégica para garantir a longevidade e a relevância das empresas no mercado.
Desde a escolha de matérias-primas sustentáveis até a criação de cadeias de fornecimento transparentes e éticas, as empresas do setor estão sendo chamadas a repensar seus modelos de negócios.
Nesta matéria, que irá lhe apresentar o conceito de ESG, bem como as principais práticas para as indústrias moveleiras, você vai conferir:
- O que são práticas de ESG e por que são importantes para a indústria moveleira?
- Quais e como as práticas ambientais podem ser adotadas pela indústria moveleira?
- Quais e como as práticas sociais podem ser adotadas por empresas moveleiras?
- Quais são as melhores práticas de governança para empresas moveleiras?
- Quais são os principais desafios de implementar práticas de ESG?
O que são práticas de ESG e por que são importantes para a indústria moveleira?
ESG, que traduzido para o português significa Ambiental, Social e Governança, representa um conjunto de critérios utilizados para medir o impacto e a sustentabilidade das operações de uma empresa.
Conforme explica Jamaci Messias Damasceno, assessor de assuntos estratégicos e relações institucionais da Amap (Associação dos Fabricantes de Móveis e Artefatos de Madeira da Paraíba), cada letra da sigla representa um aspecto importante do impacto na sociedade: impacto no ambiente, no impacto social, interno e externo, e na governança ou na condução do negócio.
“No contexto da indústria moveleira, é importante considerar que é preciso ter consciência. A ESG não é novidade. Há muito tempo as empresas moveleiras aplicam esses princípios, até mesmo porque a legislação exige, em alguns pontos, essas práticas. No entanto, o conceito, como uma cultura organizacional rotineira, é mais recente”, pontua.
Environmental – Meio Ambiente
No contexto ambiental, isso envolve a gestão responsável de recursos naturais, a minimização de resíduos e a redução das emissões de carbono.
Social
O âmbito social, por sua vez, abrange práticas que promovem a equidade, a inclusão e o bem-estar dos funcionários e das comunidades locais.
Governança
Já a governança se refere a políticas e práticas de administração transparentes, éticas e responsáveis, assegurando a conformidade legal e o alinhamento dos interesses dos stakeholders.
Caroline de Paula Balbino, advogada especialista em ESG e sustentabilidade, CEO do Grupo Legalizar e diretora de Estratégias e Compliance da Emirate Green Impact Solutions, afirma que ESG é um modelo de gestão e, assim como todo novo conceito, traz dúvidas quanto ao que se destina e às formas de implantação.
“Com origem no setor financeiro, o ESG teve suas primeiras bases nos anos 70 por meio da iniciativa norte-americana de investidores que ansiavam por empresas mais transparentes e, acima de tudo, que reportassem de forma assertiva e eficiente seus impactos e riscos para o mercado investidor”, explica.
Solução para os investidores
De acordo com a advogada, o ESG foi uma solução para que investidores pudessem criar modelos de gestão e exigir dos investidores seus relatórios em meio aos pilares ambiental, social e de governança.
Para a indústria moveleira, a importância da ESG é ainda mais pronunciada devido à sua estreita relação com recursos naturais, como madeira e outros materiais orgânicos.
A aplicação de práticas sustentáveis pode mitigar os impactos ambientais negativos, como o desmatamento e a poluição, e promover a conservação da biodiversidade.
Ademais, ao adotar um enfoque social responsável, as empresas podem melhorar a satisfação e a produtividade dos funcionários, fortalecer as comunidades e construir uma reputação sólida e confiável.
Práticas de ESG e sustentabilidade
“O ESG se compara à sustentabilidade em alguns aspectos. O ESG, em especial, é um modelo onde as empresas abrem seus dados e promovem a transparência de informações relacionadas às suas operações e, principalmente, relacionadas a suas estratégias de impacto”, explica Balbino.
“Para a indústria, o ESG é mais que uma estratégia de gestão, já que também é uma forma de diferenciação de mercado e ganho de competitividade. Especialmente em países que enfrentam questões sociais e ambientais que impactam os negócios, é um modelo a ser seguido”, complementa.
A boa governança, nesse cenário, garante que as operações sejam conduzidas de maneira ética e eficiente, minimizando riscos e atraindo investidores que buscam empresas comprometidas com a sustentabilidade e a responsabilidade social.
Quais e como as práticas ambientais podem ser adotadas pela indústria moveleira?
A adoção de práticas ambientais na indústria moveleira começa pela escolha responsável das matérias-primas.
“As principais práticas ambientais na indústria moveleira são relacionadas à gestão dos seus impactos negativos e a busca pela ampliação dos impactos positivos no meio ambiente”, aponta a advogada.
Madeira certificada
Optar por madeira certificada de florestas manejadas de forma sustentável, como as certificadas pelo FSC (Forest Stewardship Council), por exemplo, é uma medida essencial.
Essa prática, além de assegurar a origem legal e sustentável da madeira, contribui para a conservação das florestas e a biodiversidade.
Práticas de ESG: materiais reciclados
Além disso, as empresas podem investir em materiais alternativos e reciclados, reduzindo a dependência de recursos naturais virgens e promovendo a economia circular.
Eficiência energética e gestão de resíduos
Outro aspecto crucial é a eficiência energética e a gestão de resíduos. Implementar tecnologias que aumentem a eficiência energética nas fábricas, como o uso de maquinário de baixo consumo e a adoção de fontes de energia renovável, pode reduzir significativamente a pegada de carbono da produção.
Paralelamente, a gestão adequada dos resíduos, através da reciclagem e do reaproveitamento de materiais, minimiza o impacto ambiental e os custos operacionais.
Processos mais limpos nas práticas de ESG
Processos de produção mais limpos, como a utilização de acabamentos à base de água em vez de solventes químicos, também contribuem para a redução da poluição e a melhoria da qualidade do ar.
“Em resumo, o gerenciamento de resíduos, o investimento em reciclagem e o reuso com base nos conceitos da economia circular, além da redução contínua de emissões de gases de efeito estufa e do investimento em utilização de energias renováveis, tais como a solar, são práticas que envolvem o E do ESG”, explica Balbino.
Quais e como as práticas sociais podem ser adotadas por empresas moveleiras?
De acordo com a advogada, as práticas sociais que envolvem o S do ESG podem ser exemplificadas como todas as ações que valorizam as pessoas e atores que rodeiam a indústria moveleira.
Messias complementa a visão de Balbino, acrescentando que, no Brasil, as ações sociais dentro das empresas compõem uma questão de cultura que pode ser disseminada.
“Se o dono da empresa respeita o colaborador e sua família respeita a comunidade em sua volta, então a implementação das práticas ESG ficam mais fáceis na organização.”
Desenvolvimento dos colaboradores
As práticas sociais na indústria moveleira podem ser adotadas de várias formas, começando pelo investimento no bem-estar e no desenvolvimento dos funcionários.
As empresas podem implementar programas de treinamento contínuo que capacitem os trabalhadores com novas habilidades e conhecimentos, promovendo o crescimento profissional e pessoal.
Práticas de ESG: trabalho seguro e saudável
Ademais, garantir condições de trabalho seguras e saudáveis é fundamental. Isso pode ser alcançado através da implementação de rigorosos padrões de segurança, fornecimento de equipamentos de proteção individual adequados e promoção de uma cultura de segurança no ambiente de trabalho.
“Com relação aos trabalhadores, por exemplo, podemos citar o investimento em melhores condições de trabalho, nas quais a saúde e a segurança do trabalho são fundamentais indicadores que não só retém talentos, como também refletem numa melhoria de produtividade”, pontua Balbino.
Comunidade local
Outra importante prática social é o engajamento com a comunidade local. As empresas moveleiras podem contribuir para o desenvolvimento das comunidades ao seu redor através de iniciativas como programas de educação e treinamento, parcerias com escolas técnicas e universidades, e projetos de responsabilidade social corporativa que visem melhorar a infraestrutura local e a qualidade de vida.
Além disso, práticas de diversidade e inclusão devem ser priorizadas, assegurando que a força de trabalho reflita a diversidade da sociedade e promovendo um ambiente inclusivo e equitativo.
Quais são as melhores práticas de governança para empresas moveleiras?
Segundo Balbino, as práticas de governança visam gerenciar riscos, aproveitar oportunidades, e levar o bom nome da empresa no mercado. “Acima de tudo, tem o objetivo de garantir a permanência da empresa no mercado.”
Conselhos de administração
As melhores ações de governança para empresas moveleiras começam com a implementação de estruturas de governança robustas e transparentes. Isso inclui a criação de conselhos de administração diversificados e independentes, que possam oferecer uma supervisão eficaz e imparcial.
Códigos de conduta
A adoção de códigos de conduta claros e rigorosos, que definam expectativas em relação à ética, integridade e conformidade legal, é crucial.
Esses códigos devem ser comunicados a todos os níveis da organização e reforçados regularmente através de treinamentos e auditorias internas.
Práticas de ESG: transparência nas operações
Além disso, a transparência nas operações e na tomada de decisões deve ser priorizada, garantindo que informações relevantes sejam divulgadas de maneira clara e acessível a todos os stakeholders.
“Garantir a transparência junto investidores que possam se arriscar de forma consciente com todas as informações e reportes financeiros reais, além de criar políticas internas e externas que promovam a ética e ações anticorrupção são práticas ESG”, defende a advogada.
“Ter uma indústria transparente diante do mercado, do governo e da comunidade é muito importante para agregar valor. Respeito ao consumidor é uma expressão que deveria ser retirada e substituída por respeito ao cidadão”, complementa o assessor de assuntos estratégicos e relações institucionais da Amap.
Gestão de riscos
Outro aspecto vital da governança é a gestão eficaz de riscos e a garantia de responsabilidade corporativa.
As empresas moveleiras devem estabelecer sistemas robustos de gerenciamento de riscos que identifiquem, avaliem e mitiguem potenciais ameaças à operação, incluindo riscos ambientais, sociais e de mercado.
Responsabilidade corporativa
A implementação de políticas de responsabilidade corporativa, que incluem a responsabilidade fiscal e a transparência financeira, assegura que a empresa opere de maneira justa e responsável.
“Para os pequenos industriais, a simples gestão de contratos e pessoas e a aderência ao compliance empresarial é uma prática ESG”, aconselha Balbino.
Isso pode ser complementado pela realização de auditorias externas regulares e pela publicação de relatórios de sustentabilidade e de governança, demonstrando o compromisso da empresa com a responsabilidade e a sustentabilidade.
Quais são os principais desafios de implementar práticas de ESG?
Implementar práticas de ESG na indústria moveleira apresenta uma série de desafios significativos. Para Jamaci, para analisar as questões, é preciso separar as indústrias entre seus portes.
“A grande indústria já tem um setor que se ocupa no tema, mas, na pequena empresa, tudo gira em torno do empresário. Ele mesmo precisa buscar os melhores exemplos, a melhor forma de implementar e conduzir essas práticas de ESG. Diante disso, o desafio é tremendo”, argumenta.
Maturidade sobre as práticas de ESG
Segundo a advogada, como todas as regras e novos investimentos, o que falta às empresas moveleiras é uma maturidade de entendimento sobre como as práticas ESG agregam valor aos produtos aos processos, produtos e pessoas.
“No Brasil assim como no mundo, se o retorno do investimento não é objetivamente calculado, torna-se uma barreira quase em transponível. Trata-se de uma oportunidade de começar agora a planejar seu próprio projeto ESG, aproveitar enquanto o conceito ainda não se tornou obrigatório e iniciar fazendo o que dá, como que se tem”, explica.
Custo inicial e complexidade
Um dos principais obstáculos é o custo inicial e a complexidade da transformação dos processos produtivos.
Adaptar a cadeia de fornecimento para garantir a utilização de matérias-primas sustentáveis, investir em tecnologias limpas e reestruturar sistemas de gestão de resíduos e energia requerem recursos financeiros substanciais.
Pequenas e médias empresas, em particular, podem enfrentar dificuldades em obter o capital necessário para essas mudanças.
Falta de conhecimento
Ademais, a falta de expertise e conhecimento específico sobre práticas ESG dentro da organização pode tornar a transição mais lenta e complexa, exigindo investimentos adicionais em treinamento e consultoria.
Resistência organizacional
Outro desafio importante é a resistência cultural e organizacional. A implementação de práticas ESG muitas vezes implica uma mudança fundamental na cultura corporativa, o que pode encontrar resistência entre os funcionários e até mesmo entre os gestores.
A necessidade de alinhar os interesses e objetivos de diversos stakeholders internos e externos pode gerar conflitos e dificuldades na execução das estratégias propostas.
Desafios das práticas de ESG: falta de padronização
Além disso, a falta de padronização e clareza nas métricas e critérios de ESG pode complicar a avaliação e a comunicação dos progressos, dificultando a demonstração dos benefícios tangíveis dessas práticas para investidores e consumidores.
“Segundo estudo da Union Webster de 2017, 87% da população brasileira prefere comprar produtos e utilizar serviços de empresas sustentáveis, enquanto 70% das pessoas também afirmam que não se importam em pagar um pouco mais caro por isso. É ou não é um modelo rentável?”, finaliza Balbino.
