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Preços e prazos nas alturas: Causas e consequências da crise de matérias-primas no setor moveleiro

Diante de tantos fantasmas, variação cambial e custos logísticos exacerbados revelam-se os principais vilões na crise de abastecimento de matérias-primas no setor moveleiro. Veja com exclusividade demonstrativo sobre composição de custos de itens importados

A pauta do ano não poderia ser outra: a pandemia de Coronavírus e a montanha-russa gerada na economia mundial. Enquanto alguns setores produtivos padecem diante das medidas adotadas para conter a explosão do vírus. Outros experimentaram um “efeito estilingue” nunca antes visto na história: o caso do setor moveleiro.

Sim, com os gastos das famílias antes comprometidos com lazer, viagens, entre outros, passando a se voltar para a casa, a compra de móveis tornou-se uma das prioridades no Brasil e no mundo. A desorganização entre oferta e demanda, no entanto, promoveu aumentos significativos nos preços e prazos das matérias-primas e, por consequência, nos produtos acabados. O que, indiscutivelmente, vem causando um desgaste enorme entre os elos da cadeia moveleira.

“De agosto em diante, a situação se acentuou ainda mais. Pois, até aquele momento, a maioria das empresas ainda tinha estoque. Hoje, a maioria delas produz à medida que vai recebendo os insumos para a produção”, pontua a presidente da Abimóvel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), Maristela Cusin Longhi.

Matérias-primas e produtos acabados: Aumento nos preços ultrapassam 50%

Com os problemas no abastecimento — do fornecedor para a indústria e da indústria para o lojista —, portanto, os prazos de entrega podem chegar a meses e o aumento de preços ultrapassam 50% em alguns segmentos. Tendo, estes, de serem repassados em todos os estágios da cadeia. Questões que vem se agravando e, claro, chegando cada dia mais até o consumidor final.

E é aí que surge a famosa “caça às bruxas”, com acusações de abuso e oportunismo de diferentes lados. Além do fantasma da exportação de matéria-prima, que, por fim, se mostrou um problema muito menor do que se fez ou se preferiu acreditar. A verdade, dessa forma, é que o único vilão desta história parece ser um só: a dinâmica de mercado. E muitas são as causas, com especial atenção aos custos logísticos. Ou seja, o problema mesmo parece ser a importação de itens determinantes para o setor.

A corrida nos bastidores

Para começar, o próprio consumo muito acima do esperado pegou a todos de surpresa. Afinal, como relembra a presidente da Abimóvel, a maioria das empresas foram obrigadas a paralisar grande parte de seus parques fabris e/ou suas lojas físicas por conta dos decretos impostos. Com o recrudescimento da pandemia, então, houve uma disruptura em toda a cadeia moveleira.

Com a retomada do varejo físico e da produção industrial, o Auxílio Emergencial e outras medidas de apoio ao consumo e à produção entrando em cena, no entanto, experimentamos uma mudança completa no setor. O varejo de móveis, especialmente, vivenciou tempos de ouro. A corrida por trás dos bastidores para que fornecedores de insumos e fabricantes de móveis pudessem acompanhar ao ritmo de vendas na ponta, porém, revelou não só gargalos como dependências bastante sensíveis em todas as etapas da cadeia, porém.

Causas e consequências

  • Redução da demanda que provocou um ajuste da produção e, com isso, diminuição de estoques de matéria-prima nos setores consumidores durante a pandemia.
  • Desvalorização cambial: Na crise houve “represamento” dos reajustes em função da valorização do Dólar. Agora, os grandes fornecedores procuram ajustar os preços.
  • Forte retomada da economia chinesa pressionando o mercado de matérias-primas mundial.
  • Descompasso entre oferta e demanda na retomada da atividade (retomada em V).
  • Canal de aquisição: Na tentativa de recomposição de estoques, muitas empresas recorreram a distribuidores que normalmente praticam preços maiores e mais instáveis do que seus fornecedores formais.
  • Portfólio de produtos: Os reajustes de preços para itens específicos de cada grupo de matéria-prima podem ser maiores do que as variações de preços médios, medidos pelo IPA FGV (Índice de Preços no Atacado) e IPP IBGE (Índice de Preços ao Produtor)

As questões listadas acima são apenas alguns dos pontos levantados pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) em seu relatório “Matérias-primas: Oferta na recuperação da economia”. Apesar de não ser voltado ao setor moveleiro, o relatório nos fornece um panorama industrial bastante interessante para nos ajudar a melhor interpretar a atual situação.

Matérias-primas: Mais estrangulamento e aumento dos custos logísticos

Chegando ao fim de 2020, porém, o momento crítico atual devido ao reaquecimento da economia global e a proximidade do ano novo Chinês (na primeira quinzena de fevereiro de 2021) resultam em ainda mais estrangulamento e aumento, sobretudo, de custos logísticos. O câmbio no Brasil, com Real agora em movimento de valorização, suaviza um pouco o impacto dos preços na ponta, mas não o suficiente para evitar reajustes.

Com uma equipe de Inteligência de Mercado e Comércio Exterior que acompanha constantemente todos estes movimentos, a FGVTN — fornecedora de ferragens para móveis — compartilha conosco um demonstrativo sobre composição de custos de itens importados, que foram determinantes para a necessária atualização dos preços para programação em Dólar Americano. Veja a seguir!

Frete Internacional

O aumento exponencial dos valores de fretes tem impacto direto nos custos. O peso do frete no custo total era de 7% em setembro, passando a ser de 19% em dezembro de 2020 / janeiro de 2021.

“O aumento total nos custos foi em torno de 40%. Resultante, então, do impacto relativo aos fretes e valores FOB [Custo do Produto na Origem]”, revela Renata Ferraz, coordenadora de Comércio Exterior da FGVTN Brasil. “Em 2020, o Renminbi [moeda chinesa] sofreu depreciação em torno de 7,6%. Causando, assim, reflexo direto nos preços na origem em dólar americano. Quanto mais desvalorizado o Renmenbi, mais caro o produto em dólar.”

Ainda sem luz no fim do túnel

Dessa maneira, com as mudanças constantes de cenário, temos de dizer que infelizmente não é possível prever recuo nos fretes tampouco nos repasses até o segundo trimestre de 2021, pelo contrário. Continuaremos, no entanto, monitorando junto aos fornecedores e mantendo aos industriais e lojistas informados sobre os movimentos de mercado.

Sabemos que não é fácil. Mas que possamos aproveitar com sabedoria as mudanças nas prioridades de consumo e os resquícios da injeção dos auxílios na economia brasileira. Por falar nisso, você não vai querer perder o conteúdo de amanhã aqui na Plataforma Setor Moveleiro. Fique ligado!

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