Nos primeiros dados divulgados em 2023, após as reformulações nas metodologias de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), observa-se que o volume na produção de móveis e colchões em janeiro de 2023 foi 9,2% superior ao de igual mês do ano passado. Totalizando, assim, 28,7 milhões de peças fabricadas no primeiro mês do ano.
O resultado, segundo a Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (ABIMÓVEL), traz um otimismo cauteloso ao setor. Mas por que cauteloso? Embora maior do que no início do ano passado, o desempenho é 3,6% menor do que no mês imediatamente anterior (dez/22).
O desafio, então, é manter o equilíbrio na variação mês a mês, crescendo de forma sustentável ao decorrer de 2023.
Produção de móveis e consumo interno
Os indicadores fazem parte da “Conjuntura de Móveis”, um estudo desenvolvido pela ABIMÓVEL em parceria com o IEMI. Trazendo, então informações estratégicas para o setor, tais como: produção, emprego, investimentos, comércio exterior, vendas ao consumidor final e outras.
O levantamento também demonstra que a indústria moveleira alcançou R$ 5,5 bilhões em janeiro de 2023, em termos de receita. Uma queda de 2,0% em relação a dezembro. No entanto, seguindo a tendência observada no volume produtivo, esse resultado representa um aumento de 9,0% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Apesar da queda na produção e na receita, considerada comum no início do ano, o emprego na indústria moveleira registrou alta de 0,4% em janeiro de 2023 frente ao mês anterior. Esse índice pode significar uma pequena confiança do setor no aumento da produção nos próximos meses, após a queda de 16,2% na fabricação de móveis e colchões ao longo de 2022 (de janeiro a dezembro).
O consumo interno aparente, que representa a disponibilidade de produtos no mercado interno, foi de 28,3 milhões de peças em janeiro de 2023: uma variação negativa de 2,8% em relação a dezembro. No entanto, quando comparado a janeiro de 2022, constata-se que o ano começou com uma elevação positiva de 5,6% no consumo aparente.
Vendas para fora também voltaram a crescer
Em relação à participação dos produtos importados no consumo aparente, esse índice alcançou 2,9% em janeiro deste ano. Dessa forma, as importações de móveis registraram o valor de US$ 14,3 milhões em janeiro de 2023, uma queda de 12,9% em relação ao mês anterior. Em fevereiro, houve uma recuperação, com o montante chegando a US$ 15 milhões, uma alta de 5,1% na comparação com janeiro.
Por outro lado, as exportações registraram um valor de US$ 45,1 milhões em janeiro de 2023, apresentando uma queda significativa de 25,1% em relação ao mês anterior. No entanto, em fevereiro de 2023, as vendas ao exterior voltaram a crescer, alcançando US$ 49,4 milhões, ou seja, salto de 9,6% em relação a janeiro.
Alta no consumo interno aparente e na geração de emprego apontam para uma reação positiva do setor?
Esses indicadores de janeiro e fevereiro de 2023 revelam uma reação positiva, apesar de moderada, do setor moveleiro. É importante considerar a elevação no consumo interno aparente e a manutenção do emprego na indústria de móveis nacional. Nesse sentido, a alta na comparação com o início do ano passado pode indicar uma retomada gradativa na produção e nas vendas.
Sendo assim, ainda que os primeiros meses de 2023 tenham demonstrado oscilações, será necessário acompanhar o comportamento do varejo, frente a essa tendência otimista.
Reginaldo Galvão, presidente da Associação dos Fabricantes de Móveis e Artefatos de Madeira da Paraíba (AMAP), acredita na reação do setor a partir de ações estruturais lideradas pela ABIMÓVEL e outras entidades do setor junto à indústria e o governo. “Confio que as ações da ABIMÓVEL nestes próximos dois anos farão diferença visível no mercado. Seja pela mudança de estratégia dos varejistas, seja pela adequação das indústrias para suprir as necessidades dos consumidores. Além disso, também ampliamos nossa visão nos referindo a ações em busca do mercado internacional”, afirma.
Do ponto de vista do empresariado, a ABIMÓVEL espera que a produção, as exportações e as vendas domésticas de móveis voltem a crescer em 2023. “Os investimentos em tecnologia estão sendo impulsionados pelas indústrias para reduzir custos ao mesmo tempo em que aumentam a capacidade produtiva e a competitividade, assim como o varejo também busca maneiras de agregar valor à experiência do cliente. O impulsionamento da indústria da construção civil também é outro fator para ficarmos atentos e que trazem bons ventos para o setor moveleiro nacional”, diz o presidente, Irineu Munhoz.
Ambiente de negócios
A entidade também acredita no início de um movimento de reorganização das cadeias de suprimentos e de desaceleração da inflação em curso no mercado global. Há, ainda, indícios de uma recuperação gradual do mercado de trabalho interno, após os longos impactos da pandemia.
Do ponto de vista do ambiente de negócios no Brasil, por sua vez, Munhoz ressalta que políticas públicas e incentivos fiscais, como a manutenção da redução do IPI, o Imposto sobre Produto Industrializado, no setor de móveis são extremamente necessários para o reequilíbrio do consumo no país. “Isso, sem contar na expectativa pela Reforma Tributária, que precisa ser votada ainda neste primeiro semestre. Questões que têm sido pautas importantes na atuação da ABIMÓVEL”, reforça o prsidente da entidade.
A expectativa é acompanha de perto pelo presidente do Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (SIMA), José Lopes Aquino: “Esperamos que haja uma reforma fiscal que desonere o setor produtivo, que ocorra o equilíbrio das contas públicas e que a inflação seja rapidamente controlada”.
Expectativas são mais otimistas para 2023 em toda a cadeia moveleira
Com mais de 28 anos de experiência nos segmentos de assistências, conveniências e serviços especializados, a Tempo passou a atuar também no segmento de montagem de móveis, por meio da Tempo Monta, prestando serviços para o varejo e, potencialmente, para os fabricantes de móveis. Segundo Joyce Suman, da supervisão de vendas e desenvolvimento da Tempo, os anos anteriores foram bastante desafiadores para o setor de serviços de montagem de móveis. “O impacto na economia arrefeceu significativamente a venda de móveis, contudo tivemos fôlego para avançar e aprimorar nossos processos e sistemas. Diante desse cenário, esperamos dobrar nosso faturamento do pilar de conveniência no próximo ano”, disse.
- Assista a entrevista concedida para a Vitrine Setor Moveleiro: A MMS Tempo Monta vem solucionar o problema da montagem de móveis no Brasil
Pontos que afetam, consequentemente, também ao setor de feiras. Setor que após anos conturbados, tanto pelas limitações físicas quanto econômicas geradas pela pandemia, agora buscam maneiras de se reinventarem e proporem novas soluções para fornecedores, fabricantes e lojistas de móveis. “A ForMóbile está em um momento bastante positivo, com um crescimento cada vez maior e uma forte presença no mundo digital. Esse avanço tem trazido benefícios tanto para os expositores quanto para os visitantes. Com o aumento da atuação no digital, as empresas têm conseguido chegar a um número maior de pessoas, o que permite ampliar o alcance de suas marcas e produtos”, fala Tatiano Segalin, show manager da ForMóbile.
Estimativas para a produção de móveis
“Nós, brasileiros, por definição, somos otimistas. O empreendedor sempre acha que tudo é possível”, acredita Marcelo Cenacchi, diretor geral da Sayerlack Brasil, que aponta muitos riscos e oportunidades para os próximos meses e anos. “É preciso olhar, estar atento e entender o que o mercado está dizendo. Todos os dias o mercado está falando algo para nós. Podemos não escutar, ou não saber interpretar”, disse.
É da mesma opinião o CEO da Colchões Castor, Helio Antonio Silva, com uma expectativa positiva em relação ao setor. “Somos brasileiros e nossa esperança não acaba nunca. Então, sem dúvidas acreditamos que nosso cenário econômico tende a melhorar e que tudo vai se acertar e estabilizar, para posteriormente podermos colher os frutos”, disse.
Para o ano de 2023, a projeção é de um crescimento moderado, mas bem-vindo. Estimativas do IEMI, empresa de pesquisa de mercado que realiza levantamentos exclusivos para a ABIMÓVEL, apontam para a comercialização de cerca de 417 milhões de peças de mobiliário no varejo nacional durante este ano.