Quais os principais problemas na indústria de transformação atualmente?

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Na semana passada falamos aqui, na Plataforma Setor Moveleiro, sobre a crise logística internacional, que vem inflando os preços do frete marítimo ao redor do mundo. Provocando, assim, um descompasso na cadeia de abastecimento que já se estende por mais de dois anos. Impactando, consequentemente, na produção na indústria de transformação, nas vendas no varejo e nas exportações de bens nos mais variados setores, tal qual o moveleiro.

Entre as principais consequências de tal disrupção, destaca-se a falta ou o alto custo de insumos. Problema que, no Brasil, atinge a grande maioria dos setores produtivos.

Pandemia, guerra, novos lockdowns na China e a escassez de contêineres têm mantido a dificuldade no acesso a matérias-primas no topo do ranking dos principais problemas da indústria de transformação já há oito trimestres consecutivos.

Ou seja, não é bem uma novidade.

Falta ou alto custo de insumos vem diminuindo na indústria de móveis

A “boa notícia”, porém — se podemos chamar assim —, é que como já havíamos previsto, o problema vem se mostrando menos intenso a cada trimestre no setor moveleiro.

No segundo trimestre deste ano, 38,7% dos empresários moveleiros ouvidos pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) apontaram a falta ou o alto custo de matérias-primas como o principal problema na indústria de móveis. Sendo este, o segundo menor indicador entre os 25 setores pesquisados. Ficando atrás apenas de couro e artefatos de couro, setor que também está relacionado à cadeia do mobiliário, com 37,2% dos respondentes assinalando a questão.

Em contrapartida, na comparação entre o primeiro e o segundo trimestre de 2022, a categoria que registrou a maior alta na preocupação com a questão foi justamente a da “madeira”. Subindo 8 pontos percentuais e demonstrando dificuldade no rearranjo dos insumos. Levantando, assim, potencial alerta também na indústria de móveis.

Contudo, é outro setor também importante para a cadeia moveleira que lidera a lista no segundo trimestre deste ano. O setor de Impressão e Reprodução, com 71,7% das indústrias na área alegando dificuldade com insumos como o principal problema que atravanca o desenvolvimento das atividades.

No total, 22 dos 25 setores pesquisados pela CNI, ainda se mostram bastante preocupados com a situação. 

Guerra na Ucrânia e novos lockdowns na China

A economista da entidade, Paula Verlangeiro, explica que aproximadamente metade da produção industrial é consumida como insumo pela própria indústria. Dessa forma, a falta ou o alto custo de insumos se dissemina por toda a cadeia de produção. “Seja com aumento de preços ou redução da produção, até chegar ao consumidor”, diz ela.

“Diante disso, as principais consequências são dificuldades em recuperar – ou manter – a produção, o aumento dos preços de insumos e dos custos nas cadeias de produção, além dos aumentos nos preços dos bens de consumo e a maior pressão sobre a inflação”, explica a economista.

É importante ressaltar que além de todos os efeitos já conhecidos da pandemia de Covid-19 sobre a cadeia de abastecimento nos últimos anos, a guerra entre Rússia e Ucrânia, além dos novos lockdowns na China vêm atrasando ainda mais a normalização das cadeias de insumos globais, que ainda não haviam se recuperado totalmente dos choques de 2020 e 2021.

Assim, além de dificultarem a recuperação da produção industrial, também contribuíram para pressionar mais os preços e aumentar a inflação global. A expectativa, segundo pesquisa da CNI com empresários, é de normalização apenas em 2023.

E não é só isso!

Aumento das taxas de juros volta ao topo dos maiores problemas na indústria de transformação

No cenário de inflação elevada, a principal alternativa encontrada pelo Banco Central tem sido elevar a taxa básica de juros, a Selic. Reverberando, assim, em todas as taxas de juros do país, como as cobradas nos empréstimos, nos financiamentos e em aplicações financeiras. Consequentemente, dificultando o acesso ao crédito.

Em menos de um ano e meio, a Selic passou de 2% para 13,25%. Alta considerada excessiva pelo setor industrial, que apontam efeitos negativos sobre a produção, o consumo e o emprego.

Explicando, portanto, o aumento também na preocupação com a taxa de juros, que vem ganhando projeção entre os industriais já há cinco trimestres, voltando em julho ao topo dos problemas depois de mais de seis anos sendo pouco assinalada pelos empresários industriais.

No ranking dos setores, 16 dos 25 setores industriais citam os juros entre os cinco principais problemas enfrentados, incluindo o da madeira, da metalurgia e o têxtil. Na indústria de móveis, 16,1% assinalam a questão como uma das mais problemáticas atualmente.

 

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