Nesta quarta-feira (2), aconteceu a segunda etapa da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central do Brasil (BCB) que definiu o futuro da taxa básica de juros. A redução foi de 0,50 p.p (ponto percentual), ficando a taxa em 13,25%. Durante quase um ano, a taxa permaneceu estável em 13,75% ao ano.
O que nos interessa aqui neste momento é o comunicado, e este veio com alguns pontos importantes:
1. Apesar do placar rachado, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, votaram juntos pelo corte;
2. Sinalizam que a taxa deve permanecer no campo contracionista para ancorar as expectativas.
Isto sugere que o “tiro vai ser curto”, ou seja, que o afrouxamento final da SELIC deve ser maior do que o mercado espera. Fatalmente o ciclo se encerra já no começo do ano que vem quando a SELIC deve estar em 10,75%, taxa que ainda deve ser considerada contracionista.
Resultado da queda da Selic e seus significados
O fato de Roberto Campos Neto e Galípolo terem votado juntos evita problemas de conflitos internos na diretoria do BCB na condução da política monetária e alivia pressões sobre o BC.
É importante ressaltar o progresso do Brasil na aprovação da Reforma Tributária e no fortalecimento do arcabouço fiscal, diminuindo a percepção de risco. A inflação atual tem se mantido controlada, embora esteja concentrada em itens voláteis.
Queda da inflação e contribuição da redução da Selic
Devido à menor inflação acumulada em 12 meses desde setembro de 2020, tanto o governo, empresários e centrais sindicais estavam pressionando por uma redução da Selic. É fato que a queda da inflação foi um grande motivador para a queda observada na taxa.
Uma das vantagens do atual declínio na taxa Selic, considerando o contexto dos últimos anos, é que a abordagem conservadora do Banco Central contribuiu para reduzir a inflação. Se a redução tivesse iniciado no início do ano, a economia, que já está projetada para crescer acima de 2% neste ano, poderia ter se expandido ainda mais.
Maior acessibilidade ao crédito com a taxa Selic em queda
A redução da taxa Selic terá um impacto significativo na economia real a longo prazo. Possibilitando financiamentos mais acessíveis para automóveis e imóveis. Além disso, tornando a compra de móveis e eletrodomésticos mais viável, com parcelas mais fáceis de encaixar no orçamento doméstico. Portanto, essa redução trará benefícios notáveis para diversos setores.
Espera-se que o crédito imobiliário, relacionado ao setor moveleiro, seja beneficiado com o declínio da taxa Selic. No entanto, é importante ressaltar que o impacto dessa redução não será imediato, pois a taxa de financiamento abrange uma série de outros encargos além da Selic.
Estímulo à economia moveleira com a redução da Selic
A redução da taxa Selic impulsiona a circulação do dinheiro e estimula o crescimento da economia. O cenário atual do país é positivo, principalmente devido à queda do desemprego e à melhoria da classificação de risco do Brasil pela agência Fitch.
É fato que com a queda da taxa Selic, há estímulo ao setor moveleiro devido ao aumento do consumo e do crédito. Contudo, cabe também mencionar que o desempenho do varejo no país está mais ligado à gestão. Temos um cenário de aumento da capacidade de produção das indústrias, em função da demanda que aconteceu durante a pandemia.
Além disso, quando se pensa em uma situação de alta de juros e uma concorrência mais acirrada, com consumidores comprando mais barato, os lucros tendem a ser menores ou acabar. Com a taxa de juros mais baixa, será possível um incremento de vendas mais pulverizado devido ao maior consumo.
Escreveu esse artigo:
Renan LuquiniEconomista (Corecon 8231) atuando como consultor econômico-financeiro há mais de 8 anos;
Professor e tutor nas áreas de economia, finanças e data science em instituições como USP/Esalq, Cogna e UEL;
Membro do Tribunal Administrativo de Recursos Fiscais (TARF) da prefeitura de Londrina-PR;
Especialista em Economia e Finanças pela UENP e Mestre em economia pela UEL.