Quedas demográfica e de natalidade podem impactar na demanda por móveis infantis?

Quedas demográfica e de natalidade podem impactar na demanda por móveis infantis?

A população mais velha está vivendo mais, e a população mais jovem não deseja mais ter filhos. É o que indica a última atualização do Censo 2022, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados revelam que, nos últimos 12 anos, a taxa média de crescimento anual da população foi de 0,52%, a primeira abaixo de 1% desde o início dos levantamentos em 1872.  Esse número acende um alerta para as estratégias de vendas das empresas moveleiras que têm como nicho de atuação o mercado infantil.  

Estudos também já revelaram que a taxa de fecundidade (número médio de filhos nascidos vivos)  em território brasileiro vem diminuindo de forma significativa. Na década de 60, por exemplo, essa taxa estava em torno de seis filhos. Enquanto na década de 80, eram quatro filhos e no ano de 2000, essa taxa era de 2,2. Embora a taxa de fecundidade do Censo 2022 ainda não tenha sido divulgada, estimativas mais otimistas do IBGE indicam que ela chegaria a 1,75 em 2023. 

Em sua última estimativa, o Instituto também indicou que seríamos 207,8 milhões de brasileiros, no entanto, o censo demográfico aferiu que somos 203,1 milhões, número muito menor do que o projetado. 

Mudança no perfil dos consumidores de móveis infantis

São vários os motivos pelos quais os jovens estão optando por ter menos ou não ter filhos, desde preocupações com o meio ambiente até receio de grandes responsabilidades. Contudo, questões econômicas e relacionadas ao poder aquisitivo são apontadas como as principais razões.

O CEO e fundador da fábrica de móveis infantis Carolina Baby, Aureo Barbosa, que também é presidente do Intersind – Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá (MG), enxerga essa situação como “mais um desafio para aqueles que se aventuram neste mercado, cada vez mais exigente por qualidade e bom atendimento”, disse. “Além da queda de natalidade, fatores econômicos sociais afetaram o consumo de produtos de preços mais baixos. A queda do poder de compra nos impõe rever conceitos e projetos mais enxutos, mas que atendam os quesitos de segurança”, destaca. 

Áureo Barbosa, CEO e fundador Carolina Baby.
Áureo Barbosa, CEO e fundador da Carolina Baby.

Fenômeno histórico e sazonal

Segundo Aureo Barbosa, em números absolutos o mercado em geral se mantém potencialmente ativo, o maior problema neste momento estaria relacionado ao poder aquisitivo. “Historicamente esse fenômeno é sazonal, pois o envelhecimento da população de idade fértil faz com que essa curva se reverta periodicamente em números absolutos. É um ciclo de não mais que 20 anos, e o crescimento volta naturalmente. Temos registros de países que atualmente estão incentivando casais a terem mais filhos, sob pena de redução drástica de sua população no futuro”, afirma.

Essa mudança de comportamento também trouxe um novo arranjo no mercado de fornecedores, destaca Áureo Barbosa. “Os consumidores finalmente viram o quão sério é a questão da segurança nos móveis infantis, em especial quanto aos berços de uso doméstico, e por isso procuram por marcas que tenham certificação do Inmetro neste quesito”, disse.

Para o CEO da Carolina Baby, houve uma mudança no comportamento do mercado em geral. Seja  preferências por tipo de produto, ou via de acesso a compras, por exemplo. “Com a demanda  momentaneamente menor, tivemos que usar da criatividade para fidelizar a marca junto aos nossos consumidores finais”, informa Aureo.

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Previsão de impacto a médio e longo prazo

Para o gerente de marketing e desenvolvimento de produtos da Móveis Estrela Baby, Henrique Estrada Raséra, é importante ficar atento às mudanças de mercado. “A princípio, essa queda não é sentida de imediato, mas temos que entender que a população não está se preocupando mais em ter filhos. Observamos uma taxa de natalidade menor do que antigamente, e isso irá impactar na demanda por móveis infantis no médio/longo prazo”, afirma.

Henrique Estrada Raséra, gerente de marketing e desenvolvimento de produtos da Móveis Estrela Baby.
Henrique Estrada Raséra, gerente de marketing e desenvolvimento de produtos da Móveis Estrela Baby.

Raséra também destaca que as famílias estão se preocupando mais com a qualidade e segurança dos produtos, bem como com a sua funcionalidade. “Os móveis não são mais objetos comprados por impulso, até por terem um valor agregado alto para muitas famílias, então é uma compra muito mais pensada e estudada. Portanto, móveis multifuncionais, que se transformam com o desenvolvimento e o crescimento da criança, têm ganhado espaço na escolha das famílias”, disse.

“No momento não conseguimos sentir essa queda, mas como dito é algo para ficarmos observando e pensarmos em estratégias para o futuro, pois vemos que as famílias estão tendo menos filhos e também tendo filhos mais tarde do que antigamente”, pondera.

Fatores econômicos e culturais associados

Além da redução no número de nascimentos, fatores sociais, econômicos ou culturais contribuem para a queda na demanda por móveis infantis. “Além do endividamento recorde da população que faz com que as famílias pensem em não ter filhos, outro fator observado é a troca de produtos”, observa Raséra. Pois sendo o berço, um móvel pouco utilizado, ele pode ser trocado ou vendido, gerando renda para as famílias ou passando por gerações. “Sites como Mercado Livre, OLX além das redes sociais facilitaram muito essas transações, fazendo com que muitas famílias, principalmente de baixa renda, optassem por esta modalidade de compra”, afirma.

No entanto, o gerente e marketing também avalia o momento como algo passageiro. “Assim como foi nos países da Ásia e agora o governo está fazendo campanhas para que as famílias tenham mais filhos, aqui isso também pode acontecer, mas como dito, isso é algo de longo prazo que no meu ponto de vista demora gerações para se ajustar”, considera.

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